quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Futebolices XII

«Foi uma transferência boa para mim. O Sporting não joga com extremos e o FC Porto joga». Explicou Diogo Viana, nova promessa dos dragões, formado em Alvalade.
Curiosamente, foi o 4-4-2 losango de Paulo Bento que o influenciou a rumar ao norte.
Fácil é constatar que o jovem tem toda a razão e que os consagrados, Nani, Simão, Figo, Quaresma e o World Player of the Year, Cristiano Ronaldo, pelo mesmo motivo, dificilmente teriam lugar no “onze” do actual treinador leonino.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Os melhores estrangeiros

Por iniciativa do jornal “A Bola”, com a colaboração dos seus fiéis leitores, encontra-se em fase de eleição os 10 melhores futebolistas estrangeiros, que jogaram em Portugal.
O critério adoptado, como todos os critérios de selecção, é discutível. Baseado em convites dirigidos a diversas personalidades, ligadas ao futebol, a pronunciarem-se sobre o tema, conduz a que, só os mais idosos terão a memória visual que compreende um período de análise superior a 50 anos, o que, à partida, condiciona a escolha. De facto, não existindo uma apreciação anterior a meados do século passado afasta da votação futebolistas com carreiras desenvolvidas nas décadas de 30 e 40, como aconteceu com argentinos, refugiados da guerra, Telechea, Tárrio e Scopelli que, na época de 1939/1940 se instalaram no nosso país, para representar o Belenenses. Gostaria de salientar que, o “el conejo” Alejandro Scopelli foi considerado por Carlos Miranda, consagrado jornalista de “A Bola”, quando directamente questionado sobre o assunto, como o melhor estrangeiro que alguma vez jogou em Portugal.
Com o início do período de análise localizado em meados de século passado, o critério aplica-se na perfeição, ao meu caso pessoal, uma vez que só comecei a frequentar os estádios no início dos anos 60. Por esse motivo, apenas “conheci” futebolistas como Di Pace, Jaburu e Seminário, através dos “bonecos da bola”, que enrolavam um caramelo de $10. Dos outros, que também não vi actuar, por pertencerem a gerações anteriores, fui construindo “lembranças” ao longo da vida, de tanto ouvir evocar e elogiar as suas qualidades. Lamento nunca ter visto actuar os brasileiros Osvaldinho, Vadinho ou Faustino no Sporting, o guardião húngaro Siska, Petrak ou Kordrnya no F.C. Porto, o fogoso francês Simony no Sp Covilhã ou o argentino Mário Imbelloni, futebolista de grande capacidade técnica que veio para Portugal depois de deslumbrar, numa digressão ao nosso país, do San Lorenzo de Almagro, nos anos quarenta.
Não olhando a clubes, posições ou nacionalidades, mas não sendo a ordem arbitrária, os meus preferidos dez futebolistas estrangeiros são:
Cubillas: A fama internacional, deste peruano, começou após ter brilhado no Mundial do México 70 onde, com 21 anos, marcou cinco golos e foi considerado o melhor elemento da sua selecção. Este acontecimento projectou-o, internacionalmente, e abriu-lhe as portas da Europa, tendo “entrado” através dos suíços do Basileia, onde o FCP o foi contratar, decorria o ano 1973.
Foi um dos mais fulgurantes jogadores sul-americanos e talvez o melhor jogador estrangeiro a jogar, em Portugal, onde em três épocas passeou a sua enorme classe. Com um domínio de bola impar, era disciplinado, nada egoísta, passava o esférico na perfeição, dando a sensação que as pernas funcionavam como compasso. Se juntarmos, a tudo isto, um poder de remate nada comum, Cubillas foi realmente um predestinado no futebol português.
Considerado o melhor jogador peruano de todos os tempos, quando partiu, para a sua cidade de Lima, deixou em todos os amantes do futebol uma profunda saudade e uma recordação eterna.
Curiosamente o futebol português conheceu, antes de Cubillas, outro grande jogador peruano: Juan Seminário. Era extremo-esquerdo, marcava também muitos golos, e todos aqueles que o viram jogar nunca mais o esqueceram.
Keita: O jogador do Mali foi o último fora-de-série a "passar" pelo Sporting. Ambidestro e com uma técnica apuradíssima era um goleador perigoso, graças à subtileza, ao poder de infiltração e à facilidade de remate. Campeão em França e em Espanha, respectivamente, ao serviço do Saint-Étienne, onde conquistou a “Bota de Prata”, no ano de 1971, e do Valência, lamenta-se só ter chegado ao futebol português à beira dos 30 anos e sofrendo os efeitos das marcações impiedosas a que foi sujeito, ao longo da sua carreira, responsáveis pelos frequentes afastamentos da equipa leonina. Nunca foi um jogador estático de fácil marcação e nos anos que esteve em Alvalade, fez mexer toda a “máquina” sportinguista, ora rubricando jogadas de efeito espectacular, ora proporcionando aos colegas excelentes condições de golo e, principalmente, como emérito rematador.
Yazalde: Cresceu em Abellaneda, bairro pobre de Buenos Aires, e estreou-se pelo Sporting, no Rio de Janeiro, contra o Vasco da Gama. Quando chegou a Lisboa, Yazalde foi recebido com a maior expectativa mas, durante cinco meses, este internacional argentino pouco mais fez do que seguir um regime de ambientação. Realizou apenas dois jogos e passou quase despercebido. Depois, semana a semana, toda uma série de actuações a justificar a fama de goleador.
Tratado carinhosamente por “chirola”, moeda argentina de pouco valor, alcunha que ficou dos tempos em que vendia jornais nas ruas de Buenos Aires foi, em 1973/1974, consagrado como o melhor marcador da Europa com um “record”, que ainda se mantém, de 46 golos marcados no campeonato. Seria o primeiro futebolista leonino a conquistar a “Bota de Ouro” e nunca mais seria esquecido em Alvalade. Ai que saudades!
Madjer: Este argelino chegou a Portugal, no início da temporada 1985/1986, depois de em França quase ter fracassado, no Matra Racing. Ao serviço do F.C. Porto depressa revelou todo o seu talento. Sendo um fantasista era um jogador que fazia a diferença, um verdadeiro artista. Tinha quase tudo. Capacidade física, técnica e inteligência. O golo de calcanhar, na final de Viena, só estará ao alcance de um predestinado para o futebol.
Osvaldo Silva: Quer como “armador”, quer como ponta-de-lança ou extremo, este brasileiro de Belo Horizonte, mostrou a sua classe, alicerçada numa técnica apuradíssima, pelos campos do país durante, aproximadamente, dez temporadas. Entrou no futebol português pelo FCP, onde venceu um campeonato e uma Taça de Portugal. Depois de três épocas, no Leixões, onde venceu mais uma Taça de Portugal, ingressou no Sporting, tendo sido um dos protagonistas na cavalgada heróica para a conquista da Taça das Taças. Com uma queda especial para o golo solitário e decisivo, por diversas ocasiões a sua actuação foi determinante nos êxitos alcançados pelo clube de Alvalade, tendo, inclusive, sido o herói do jogo em que o Sporting conseguiu inverter a eliminatória frente ao Manchester United, marcando três dos cinco golos dos “leões”.
Luisinho: Jogou no Sporting entre 1989 e 1992. Chegou já consagrado e depois de ter disputado o Mundial de 1982, em Espanha, onde fez parte da segunda melhor selecção do mundo de futebol, depois do Brasil de 70. Jogador fino, este defesa-central brasileiro, fazia lembrar o “nosso” Vicente de 1966. Raramente perdia uma bola dividida, saindo sempre com ela controlada, das situações mais complicadas.
André Cruz: Jogador de comprovada classe futebolística e um dos poucos brasileiros que esteve presente na selecção do seu país, em todos os escalões. Com grande sentido de colocação, este central brasileiro parecia “cortar” as linhas-de-passe, da equipa adversária, com um leve movimento dos olhos. Tendo sido uma aposta no “mercado de Inverno”, depressa se transformou no esteio da defensiva leonina e numa mais-valia nos lances de “bola parada”, especialmente, na execução de livres-directos, perto da área adversária. Sagrar-se-ia campeão nacional, após 18 anos de jejum por parte do clube verde e branco.
Jardel: Não sendo um virtuoso era de um oportunismo e de um sentido de posicionamento, na área adversária, notáveis. Com o pé ou com a cabeça o golo aparecia com naturalidade. Estava-lhe no sangue. Servindo-se da sua elevada estatura e de uma capacidade de elevação impressionante, parecia que a testa atraía o esférico, e em quatro épocas no F.C. Porto marcou mais de 150 golos. Mais tarde, como jogador do Sporting, ganharia a “Bota de Ouro”, tendo sido o melhor marcador da Europa, com 42 golos.
Lamenta-se o abandono, precoce, do futebol português, por razões extra desportivas, quando ainda tinha muito para conquistar, individualmente, e a “dar” ao futebol.
Balakov: Com uma capacidade técnica apuradíssima, este búlgaro chegou ao Sporting no início dos anos 90. Nas cinco épocas que representou o clube, foi evoluindo de forma incrível, transformando-se no “patrão” da equipa e num jogador de eleição, tendo sido considerado como um dos futebolistas que mais classe revelou, no futebol nacional.
O seu pé esquerdo fazia maravilhas e as suas “assistências”, normalmente, terminavam em golo. Acabou por rumar ao Estugarda onde foi considerado o melhor médio da Bundesliga, durante algumas épocas.
Mozer: Antes de ingressar no Benfica este central brasileiro tinha jogado no Flamengo e na selecção brasileira. Era um "senhor" jogador, com condições físicas excepcionais. Como central era um fenómeno, tendo-se imposto no Benfica com toda a facilidade. Rápido na recuperação, forte e eficaz, na marcação era ainda dotado de um excelente jogo aéreo. Depois de transferido para o Olympique de Marselha, onde deu continuidade à sua brilhante carreira, regressou ao Benfica para ser campeão, na época 1993/1994.
Alguns futebolistas não incluídos na lista dos dez melhores merecem, também, algumas considerações.
Estranha-se que o paraguaio Gonzalez, que jogou no Belenenses e no F.C. Porto não tenha sido referenciado na eleição de “A Bola”, não só por ter tido um excelente pé esquerdo, mas também pelo desempenho e pelos golos que apontou, ao serviço dos clubes que representou.
Também o goleador Flávio, “estrela” do Fluminense, antes de chegar às Antas, que já tinha brilhado na selecção do Brasil, deveria ter merecido citação, bem como os “matadores” Azumir, Djalma e Duda, todos com relevantes carreiras, no clube azul e branco.
E o Deco? E o Pepe? Antes de serem naturalizados “entraram” no futebol português como estrangeiros. Deveriam fazer parte da selecção dos melhores? Tal como Lúcio e David Julius, centrais leoninos da década de sessenta que nasceram, respectivamente, no Brasil e na África do Sul mas que chegaram a representar a selecção portuguesa?
Nota: Não será por mero acaso que a minha selecção dos “10 +” contempla 5 futebolistas passados pelas fileiras do Sporting, dois pelos quadros do F.C. Porto e dois que estiveram em ambos os clubes, sendo apenas um (Mozer) o futebolista que pertenceu ao plantel encarnado. Tal facto resultou de o Benfica, só em finais dos anos 70, “ter aberto” as portas a futebolistas estrangeiros, contratando o brasileiro Jorge Gomes.