sábado, 27 de junho de 2009

Futebolices XVI

A contratação pelo Benfica de Saviola, ao Real Madrid, só é compreensível em virtude do clube da Luz viver uma fase pré-eleitoral.
Mesmo depois de uma época onde a aquisição de nomes sonantes se saldou em evidente fracasso (Ex.: Aimar, Balboa, Suazo, Reys, Carlos Martins, etc.), parece que o “espectáculo” vai continuar.
O jogador argentino, e à semelhança do que aconteceu com outros futebolistas, prometeu muito nas camadas jovens e na selecção sub-20 da Argentina, mas mostrou-se incapaz de confirmar todas as suas potencialidades quando confrontado com o futebol europeu, mais competitivo e exigente, nomeadamente, o que se pratica no Barcelona, Real Madrid, Mónaco e Sevilha, onde a sua passagem não foi além de um insucesso.
Bom tecnicamente mas frágil fisicamente, possui características muito semelhantes às do seu antigo companheiro no River Plate. Mais um Pablo Aimar a caminho da Luz.

domingo, 14 de junho de 2009

"Brilhantes gestores"

Já conhecíamos o “sacrifício” e dedicação de certos políticos que, abdicando de mordomias, renunciam a cargos em empresas privadas ou semi-públicas, principescamente remunerados, por vezes atirando para segundo plano o próprio agregado familiar, tudo em nome da lealdade à governação e devoção à causa pública.
O desenvolvimento do processo de candidatura do novo presidente leonino trás à lembrança não só a postura de alguns pseudo-políticos, da nossa praça, como faz recordar uma frase que ficou imortalizada, no léxico do nosso futebol. Foi proferida há anos pelo Dr. Pimenta Machado, então presidente do V. Guimarães, provavelmente reconhecendo pecados próprios, que enunciou: «No futebol o que hoje é verdade, amanhã é mentira». Expressão que se aplica, na perfeição, à decisão tomada pelo Dr. José Eduardo Bettecourt, que abdicou de um alto cargo no Banco Totta Santander, “deu o dito por não dito” e assumiu-se como o protagonista principal da “candidatura de continuidade do reino leonino”.
Já conhecido nos meios futebolísticos, Bettecourt assumiu as rédeas do Sporting e prepara-se não só para dar seguimento ao plano de reestruturação financeiro, defendido pelo seu antecessor, mas também para auferir 800.000 € + Prémios, anuais, que representa quatro vezes os honorários do sempre criticado Pinto da Costa. Mas, segundo o próprio, o projecto é de continuidade e o trabalho será desenvolvido e assente na sustentabilidade de uma politica de rigor, equilíbrio financeiro e nas sempre apregoadas seriedade, honestidade e solidariedade.
No Sporting só se altera o emblema e em certos jogos a cor das camisolas, já que nem as moscas mudam, mantendo-se a ”monarquia” e as mordomias inerentes aos cargos dos sempre presentes, Ribeiro Teles, Moniz Pereira, Ernesto Ferreira da Silva, Rogério Alves, Agostinho Abade, Filipe Nobre Guedes, etc., apoiados numa equipa técnica de futebol, que recebe prémios de desempenho sem nada ter vencido e, onde existem funcionários (ex.: Pedro Barbosa, Sá Pinto, etc.) em funções onde não se conhecem, com exactidão, as atribuições.
Com a pressão da banca (BCP e BES), parceira leonina num novo “project-finance” defendido pelo antigo presidente e com José Eduardo Bettecourt, seu sucessor em linha directa, a defender as mesmas ideias e ocultando a real situação económica/financeira do clube, não será difícil compreender a decisão de apostar num “plano de reestruturação” que manterá o Sporting amordaçado, em termos de resultados desportivos.
Por outro lado, o “presidente situacionista” deverá, mais cedo ou mais tarde, por exigência também da banca, transferir a Academia, património do Sporting, para a SAD, tendo como única preocupação a defesa dos accionistas da SAD, em detrimento dos sócios do clube.
Património desportivo do Sporting e situada numa zona de valorização, próxima do futuro aeroporto, a Academia é uma valiosa fonte de receita do clube que desaparecerá e se tornará em menos uma despesa para a SAD, que segundo parece é muito lucrativa. Alguém terá de fazer ver, a tão “brilhantes gestores”, que o clube não é o mesmo que a SAD. O clube é dos sócios e a SAD é de meia dúzia de accionistas, muitos deles nem sportinguistas são.
Por outro lado, ao transformar Paulo Bento numa figura consensual, na actual estrutura directiva, é abrir uma “via verde” para a continuidade do “Ferguson em Alvalade”, fazendo crer aos associados e simpatizantes leoninos que se luta pela conquista dos títulos, há muito arredados do futebol.
Mais tarde ou mais cedo, o Sporting terá, forçosamente, de ser devolvido aos sportinguistas, com vista a recuperar a mística e a militância dos seus sócios e simpatizantes, sempre empenhados em acrescentar palmarés a um clube centenário.

sábado, 13 de junho de 2009

O Senhor 94 milhões

Para além de ser o protagonista da maior transferência da história do futebol, também a passagem de Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid, é o concretizar de um sonho antigo do jogador português. Contudo, e embora dotado de uma técnica primorosa, velocidade estonteante e capacidade física fora do comum, atributos tão úteis na consistente adaptação ao futebol inglês e que fizeram dele o expoente máximo do futebol mundial, poderão não ser suficientes para vencer na difícil Liga espanhola. A excessiva dureza e o cerrado poder de marcação, características de “nuestros hermanos”, e a ausência de “espaços de manobra”, tão necessários a um futebolista com as características de Ronaldo, poderão dificultar a sua adaptação.
Em Madrid, com a “fúria espanhola” à perna, as lesões poderão aparecer com maior frequência, as ausências mais prolongadas e a luta pelo “pichichi” um miragem.

terça-feira, 9 de junho de 2009

"O mais custoso"

Coleccionar é sinónimo de procura, motivando o coleccionador a constantes buscas de material que possam valorizar o seu património e proporcionar horas de lazer, aproveitadas para analisar temas de colecção que se coadunam com os gostos e vocações.
As antigas cadernetas de colecções de cromos desportivos, que por vezes folheamos, proporcionam viajar com incrível facilidade pelo mundo do desporto, conseguindo com elas reconstituir cenários passados, recordar atletas que, pelos seus feitos, ficaram para sempre no nosso imaginário.
O contributo da imagem para a popularização do futebol é tal que, em Portugal, logo nos anos 20, surgem, em rebuçados e também nos maços de cigarros, os futebolistas da época, erguidos ao estatuto de ídolos e cativando de forma crescente jovens camadas de público. Tratava-se, neste caso, de dar a conhecer os intérpretes do jogo.
Na década de 50 quando, ainda de calções, íamos todos à mercearia da esquina comprar os rebuçados desportivos, começavam a proliferar as colecções de «bonecos», com a introdução no léxico juvenil de novas expressões como: «tens prá troca?», «o número da bola» ou «o mais custoso».
A explosão do cromo não se cingiu unicamente ao espaço desportivo. Havia também outras cadernetas temáticas que acolhiam heróis e figuras de assuntos variados e que abriam espaço à imaginação.
O cromo da nossa infância, no que se refere ao futebol, vivia bastante de uma quase impossibilidade prática: obter o mais custoso, chegando a haver milhares de cadernetas em mãos de crianças às quais faltava apenas esse cromo, para se poder ir buscar à loja, a bola de cauchu que funcionava como prémio. Se existia a garantia que cada caixa tinha um exemplar do mais custoso, a natural astúcia dos negociantes de cromos, levava-os, por vezes, a colar o cobiçado rebuçado no fundo da caixa, fornecendo-o a quem, mais abastado, arrebatasse os últimos restantes. Normalmente o felizardo era o filho do dono do estabelecimento que, apercebendo-se de que a caixa se aproximava do fim, se apoderava daquele tesouro supremo e, logicamente, da respectiva bola de cauchu.