domingo, 29 de novembro de 2009

Futebolices XIX

No final do “derby” da capital e após ter empatado (0-0) em Alvalade, o treinador do Benfica Jorge Jesus foi lesto em afirmar: «Resultado é melhor para nós, Sporting está fora do título».
De facto, Jesus tem razão quando classifica de um bom resultado o empate no campo do principal rival, contudo era previsível o equilíbrio de forças e a dificuldade que o Sporting iria sentir em “chegar” ao golo. A ausência forçada de Luisão foi trunfo importante para os benfiquistas que, assim, não passaram pela humilhação de ver Liedson, mais uma vez, “fazer gato-sapato” do seu compatriota e concretizar com relativa facilidade.
Já a segunda parte da frase não encerra a mesma carga de certeza, uma vez que, o Sporting não está tão fora da corrida para a disputa do título nacional como o Benfica de vencer a Taça Portugal, depois do V. Guimarães lhe “ter feito a folha” (0-1), na sua própria casa.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

2º Aniversário

Com uma temática extremamente restritiva e dedicada, exclusivamente, ao fenómeno futebolístico, faz hoje dois anos que, neste blogue, foi publicado o primeiro “post”.
Funcionando como “hobby”, para o autor dos textos, e continuando a atrair os habituais visitantes, existe a promessa que, no futuro, os comentários e reflexões manter-se-ão em torno do futebol.
Com uma frequência, aproximada, de dois mil visitantes/ano poderá parecer uma média baixa, mas atendendo à diminuta publicitação e à forma como foi direccionado o blogue, apenas divulgado entre amigos e conhecidos, o propósito está a ser plenamente conseguido.
Talvez por deformação clubista, os temas abordados têm sido um pouco repetitivos, privilegiando-se as incidências e os assuntos relacionados com o clube ao qual o autor se encontra vinculado afectivamente.
Também o seleccionar nacional de futebol não tem sido poupado e, provavelmente, massacrado excessivamente. Mas a sua aptidão para o lugar que desempenha, também não é muita.
O responsável pelo blogue, com algum atrevimento e talvez com pouco sentido das limitações, sabendo que é do agrado de quem lê, tem teorizado sobre alguns princípios técnico-tácticos do futebol, sempre na perspectiva de acrescentar algo de didáctico e proveitoso.
Por fim uma palavra de agradecimento a todos aqueles anónimos (os comentários não aparecem) que têm tido a paciência de visitar e de ler alguns dos longos textos publicados que, com a sua atitude, continuam a dar força e a manter viva “a chama que alimenta este espaço”, o qual pretende afirmar-se pela isenção e frontalidade nos temas focados.

domingo, 15 de novembro de 2009

Futebolices XVIII

Todos sabemos que o futebol português é fértil em originalidades.
Mas é difícil de encontrar justificação para o risco que o Sporting iria assumir, numa altura tão conturbada, ao contratar o jovem André Villas-Boas, como técnico principal da sua equipa de futebol.
Treinador à pouco mais de um mês, o seu palmarés está limitado à colaboração com José Mourinho na observação e avaliação das equipas adversárias.
Concluído o curso de treinador de futebol de 4º nível, na Escócia, Villas-Boas nada mostrou. Pelos vistos “viver” na envolvente do "special one" é “meio caminho andado” para se ter uma “grande saída”, como técnico futebol.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Abandono com tranquilidade

O elevado profissionalismo, o carácter, a coerência e a frontalidade não são predicados suficientes para se conseguir êxito no futebol. Não sendo menos competentes, rigorosos e exigentes que Paulo Bento, os ex-técnicos leoninos como Fernando Vaz, Mário Lino, Rodrigues Dias, Fernando Mendes ou Augusto Inácio também viram os seus contratos interrompidos, devido à sentença dos resultados, mesmo depois de terem conseguido o título nacional.
Contrariamente ao que aconteceu com aqueles vitoriosos técnicos, Paulo Bento pode-se considerar um privilegiado pois chegou ao comando técnico da principal equipa de futebol, de um clube com a grandeza e aspirações do Sporting, pela mão do então presidente Soares Franco, sem experiência, sem a maturidade necessária para o lugar e com um curriculum quase nulo (treinou uma época a equipa de juniores).
Consciente da ausência de traquejo e evidenciando os naturais complexos de afirmação, não descansou enquanto não afastou os capitães Beto e Sá Pinto, tendo utilizado conflitos pontuais, provavelmente evitáveis, com Liedson, Vuckevic, Polga, Stojkovic e Miguel Veloso, para se continuar a impor, no grupo de trabalho.
Também não foi inteligente na forma e no estilo de discurso escolhido para manifestar o descontentamento em relação às arbitragens, originando polémicas e deteriorando a sua própria imagem e a do clube que servia.
Usando de um autoritarismo exagerado e transparecendo um “ar”, quase sempre, amargo e sisudo, a imagem de liderança que tentou “passar” terá dificultado a união com o grupo de trabalho aumentando, perigosamente, o distanciamento entre a equipa e o técnico.
As quatro taças que conquistou (duas Taças de Portugal e duas Supertaças), em quatro épocas, não ofuscaram a ausência do principal titulo nacional (Liga) nem fizeram esquecer as goleadas verificadas nas competições europeias.
Embora louvável o lançamento de futebolistas, formados nas camadas jovens do clube, o reinado de Paulo Bento fica marcado pela ideia de que não procedeu a uma gestão adequada do grupo de futebolistas ao seu dispor, permitindo pensar que a motivação e o esforço para a realização de objectivos, são deveras influenciados por uma gestão desadequada ao fim que se pretende atingir.
Sabendo-se que, “pecare”, em latim, significa, nem mais nem menos, que “errar”, não é difícil identificar alguns dos principais pecados, do ex-treinador do futebol do Sporting e compreender o motivo pelo qual o clube de Alvalade, nas últimas temporadas, tem estado afastado dos principais títulos, com as nefastas consequências que se conhecem.
Um pequeno exercício de reflexão, permite identificar algumas das causas que levaram ao desempenho desadequado do ex-técnico:
- Quatro épocas em Alvalade, em que a qualidade de jogo praticado não convenciam, os mais optimistas. Raramente se presenciava uma jogada com princípio, meio e fim;
- A rotatividade na constituição das equipas não transmitia a confiança necessária aos futebolistas e prejudicava a mecanização do futebol praticado;
- Alterações constantes das posições dos jogadores que, durante um jogo, tinham que desempenhar várias funções;
- Doentia aposta numa rigidez táctica e num fastidioso “losango”, servido por futebolistas com características pouco adaptáveis ao “sistema” e que não deu os resultados esperados;
- Plantel formatado para um único plano de acção (táctica do losango), não permitindo alternativas nem a consolidação de um plano B. Vai ser a grande “dor de cabeça” do futuro treinador;
- Incompreensível a recomendação para o recrutamento de futebolistas (Rochemback e Postiga), cujas qualidades não se “encaixavam” no “seu losango”;
- Amuos e birras que tinham como principal objectivo a criação de anticorpos que, provavelmente, serviram para ofuscar as suas incapacidades e os resultados menos favoráveis;
- Aconselhamento/consentimento nas aquisições de Caicedo, Ângulo, Caneira, Pedro Silva para não referenciar Bueno, Ronny, Gladstone, Marian Had, Farnerud, Romagnoli, Celsinho, Purovic, e Rodrigo Tiuí.
- Apostou na formação que o acompanhou dos juniores. Na época 2008/2009 o Sporting também foi campeão nacional júnior e Paulo Bento não foi expedido a aproveitar qualquer elemento, tendo “mandado” os campeões "rodar" no Real de Massamá.
O orçamento e a qualidade da equipa não podem ser o bode expiatório dos maus resultados, sabendo-se que, o Sporting se encontra, na tabela classificativa, atrás de clubes com orçamentos muito mais limitados, com a vantagem de possuir um plantel constituído por futebolistas na sua maioria internacionais.
A frontalidade de Paulo Bento levou-o a confessar que esteve quatro meses a mais no Sporting. De facto, só Bettencourt não se apercebeu que o tempo de Paulo Bento se tinha esgotado, no final da época passada.
Também não se entende a atitude de alguns “notáveis” que continuam a afirmar que Paulo Bento não era o problema mas a solução, quando a equipa se encontrava quase a meio da tabela, exibindo um futebol lastimável.
Espera-se que, com José Eduardo Bettencourt, o Sporting não se esteja a “Belenizar” mas a “Atléticanizar-se”, como o simpático clube de Alcântara que, actualmente, disputa a II Divisão nacional.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O "losango" segundo Jesus

As leis que regem o futebol estabelecem que o jogo é praticado por onze jogadores de cada lado e que um deles, chamado de guarda-redes e equipado de maneira diferente, goza da prerrogativa especial de poder jogar com as mãos, dentro da grande-área. As mesmas leis nada referem relativamente ao posicionamento dos jogadores no terreno de jogo, à existência de defesas, médios ou avançados, nem ao modo como se joga, pelo chão ou pelo ar, em passe curto ou em passe longo, nem às movimentações defensivas ou ofensivas.
Não é possível passar ao lado da evolução estratégica do futebol, sem abordar o seu elemento fundamental: a colocação dos jogadores no terreno de jogo. Progressivamente, “arrumar” os futebolistas provocou o desaparecimento do jogo instintivo e desconexo e fortaleceu o entendimento entre os seus elementos desenvolvendo o espírito de equipa.
Ao longo dos anos, e fruto da imaginação e experiência dos técnicos do futebol, foram sido criadas as tácticas e surgiram os “sistemas de jogo”, ajustados tanto às características dos futebolistas que compõem a equipa como às características do adversário que defrontam.
Pode dar-se liberdade e valorizar as iniciativas individuais dos futebolistas, mas a estratégia e a forma como os jogadores se combinam e associam e participam no trabalho de conjunto tem de existir em todas as equipas, sob pena de o futebol praticado se transformar numa anarquia de esforços descontrolados, de pontapé para a frente e de correrias desenfreadas. Sem técnica, nem táctica de jogo, sem princípios reguladores da utilização dos futebolistas, na manobra defesa-ataque, não podem existir grandes espectáculos e dificilmente se “chegará” ao golo.
Assim, não é de estranhar que, as “linhas-mestras”, que suportam a formação e estruturação de uma equipa de futebol, minimamente competitiva, assentem na escolha táctica, na estratégia e, logicamente, na qualidade dos futebolistas que a compõem.
Muitos técnicos portugueses, onde se incluem os treinadores dos dois principais rivais da capital, Paulo Bento e Jorge Jesus, fazem da utilização do 4-4-2, em losango, constituído por quatro centro-campistas colocados nos vértices de um losango imaginário, que avança e recua à medida que surgem adversários, o “modelo táctico” predilecto e a almejada chave para alcançar êxitos.
Como só por si, a escolha da “táctica do losango” não é, sinónimo de sucesso, a presente época na Liga tem mostrado como o Sporting e o Benfica conseguem resultados tão díspares, que os têm afastado na tabela classificativa.
O treinador Jorge Jesus pode evidenciar algumas lacunas, em termos comportamentais e/ou nível do trato pessoal, mas denota uma perspicácia fora do comum na aplicação do “célebre losango”. As provas dadas no Sp. Braga, na última temporada, estão a ser confirmadas no Benfica actual, ao invés do que acontece com o seu homologo, no clube de Alvalade.
Numa táctica tão exigente como a escolhida, os médios não poderão estar somente limitados a desempenhar o papel de ligação entre os defesas e os homens mais avançados terão, forçadamente, de ser os principais responsáveis pela introdução da dinâmica, profundidade e flanqueamento do jogo da equipa.
À semelhança do que aconteceu no Sp. Braga, na época transacta, onde os vértices laterais do losango eram desempenhados por dois elementos com as características de flanqueadores (Alan e César Peixoto), Jorge Jesus conseguiu transportar para o clube da Luz a mesma filosofia e interpretação táctica, servindo-se com mestria da elevada cultura e disciplina de Ramires e das qualidades galvanizadoras do extremo-puro, que é Di Maria.
Contrariamente aquilo que se passa no clube encarnado e após quatro época a implementar o mesmo sistema de jogo, Paulo Bento, por teimosia ou inexperiência ainda não conseguiu entender que João Moutinho no vértice direito do losango e Vukcevic no vértice do lado oposto, não conseguem imprimir ao futebol do Sporting a dinâmica ofensiva e vivacidade requeridas por um futebol com aspirações. De facto, João Moutinho e Vukcevic, vocacionados para jogar mais como médios-centro dificilmente poderão interpretar o papel de “alas”, de forma a alargar a frente de ataque e libertar os ponta-de-lança das marcações cerradas a que estão sujeitos, de forma a tornar o futebol leonino mais eficaz e produtivo.
Face ao exposto, poder-se-á concluir que, não deverá ser a táctica a impor-se aos jogadores mas o inverso, tornando-se primordial escolher um sistema e um plano estratégico de jogo adaptados às qualidades dominantes dos principais elementos que constituem a equipa. O mesmo sistema táctico, que “fabricou” uma grande equipa, pode, com efeito fracassar se for servido por outros intérpretes.