terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Evolução táctica


Para além de uma boa execução técnica e uma notável forma física dos futebolistas, não desprezando obviamente o “peso” da estratégia, o mais relevante numa equipa de futebol é, sem dúvida, o “sistema de jogo” ou a “táctica adoptada”, uma vez que é ela que vai ordenar e comandar as movimentações da equipa no terreno.
Inicialmente, as equipas não tinham o menor sentido táctico. Sem plano nem sistema, o objectivo, primordial, era atacar e fazer golo. Eram constituídas, praticamente, pelo guarda-redes e dez avançados. Com o passar dos anos o jogo tornou-se mais organizado e as alterações na regra do “off-side” fizeram com que os jogadores se espalhassem mais pelo terreno. Surgiu, assim, o 1º Sistema, o 2-3-5, conhecido pelo “Sistema Clássico”. Foi a partir deste sistema que evoluiu o famoso “WM”, criado em 1926, por Herbert Chapman “manager” do Arsenal, o qual resultou, mais uma vez, de nova alteração à lei do “fora-de-jogo”. De facto, a exigência que o atacante tivesse dois adversários entre ele e a linha de baliza “obrigou” ao recuo do médio-centro, com a missão de “marcar” o goleador da equipa contrária.
O “WM” só foi abandonado quando, na década de 50, o treinador vienense Karl Rappan inventou o “ferrolho suíço”, e os húngaros adoptaram o 4-2-4, colocando o médio-de-cobertura a fazer o “duplo stopper” com o médio-centro, em tarefas de marcação aos avançados.
A evolução do futebol, cada vez mais preocupado em ocupar a zona central do terreno, fez surgir um novo esquema, o 4-3-3, no qual o papel dos defesas-laterais passou a ser mais importante, pois para além de defensores passaram a ser transportadores de jogo, avançando frequentemente como autênticos médios-ofensivos. O 4-3-3 deu lugar ao 4-4-2, sistema baseado numa defesa de quatro elementos protegidos por quatro médios, onde os médios-alas têm as funções de atacar e colocar a bola em dois avançados, poderosos e se possível concretizadores. No início dos anos 90, surgiu o 3-5-2, com dois centrais de marcação e um “libero” que, para além de defender, é o iniciador da ofensiva.
O famoso “losango” passou estar na moda, já no presente século. Constituído por quatro médios-centro em que um deles desempenha o papel de “trinco” e um dos restantes faz de médio-ofensivo com a missão de apoio aos dois avançados, de preferência pouco fixos, é um sistema que proporciona espectáculos pouco agradáveis, devido à concentração de futebolistas no meio do terreno, conduzindo a um défice de linhas-de-passe.
Dois famosos e inovadores sistemas tácticos ficaram também na história do futebol: o celebre “catenaccio italiano”, desenvolvido por Helénio Herrera, onde cada jogador, excepto o “libero”, tinha a obrigação de marcar individualmente, e a não menos famosa “laranja mecânica”, de Rinus Michel onde não havia posições fixas, jogando-se um “futebol total” no “estilo carrossel”.
As tácticas que aparentemente pareciam estar assentes em bases duradoiras, não conseguiram resistir ás investidas sendo, passado mais de um século, a grande estratégia do futebol moderno.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Guarda-redes da minha infância


Foi através dos “bonecos da bola” que embrulhavam um caramelo e custavam a módica quantia de $10, que comecei a familiarizar-me e a idolatrar os protagonistas do “desporto rei” que, domingo a domingo, pisavam os muitos pelados e os poucos relvados, do País futebolístico de então.
Nomes sonantes, com apelidos curiosos e fora do comum, vêm-me à memória. São guarda-redes que, nos finais da década de cinquenta princípios dos anos sessenta, do passado século, defendiam as balizas dos clubes nacionais mais representativos.
Numa época em que os jogos não eram televisionados, a todos vi jogar. Ora na Tapadinha ora no Restelo, ao sábado à tarde nas reservas ou ao domingo nas primeiras categorias, onde catraio sedento de bola, me encostava, estrategicamente, junto à porta de acesso à bancada ou ao peão, mendigando um lugar com a salvadora frase: «Oh! Vizinho deixe-me entrar consigo». Anos mais tarde seria eu, já em Alvalade, gostosamente, a fazer de "vizinho".
Velhos tempos em que os meus ídolos “viviam” nos bolsos dos calções, em comunhão estreita com as “caricas”, ora a caminho da escola ora nas brincadeiras de fim de rua, que se estendiam até ao por do sol.
Recordo com saudade o Zé Pereira, o “pássaro azul”, famoso guardião de “Os Belenenses” e consagrado “magriço de 1966”, frequentador assíduo da leitaria, situada junto à praceta onde morava.
Vi jogar, vezes sem conta, o Bandola, o forte e eficaz guarda-redes do “meu” Atlético.
Estive no, ainda pelado, D. Manuel de Melo num Barreirense-Benfica onde o Bráulio, “encheu a baliza”.
As redes do Vitória de Guimarães eram ocupadas pelo Roldão, emancipado do F.C. Porto, escapando assim a tornar-se no eterno suplente do Américo, como viria a acontecer com o Rui.
Da “escola matosinhense” saiu o discreto Rosas. Uma vida dedicada ao “seu” Leixões.
Mesmo sem ser em época natalícia, o alto e esguio Filhó defendia com mestria o “time” do Olhanense.
Presença notável na “Briosa de todos nós” era a do Dr. Maló, o mais elegante “keeper” da época.
Aquele que, evidenciava mais coragem ao “sair aos pés” dos avançados chamava-se Vital e jogou no Lusitano de Évora e no V. Setúbal.
Um raro apelido, morava em Aveiro. Era o Violas, discreto guarda-redes do Beira-Mar.
Em terras do Sado e mais tarde no “Os Beleneneses” vi actuar o elástico Mourinho.
Na margem sul e nos “leões da Serra”, pontificavam os “gigantes” José Maria e Rita, respectivamente, na C.U.F. e no Sporting da Covilhã.
Dos outros, que não vi actuar, por pertencerem a gerações anteriores, fui construindo “lembranças” ao longo da vida, de tanto ouvir evocar e elogiar as suas qualidades.
Lamento, sinceramente, nunca ter presenciado actuações do grande João Azevedo, bem como do seu sucessor, no Sporting C.P. e na selecção nacional, Carlos Gomes. Também não cheguei a tempo de ver o Barrigana, "mãos de ferro" defender as balizas do F.C. Porto e do Cesário as do Sp. Braga. Do Ernesto do Atlético e do Sebastião do Estoril e Vitória de Guimarães. Do Capela campeão em 45/46 pelo “Os Belenenses”, e mais tarde "estudante" em Coimbra. Do Acúrcio, dividido entre o futebol e o hóquei em patins. E tantos outros que marcaram e dignificaram o futebol português.
Contudo, tive ainda o privilégio de ver defender a baliza do Atlético, clube do “meu bairro”, guarda-redes de inegável valor, como o Ramin, o Pinho e o Bastos, embora já veteranos, depois de brilhantes carreiras, respectivamente, na Académica, no F.C. Porto e no Benfica.
Por último, gostaria de recordar os dois mais categorizados e "marcantes" guarda-redes da época, Costa Pereira e Carvalho, internacionais portugueses, que permaneceram mais que uma década ao serviço dos rivais lisboetas.
Mais tarde, José Henrique, Damas, Bento e Vítor Baía, marcariam novas gerações de guarda-redes do futebol português.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"Special One", too.


Com excepção da sorte, do azar e, ocasionalmente, da “protecção divina”, conheço apenas duas fórmulas de uma equipa se tornar candidata à conquista de importantes competições desportivas. Talvez a minha ignorância venha a ser atenuada, depois de ler o livro de José Veiga.
Uma consiste em formar um conjunto equilibrado com futebolistas, com capacidade acima da média, que com treino adequado adquirem a mecanização e as “rotinas de jogo” necessárias.
A outra possibilidade passa por dispor de um plantel de baixo investimento, com jogadores de índice técnico mediano, mas em contrapartida optando pela contratação de um treinador experiente, perspicaz, astuto, que saiba “ler o jogo” e actue com rapidez e sagacidade, através de substituições oportunas ou com alterações táctico-estratégicas, eficazes. O que se apelida de uma “velha raposa”.
O Chelsea de José Mourinho foi um misto dos dois conceitos, pois conseguiu juntar um técnico inteligente e arguto a um plantel de futebolistas de eleição e não surpreendeu que, após o seu abandono do clube londrino, a opinião pública em geral tivesse augurado um futuro pouco risonho para os “blues”.
Só que o primeiro modelo também pode ser verdadeiro, e um plantel constituído com jogadores internacionais por diversos países, de categoria reconhecida, dirigidos por um técnico como Avram Grant, que não “inventa” novas estratégias e mantém a opção táctica há meses consolidada, e cuja principal preocupação foi dar tranquilidade e equilíbrio à equipa, conduz aos resultados que se conhecem.
Considerado à partida como um técnico interino e de “passagem”, desde Setembro que, o israelita só conheceu o sabor da derrota no jogo de estreia em Old Trafford, frente ao actual campeão Manchester United e na casa do “líder” Arsenal, onde o Chelsea, devido a múltiplas lesões no seu plantel, entrou em campo bastante desfalcado.
Sem se lamentar de ter herdado um conjunto de jogadores não escolhidos por si, e com quase uma vintena de jogos disputados e apenas duas derrotas, ocupando o 3º posto da Liga Inglesa, não surpreendeu que Abramovich celebrasse um contrato de quatro anos, com o antigo seleccionador de Israel.
Another “Special One”, in Stamford Bridge?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Auto-exclusão



Todos aqueles que se encontram identificados com o fenómeno desportivo, nomeadamente o futebol, previam a rejeição de José Mourinho ao convite da FA, para o desempenho do cargo de seleccionador inglês.
Sabendo-se da perspicácia do técnico português e do estatuto que goza, presentemente, em Inglaterra devido aos títulos conquistados nas últimas épocas, ao serviço do Chelsea, facilmente se concluiria que Mourinho não iria, a curto prazo, correr o risco de hipotecar o prestígio granjeado.
Treinar uma selecção não é o mesmo que uma equipa de clube, para mais quando se trata da selecção inglesa onde a margem de exigência, em termos de resultados, é enorme e grande parte dos futebolistas que a representam, não evidenciam qualidade suficiente para tamanhas aspirações.
Já nos tempos áureos do Chelsea, o técnico afirmava que só equacionaria treinar uma selecção, nomeadamente, a portuguesa a partir dos 50 anos, até lá o objectivo passaria sempre por orientar uma equipa de clube, pois tinha necessidade de sentir o pulsar do balneário, o cheiro da relva, o convívio diário com os futebolistas e do confronto, permanente, com os principais opositores.
Mesmo com o apoio da maioria dos agentes do futebol da Velha Albion, Mourinho tomou a decisão mais sensata, para desilusão dos media britânicos que já sonhavam em ser “alimentados” com as habituais guerras de palavras, como nos tempos de glória do Chelsea. Mourinho sabe melhor que ninguém que, não poderia utilizar todas as suas “armas estratégicas” e que conferências de imprensa, antes dos jogos, jamais serviriam para desgastar a imagem dos adversários directos e respectivos técnicos. Responsabilizar árbitros e a programação dos jogos, deixariam de fazer sentido. Arrogância verbal e declarações bombásticas, num contexto de seleccionador, eram no mínimo descabidas.
Certamente, José Mourinho não perdeu a emotividade e a teatralidade que tão bem cultivou, num passado recente, e que tão bons resultados lhe têm dado, mas na versão de seleccionador, obviamente, toda a sua energia teria de ser canalizada e orientada noutras direcções. Iríamos conhecer um Mourinho mais “soft”, mais adulto e mais cordial, mas os resultados, provavelmente, não apareceriam como o desejado.
José Mário dos Santos Mourinho Felix, presentemente com 44 anos, tem outras ambições e o Barcelona e Milan estão na calha.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cautelas e caldos

Muito se tem opinado e especulado sobre a constituição do grupo A, da fase final do Euro 2008, onde Portugal se encontra inserido. A maioria das apreciações é de índole favorável classificando-nos, mais uma vez, como o principal favorito à conquista do lugar cimeiro do grupo. A adicionar a isto, alguns jogadores potencialmente seleccionáveis para aquele evento desportivo, também se manifestaram confiantes em conseguir a posição de liderança no grupo das quatro selecções, o que transmite desde logo, alguma crença nos seus atributos.
Contudo está-se mais uma vez a criar um ambiente de optimismo exagerado à semelhança do que aconteceu no Mundial de 2002, onde não éramos só favoritos à vitória do grupo, mas também, segundo alguns “experts”, ao triunfo final do torneio.
As analogias com o mundial de 2002, são por demais que evidentes. Começámos por defrontar os EUA e perdemos, inesperadamente. No próximo Junho o primeiro adversário será a Turquia. Bem mais complicado, pois possuiu características técnicas e um sistema de jogo que se “encaixam” no nosso, quase na perfeição. Como normalmente o primeiro encontro, em disputa, dá empate aconselha-se concentração e empenho. O segundo encontro naquele malfadado mundial foi com a Polónia. Era uma equipa sectorialmente desequilibrada, em fase de renovação, sem grandes aspirações. Agora temos de medir forças com outra selecção da Europa Central, a República Checa, herdeira natural da Checoslováquia, com um passado futebolístico invejável e exibindo, actualmente, um futebol organizado e vistoso, praticado por futebolistas oriundos dos melhores clubes europeus. Não vai ser “pêra doce”. Naquela fase final de 2002 de má memória, Portugal acabaria “às mãos” da selecção anfitriã, no caso a Coreia do Sul, equipa acessível, tal como a actual Suiça, mas perdeu por 1-0.
Acabaria por ser o fim da “geração d’ouro” do futebol português que regressou, inesperadamente e sem glória, a casa deixando para trás um rastro misto de indisciplina e desilusão.
Depreende-se que, cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Rosas em Janeiro?


Quando o Sporting, ainda, se encontrava balanceado em todas as “frentes” e empenhado na conquista dos troféus em disputa, o seu presidente sempre afirmou que não estavam previstas saídas e entradas no “mercado de Janeiro”.
Em entrevista recente o administrador (?) Carlos Freitas não escondeu a falta de euros disponíveis, nos cofres do clube, para “atacar” o “mercado de Inverno” e equilibrar o plantel.
Com o clube de Alvalade arredado do principal objectivo (conquista da Liga), eliminado da Liga Milionária e “atirado” para a Taça UEFA, com poucas possibilidades de êxito, estranha-se que os seus responsáveis, contrariando as posições anteriormente assumidas, se disponibilizem para adquirir três futebolistas (um defesa, um médio e um avançado) numa fase em que, objectivamente, o clube só tem reais possibilidades de conquistar a Taça da Liga.
Comprar só por comprar, tentando justificar a crise desportiva e iludindo sócios e simpatizantes com “reforços”, mantendo a mesma táctica e estratégia de jogo, parece não ser boa solução.
Reajustes de plantel, para distribuir mais umas comissões e prémios por bom desempenho, não é correcto.
Provavelmente, em Janeiro, o regaço leonino vai evidenciar “pães duros” em vez de “rosáceas” aquisições.