quinta-feira, 29 de maio de 2008

Pauleta verde?


Terminada a brilhante carreira, no futebol francês, Pauleta, segundo notícias vinculadas pela imprensa desportiva, prepara-se para assinar contrato com o Sporting.
Aos 34 anos, o melhor marcador de sempre da nossa selecção, encontra-se prestes a realizar um sonho antigo: alinhar por um clube português da I Liga.
Goleador nato, só com olhos para a baliza, a sua impressionante astúcia na ocupação de espaços na área adversária, permite-lhe jogar no limite do “off-side” e finalizar com tremenda eficácia.
No Sporting, por vezes, a história repete-se e depois de Fernando Gomes e Beto Acosta é Pedro Pauleta que se prepara para acabar, já trintão, uma carreira que o consagrou como um dos melhores marcadores da Europa.
Mas contrariamente ao sucedido com o "bi-bota" e o argentino, o êxito de Pauleta na equipa leonina não é garantido. A sua experiência e o faro pela baliza, reconhecidos em Espanha e França, onde representou clubes de nomeada, podem não ser predicados suficientes para “vencer” em Alvalade.
Jogador, tecnicamente não muito criativo, habituado a jogar de costas para a baliza, em sistemas tácticos onde se privilegia o 4-3-3 ou mais especificamente o 4-2-3-1, sente-se abandonado e a sua prestação torna-se menos produtiva, quando lhe faltam os extremos.
Ora extremos são algo que não tem existido no Sporting, de Paulo Bento, já que as últimas épocas têm sido preparadas segundo a lógica do “losango”, onde os dois ponta-de-lança são móveis, deambulantes, “descaindo” com frequência para os flancos.
Embora possuidor de grande sentido colectivo e precisão de passe, o açoriano é, contudo, um avançado-centro fixo não se adaptando, com facilidade, a desmarcações rápidas e flanqueadas, como é exigido, presentemente, a Liedson, Tiuí, Derlei ou Yannick.
De facto, Pauleta é, actualmente, um futebolista experiente, com grande visão de jogo e de remate forte e espontâneo, mas que dificilmente se adaptaria a um sistema de “bola corrida” e exigente poder de desmarcação, como o praticado pelo Sporting de Paulo Bento.
Com a táctica e a estratégia, escolhidas pelo técnico leonino, facilmente se conclui que, não seria só Pauleta que sentiria dificuldade em se “encaixar” na equipa sportinguista, também os ex-leões Quaresma, Simão ou, mesmo, Ronaldo dificilmente garantiriam a titularidade numa equipa onde os “alas” são uma “espécie” não contemplada, pelo sistema táctico escolhido pelo treinador do Sporting.

terça-feira, 13 de maio de 2008

As escolhas de Scolari



Após a divulgação, por Scolari, da lista definitiva de convocados para o Euro 2008, é por demais evidente que algumas vozes discordantes vão fazer-se ouvir. Gostaria também de tecer algumas considerações, à lista dos escolhidos.
Assim temos:

Guarda-redes:
Na baliza, e em face das últimas convocatórias não houve surpresas. Aqui, a admiração será não “entregar” a titularidade a Quim. Embora Ricardo tenha sido sempre a principal preferência do seleccionador, o certo é que, passou a fase final da Liga Espanhola sentado no banco dos suplentes, contrariamente ao que aconteceu com o calmo e, também, experiente guardião benfiquista, que manteve uma elevada bitola exibicional, durante toda a época.

Defesas:
Neste sector, a inclusão do esquerdino Jorge Ribeiro em detrimento de Caneira, faz sentido. O jogador do Valência nunca foi um “lateral puro”, e a pouca utilização no clube espanhol prejudicou a sua convocação. Como existem três laterais-direito, no grupo seleccionado (Bosingwa, Miguel e Paulo Ferreira), a escolha de Jorge Ribeiro terá significado, se for para jogar.

Médios:
Maniche é o grande ausente do grupo dos convocados. Não quero acreditar que seja um “ajuste de contas”, por parte de Scolari. O argumento da pouca utilização, no Inter de Milão, poderia até “jogar a favor” do atleta, uma vez que, dos centro-campistas seleccionados seria o que apareceria, na Suiça, menos desgastado. No entanto, e atendendo a que os trincos se encontram bem definidos (Petit e Miguel Veloso) o seleccionador, entre Maniche, Raul Meireles e João Moutinho só poderia escolher dois. E foi o que fez.

Avançados:
Na ausência de um nº 10, que funcionasse como opção para Deco, o seleccionador optou por eleger mais um ponta-de-lança. Discutível decisão, quando a táctica, normalmente, escolhida aposta num único avançado. Sabendo-se que, o “Plano B” contempla o posicionamento de Cristiano Ronaldo junto do avançado que joga mais em “cunha”, talvez fosse preferível “levar” mais um jogador do meio-campo, uma vez que, o esquerdino Veloso poderá, também, ser opção para a esquerda da defensiva.

Em termos genéricos, a convocatória de Luiz Felipe Scolari “fugiu” pouco do previsível, com a excepção da exclusão do experiente Maniche, substituído por um avançado-centro.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Rescaldo 2007/2008


V. GUIMARÃES (3º): Regressado da Liga Vitalis o Vitória de Guimarães fez uma campanha brilhante, lutando até à última jornada pelo segundo posto e o acesso à Liga Milionária. Orientada por um técnico experiente e arguto e beneficiando da boa forma evidenciada pelo triângulo constituído pelo Geromel, Sereno e Flávio Meireles, a equipa vimaranense assentou grande parte do seu futebol na técnica e rapidez de Ghilas e no “omnipresente” Desmarets. Sabendo-se que, Mrdakovic e Roberto não evidenciaram qualidade suficiente para jogar na I Liga, até onde teria ido este Vitória se tivesse tido à sua disposição um ponta-de-lança eficaz?

BENFICA (4º): Com Chalana, no comando técnico do Benfica, a equipa regressou ao fracassado “losango”, já experimentado por Fernando Santos, e a uma estratégia (existiu?) pouco consistente.
Denotando uma falta de ambição confrangedora, com os futebolistas que pretendem abandonar o clube a não “meter o pé” e os restantes a não evidenciarem qualidade suficiente para representar um candidato ao título, o Benfica “fez” uma das piores épocas de sempre.
Numa temporada para esquecer, e onde só a águia Vitória mostrou constância exibicional, a categoria de C. Rodriguez, a “souplesse” de Rui Costa e a sobriedade de Quim conseguiram atenuar a deficiente qualidade de um plantel onde poucos mereceram envergar a camisola do “glorioso”.

MARITIMO (5º): Ao desmembramento do plantel da época transacta, fruto do abandono dos elementos que constituíam o “núcleo duro” da equipa, os dirigentes do Marítimo responderam, sabiamente, com a contratação de um técnico experiente com provas dadas, inclusive na selecção brasileira, para reformular a equipa e “atacar” uma campanha, que se previa penosa.
Apesar de, a meio da época, ter perdido a referência na área adversária (Makukula), a competência e a capacidade de liderança de Sebastião Lazaroni apoiadas na experiência e qualidade de jogadores como Marcos, Bruno, Van Der Linden e Mossoró, acabariam por colocar, inesperadamente, o Marítimo na Taça UEFA.

V. SETÚBAL (6º): Banhada pelo Sado, Setúbal é uma cidade onde as suas gentes, sempre que necessário, são o suporte sentimental do prestigiado Vitória. Mais uma vez isso aconteceu, e uma equipa com orçamento limitado, com dificuldades de tesouraria e onde grande parte dos futebolistas representaram o clube, na qualidade de emprestados, conseguiu ser a surpresa agradável do campeonato. Unidos em torno de um técnico que soube transmitir a mística suficiente para ir ultrapassando os obstáculos que iam surgindo, futebolistas como Eduardo, Matheus e Cláudio “Pitbull” não esquecerão tão depressa uma temporada onde, para além do merecido apuramento para a Taça UEFA conseguiram sair vencedores da primeira Taça da Liga.

SP. BRAGA (7º): Uma das grandes desilusões da Liga BWIN. Com um plantel reforçadíssimo, iniciou o campeonato com fundadas esperanças numa campanha de luta pelo apuramento para as provas europeias. Contudo, ao longo da época, as duas “chicotadas psicológicas” não surtiram o efeito desejado e as lesões em “jogadores-chave”, fizeram” o resto.
Num plantel recheado de elementos valorosos, poucos foram os futebolistas que se evidenciaram. De facto, só alguns elementos da defensiva, nomeadamente, João Pereira e o chileno Contreras ultrapassaram o escalão da mediania e, mesmo o goleador austríaco Linz, esteve bastantes “furos” aquém daquilo que se esperava.

BELENENSES (8º): A equipa de Belém foi a imagem do seu técnico. Disciplinada e competitiva, assentou o seu futebol, quase sempre, num meio-campo povoado, com os jogadores a jogarem muito próximo uns dos outros. Vocacionada para a exploração do contra-ataque e dispondo de futebolistas tecnicistas, a equipa adoptou uma estratégia de contenção tentando explorar a velocidade e o poder de choque de Weldon, para chegar às redes contrárias. Futebolistas como Júlio César, Rolando, Silas, José Pedro e o “artilheiro” Weldon podem aspirar a outras consagrações.

BOAVISTA (9º): Com o estigma dos salários em atraso a pairar sobre os jogadores axadrezados, só o “espírito guerreiro” de Jaime Pacheco ajudado pelo desempenho de jogadores como Jorge Ribeiro, do guardião Peter Jehe, e dos dois defesas-centrais, conseguiu disfarçar a instabilidade e as fragilidades evidenciadas por um plantel construído “ao Deus dará”. O abandono da família Loureiro, a chegada de uma direcção inexperiente, o assalto a que foi sujeito por indivíduos sem escrúpulos, provocaram uma crise directiva irreversível que “atirou” o clube do Bessa para uma posição indesejada e de futuro incerto.

NACIONAL (10º): Técnico inexperiente, Jokanovic não conseguiu transmitir à equipa a estabilidade emocional e competitiva de outras épocas. De facto, só na fase final da Liga a equipa do Nacional se conseguiu libertar do espectro da descida de divisão. Na fuga aos lugares de risco apoiou-se, principalmente, no talento de Juliano Spadacio, na qualidade do “keeper” reservista Rafael Bracalli e na eficácia de Fábio Coentrão.

NAVAL (11º): Uma época que começou em sobressalto, fruto de resultados pouco animadores, terminou de forma tranquila numa posição consolidada, entre os maiores do futebol português. A entrada de Ulisses Morais concedeu à equipa a disciplina e ambição necessárias, e a aquisição de Marinho, no mercado de Inverno, veio dar o irrequietismo que necessitava para discutir os resultados, com os adversários directos.

ACADÉMICA (12º): Mais uma época de incerteza e aflição. Quase sempre com o “credo na boca”, a equipa dos estudantes só conseguiu a manutenção já na fase final da temporada. O técnico Domingos Paciência, ao alterar com frequência a constituição da equipa, pouco contribuiu para a estabilidade do grupo de trabalho, onde apenas o veterano Pedro Roma e Luís Aguiar se mantiveram à altura dos pergaminhos da “Briosa”.

E. AMADORA (13º): Dauto Faquirá soube fazer a gestão e conduzir de forma equilibrada um plantel, de parcos recursos e onde o pesadelo dos salários por pagar esteve sempre presente. Equipa de baixo nível técnico, manteve-se, ao longo da temporada, homogénea e estável tendo sobressaído a experiência de Nelson, Maurício e Wagnão.

LEIXÕES (14º): Clube oriundo da II Liga, o baixo poder financeiro limitou a aposta em reforços mais credenciados. Talvez por este facto, “viveu” uma temporada futebolística de altos e baixos, sempre com a perspectiva de regressar ao escalão secundário. Só na última jornada conseguiu respirar fundo. A permanência entre os “grandes” do futebol português ficou muito a dever ao esforço de Jorge Gonçalves, Paulo Machado e, principalmente, das virtudes patenteadas pelo guarda-redes Beto.

PAÇOS DE FERREIRA (15º): Desta vez José Mota não conseguiu “fazer omoletas sem ovos”. Dispondo de um grupo de futebolistas com reduzidas capacidades técnicas e qualitativamente muito abaixo dos planteis que dispôs, em anteriores épocas, só o “apito final” poderá evitar a descida de divisão. Os jogadores que se evidenciaram foram os “suspeitos do costume”, nomeadamente, Peçanha, Edson, Pedrinha, Cristiano e o regressado Wesley.

UNIÃO DE LEIRIA (16º): A “morte” vinha sendo anunciada há algumas épocas. Com uma direcção, prepotente, que pouco aprendeu nas temporadas que passou na primeira Liga, sem evidenciar o mínimo de sensibilidade para lidar com os “problemas” do futebol, o destino há muito que se encontrava traçado. Os casos disciplinares que foram acontecendo, ao longo da temporada, e a dispensa de João Paulo, seu principal goleador, só vieram acelerar uma crise latente. Futebolistas como Fernando, Harison e Sougou não mereciam este desfecho, e por certo que outros “voos” os esperam.

As características e desempenho dos futebolistas que formaram os planteis do Sporting (2º) e do FC Porto (1º) foram, devidamente, escalpelizados nos “post” publicados, respectivamente, em 3 de Fevereiro e 9 de Abril, p.p.

domingo, 11 de maio de 2008

Ganhar à percentagem



Em face da condenação da Comissão Disciplinar da Liga o Boavista apenas conhece um caminho: a descida de divisão.
Embora a despromoção do clube tenha sido motivada por razões não desportivas, o certo é que os problemas financeiros, cada vez mais graves, que têm vindo a afectar o clube do Bessa, provavelmente, conduziriam ao mesmo desfecho.
A situação do Boavista, agravada com a actual direcção, é da responsabilidade dos indivíduos que a antecederam e deixaram o clube chegar à situação em que se encontra.
Pseudo-gestores que, deslumbrados pelo mediatismo que o futebol encerra, não se coibiram de “dar o passo maior que a perna”.
Bem curioso foi o que se passou no Boavista nos longínquos anos da década de quarenta, do século passado, onde os jogadores ganhavam consoante a receita dos respectivos jogos. Não tinham ordenado nem prémios. Deduzidos os encargos de organização dos desafios, as receitas revertiam totalmente para os atletas. Quando havia muito público, era certo que a satisfação dos jogadores era maior. Ganhavam mais...
O pior era quando as bancadas se apresentavam vazias...
O lucro do clube estava apenas na cotização.
Irrealista para os dias de hoje e reportando-nos aos números da época, podemos concluir que os dirigentes boavisteiros, afinal, não faziam má gestão, uma vez que os clubes pagam muito mais do que aquilo que recebem.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Governança


Alienar património não desportivo, com a justificação de reforçar (?) e tornar a equipa de futebol mais competitiva, não descortinando os caminhos do êxito, é no mínimo preocupante.
Contratar futebolistas a “custo zero” sabendo-se que, por este motivo, irão usufruir de vencimentos acima da média e que o rácio custo/prestação raramente compensa, é sinónimo de uma gestão pouco competente.
Dispensar jogadores formados nas camadas jovens, alguns dos quais para a principal Liga espanhola, compensando com elementos oriundos do futebol brasileiro, sem créditos firmados, não é de gestores hábeis.
Apostar num técnico inexperiente, e talvez por isso, com pouca flexibilidade táctica e muita obstinação, pode ser “barato” e pouco exigente, mas é de negligente gestão.
“Atirar” para o banco de suplentes, jogadores que após prestações bastante conseguidas, justificam a titularidade, é uma forma injusta e desmoralizante de gerir um plantel.
Negociar jovens promessas, por valores exorbitantes, e cujos montantes embolsados não se reflectem no financiamento de novas aquisições, é estranho e incompreensível.
A juventude da equipa não desculpabiliza nem “branqueia” uma gestão inoperante e desastrosa cuja argumentação de amortizar a divida existente, não é suficiente para iludir os mais cépticos.
De facto, com este “modelo de gestão” os principais rivais do clube de Alvalade podem continuar tranquilos, nas épocas futebolísticas que se avizinham.