segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Custou, mas foi!

Após seis meses de intensos treinos na Academia, de dez jogos disputados na Liga Zon Sagres, outros tantos na Liga Europa, um encontro na Taça de Portugal e cerca de meia dúzia de carácter particular parece que, finalmente, Paulo Sérgio acertou com a táctica que mais se aconselha ao futebol leonino e que melhor se adapta às características do futebol português.
Ao escolher o sistema 4x3x3, na variante 4x2x3x1, o treinador sportinguismo, depois de muitos ensaios, acertos, alteração e modificações aos sistemas tácticos pré-definidos parece ter conseguido estabilizar, com evidentes resultados no plano exibicional.
De facto, impor um sistema táctico a um grupo de futebolistas escolhidos por critérios duvidosos, mais ao sabor do interesse ou da vontade de um empresário, privilegiadamente aceite no “reino do leão” (Jorge Mendes), não se torna tarefa fácil.
Com limitações no “jogo exterior”, fruto de carências em termos de médios-ala/extremos de raiz, a ausência prolongada, por lesão, de Izmailov deveria ter merecido mais atenção por parte dos responsáveis leoninos e, provavelmente, ter-se-ia evitado a aquisição, difícil de explicar, de um terceiro guarda-redes (Hildebrand) como reforço do plantel.
Também, num plantel desequilibrado se questiona a necessidade da aquisição de um médio-centro com as características de Zapater, jogador de pouca mobilidade, mais posicional, que joga a espaços e que se “ausenta” grande parte do jogo, quando para a mesma posição o clube dispõe do jovem André Santos, formado na Academia, muito mais envolvido no jogo de equipa, a recuperar e a tentar construir jogadas de ataque e com grande resistência competitiva, como é exigido a um médio-centro moderno.
Por outro lado, o tempo e os jogos vieram confirmar que a insistente colocação de Valdéz nas alas, tentando colmatar as lacunas existentes, só prejudica o futebolista e a própria equipa. Jogando em várias posições o jogador acaba por perder-se, pois não permite que se adapte à posição para a qual tem demonstrado mais apetência, pois denota elevada capacidade para criar linhas de passe e de aparecer com perigo nas zonas de finalização, faculdades exigidas a um médio-atacante-centro que joga “nas costas” do ponta-de-lança.
Embora os “experts” em matéria futebolística continuem a afirmar que, para potenciar o rendimento concretizador da equipa, Postiga e Liedson deveriam jogar, em simultâneo, a experiência e as próprias características dos futebolistas evidenciam o contrário e mostram que a opção pela “dupla atacante” retira espaço de manobra aos avançados, especialmente quando defrontam equipas de menor dimensão, com a agravante de se ter de sacrificar um dos homens do meio-campo ou de uma das alas.
O certo é que, por muito bons jogadores que se possua, só a táctica não chega para ganhar jogos, exigindo-se ao treinador perspicácia e boa “leitura de jogo”, qualidades que não se verificaram no último encontro disputado em Alvalade, frente ao Vitória de Guimarães. Após expulsão de Maniche, colocar em campo Zapater, futebolista preso de movimentos com uma área de actuação muito restrita em detrimento de Nuno André Coelho, jogador rápido, diversas vezes ensaiado a trinco, quando o Vitória acabava de colocar em campo dois homens rápidos, não lembra ao diabo! Se acrescentarmos, a isto, a saída de Valdés, futebolista que estava a desempenhar de forma eficaz a ligação entre o meio-campo e o ataque e com o Sporting reduzido a dez unidades, fica-se com a sensação de estarmos em presença de mais um Carvalhal, Peseiro ou Queiroz.
Numa altura em que, os principais clubes nacionais, começam a abordar a estratégia de ataque ao “Mercado de Inverno”, não espanta que, para esse efeito, não existam verbas disponíveis na SAD sportinguista, atendendo a que, elementos como Sinama-Pongolle, Zapater, Tales, Caneira, Stoikovic, Caicedo, Grimi, Angulo, Matias Fernandez e Caneira, oriundos de mercados futebolísticos caríssimos (Itália, Espanha, Inglaterra), podem ter dado lucro ao empresário que os colocou em Alvalade, mas pouco acrescentaram ao palmarés leonino e, pelo contrário, acarretam avultados prejuízos financeiros e desportivas, que se irão reflectir no futuro do clube de Alvalade.

domingo, 17 de outubro de 2010

O "Chico Pipi"

Nos anos quarenta/cinquenta do século passado, passou pelas hostes encarnadas um futebolista de eleição e de raro talento. Quem o viu actuar diz que Rogério foi o futebolista mais genial que passou pelas hostes benfiquistas, antes de Eusébio ter desembarcado no aeroporto da Portela, em Dezembro de 1960.
Rogério era um driblador extraordinário e um temível marcador de golos. Como era elegante e gostava de se vestir bem, um dia, um famoso alfaiate convidou-o a posar. Vestiram-lhe um fato de gala, chamaram um fotógrafo e apareceu na primeira página da revista “Flama” como se fosse um artista de Hollywood. Como estava todo “pipi”, nome dado aos rapazes da moda, o Rogério Lantres de Carvalho passou a ser conhecido pela alcunha, lançada pelos seus colegas, “Rogério Pipi”.
Embora a qualidade futebolística de Francisco José Rodrigues da Costa, de “sobriquet” Costinha, tenha ficado a anos-luz da classe patenteada por Rogério, também a alcunha de “ministro”, que tão orgulhosamente ostenta, não surgiu, propriamente, da sua fraca vocação para a governação, como actualmente se recomenda aos comediantes (onde se lê comediantes deve ler-se governantes), mas tão somente pelas fatiotas que enverga.
Hoje em dia, a vestimenta deixou de distinguir o estrato social, a personalidade ou o estilo de vida. Com a globalização alguns jovens começaram a usar as “jeans” rotas, debotadas e, provocantemente, abaixo da cintura, evidenciando zonas até então desconhecidas, seguindo a tendência da moda.
Por outro lado, numa sociedade regida pelo poder económico, não é alheio o aparecimento de um elevado grau de ostentação e exibicionismo, que se reflecte na roupa que se usa e que, por vezes, contraria a própria preferência ou personalidade.
De origem humilde, mas com um caminho percorrido, no cumprimento da carreira futebolística, que lhe proporcionou não só elevada disponibilidade financeira mas também convivência e proximidade com culturas de diferentes países, Costinha não conseguiu o discernimento necessário para se afastar do ridículo e da pirosice precoce, normalmente, orientados por padrões culturalmente débeis.
Como as manifestações de exibicionismo não conhecem limites, não foi difícil a descoberta dos fatos coloridos, confeccionados por medida, às riscas ou aos quadrados, complementados por camisas rosas, violetas ou cor de púrpura, adornadas com berrantes gravatas, pouco consentâneos com o cargo que ocupa. Também os óculos de marca adornando zonas capilares, abrilhantadas por camadas de gel, evidenciam sinais de uma descabida pseudo elevação social.
O “caso Izmailov” colocou a nu alguma inexperiência e ingenuidade na gestão dos recursos humanos da SAD leonina, fazendo supor que, em Alvalade, há quem queira mostrar autoridade, mas não saiba bem o que isso é. Só a sede de protagonismo e a necessidade de afirmação imediata explica a campanha organizada contra Izmailov, um profissional sempre admirado pelos associados, pela sua entrega e profissionalismo em campo.
Os adeptos leoninos não querem acreditar que, tudo se resuma a uma “luta” entre empresários, sabendo-se que, Jorge Mendes tem sido o “gestor de carreira” de Costinha, e que Paulo Barbosa é, presentemente, o empresário de Izmailov. Ou tudo se justifica pela necessidade de “limpeza” de alguns resíduos deixados, quando da sua pouco conseguida passagem pelo Dínamo de Moscovo?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Incongruências técnicas

Não poderia ter sido mais desastrada a aventura de Gilberto Madail, em Madrid, com o objectivo de convidar José Mourinho para treinar a selecção portuguesa, nos dois encontros a realizar frente à Dinamarca e Islândia, no próximo mês de Outubro.
Com uma proposta tão inesperada como absurda, envolvendo, na polémica, o técnico e os dirigentes do Real Madrid, Madail atirou com o barro à parede e cumpriu a sua obrigação ao convidar o “melhor treinador do mundo”, só que lançou uma confusão tremenda junto das hostes madrilenas e deixou em Espanha a imagem de instabilidade que se vive na Federação.
Sabendo que, à partida, a missão era completamente impossível, a caricata e descabida atitude de Gilberto Madail teve, provavelmente, como principal finalidade atenuar a fraca imagem deixada pela selecção, na África do Sul, libertar-se das criticas deixadas na resolução do “caso Queiroz” e proporcionar um entreabrir de portas para uma, eventual, recandidatura à presidência da F.P.F.
Para além do desgaste sofrido por Mourinho que, inteligentemente, não recusou o convite e soube colocar o odioso da decisão final, nos dirigentes do clube de Santiago de Bernabeu, sabia-se, antecipadamente, que o Real Madrid, clube de desmesuráveis ambições, não iria disponibilizar, de ânimo leve, um técnico que, pago a peso de ouro, deveria, em qualquer circunstância, estar totalmente envolvido e concentrado no clube.
Quando Mourinho, conhecendo os exigentes dirigentes do clube que representa, se disponibilizou para aceitar de bom agrado a solução preconizada, estava a proceder de forma semelhante à do presidente da Federação, uma vez que, sabia que a fantasia delineada não tinha “pernas para andar”. Ao aceitar o convite, estava somente a dar cumprimento à tese desenvolvida, quando abandonou o Chesea, de estar sempre disponível para “dar uma mãozinha” à selecção portuguesa, em caso de extrema necessidade e urgência.
Por outro lado, e como o sucesso nunca é garantido, Mourinho com as afirmações proferidas ganhou créditos não ao nível de Madail, que deverá estar de saída, mas dos adeptos portugueses, ao ponto de se oferecer para treinar o seleccionado nacional sem custos.
Por outro lado, estranha-se a posição de Mourinho que, também não ficou bem na fotografia quando, após a negativa de Floriano Perez em o libertar, declara: «Não entendo como o Real Madrid não me deixa treinar a Selecção Nacional, quando em Madrid não tenho quase nada para fazer, pois vou estar aqui dez dias de férias».
Tais declarações, certamente, terão causado mal-estar nos dirigentes e apoiantes do clube madrileno, não só porque Mourinho é o treinador mais bem pago do mundo, mas porque deverá estar, exclusivamente, concentrado nas aspirações do Real Madrid.
O próprio Mourinho já referiu, em diversas ocasiões, que um técnico de futebol de alto gabarito, deverá ocupar os “tempos mortos”, quando afastado do treinamento, dos jogos e, logicamente, dos jogadores, a visionar vídeos de futuros adversários, a estudar estratégias para os próximos encontros, a observar as camadas jovens da “cantera” na tentativa de descoberta de futuros craques ou preocupado em arranjar soluções para levar de vencida os seus opositores.
Com aura de vencedor, gerindo a carreira com inteligência, é difícil de entender o passo arriscado de José Mourinho, ao disponibilizar-se para aceitar e discutir a proposta de Madail, pois sempre fez passar a mensagem de que o sucesso depende do trabalho, da competência, da capacidade mobilizadora, do envolvimento e cumplicidades com os futebolistas, sendo, por isso, difícil de entender como se poderia treinar uma selecção à distância.
Também difícil de compreender são as posições assumidas, no caso concreto do convite endereçado a Mourinho, por alguns técnicos credenciados do futebol português, que defenderam a presença do treinador do Real Madrid, em part-time, na orientação da equipa nacional.
Tudo isto não passaria de mais uma aberração do futebol português se não contrariasse e colocasse em causa algumas das pseudo-teorias que a maioria dos treinadores portugueses têm vindo a desenvolver, ao longo dos tempos.
De facto, alguns dos treinadores que se manifestaram concordantes com a presença de Mourinho à frente da Selecção, são os mesmos que, quando chegam a um novo clube e os resultados positivos tardam em aparecer privilegiam o argumento da “falta de tempo”, para avaliar as características físico-técnicas dos futebolistas ao seu dispor, a necessidade de impor novas metodologias de treino ou a identificação das carências existentes no plantel, justificando, assim, o retardar dos êxitos desportivos que os adeptos anseiam.
Assim, a opção de trazer Mourinho para comandar a selecção nacional em, somente, dois encontros a disputar em 10 dias, contraria frontalmente todas as teses que os técnicos, treinadores e “experts” em futebol científico têm vindo a implementar ao longo das últimas décadas e que, tão ridiculamente, têm valorizado.
O conhecimento das reais potencialidades técnicas, físicas e mentais dos atletas, tão requerido pelos treinadores, as “rotinas de jogo”, a opção pelo Plano A, B ou C como estratégia técnico-táctica, as “jogadas estudadas”, a “pressão alta”, a definição dos “blocos”, o aperfeiçoamento das transições defesa-ataque, o treino das “bolas paradas”, a análise exaustiva dos adversários e outros termos que os treinadores nacionais utilizam para tornar mais complexo o entendimento futebolístico e valorizar o seu desempenho e capacidades, caiem por base quando aceitam de animo leve a presença de um técnico, mesmo sendo o melhor do mundo, para treinar durante 8 dias, fazer as malas e abalar.
A solução, de recurso, encontrada por Gilberto Madail, para a resolução de todo este imbróglio, foi apostar em Paulo Bento, o técnico que estava mais à mão. Quem assina um contrato com Carlos Queiroz, por quatro anos, pelos os montantes conhecidos, que quer fazer acreditar que traria José Mourinho com facilidade, também consegue desiludir quem, neste momento, esperava a contratação de um seleccionador mais bem disposto, mais extrovertido, menos conflituoso, menos rígido tacticamente e que vai sentir dificuldades em “encaixar” os flanqueadores, Nani, Quaresma e……Cristiano Ronaldo, no seu “fastidioso losango”.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Morte anunciada

«É preciso varrer a porcaria que há na Federação!». Foi com esta frase polémica proferida, em San Siro, em finais de 1993, que Carlos Queiroz abandonou o cargo de seleccionador nacional de futebol, após derrota e afastamento da Selecção Nacional, da fase final do mundial dos EUA.
Concretizando um tremendo erro de Gilberto Madail, em Julho de 2008, o mesmo Carlos Queiroz aceitava ser de novo seleccionador nacional, rubricando um contrato válido por quatro anos, com um ordenado de 1,6 milhões de euros por ano e, provavelmente por isto, aceitava passar a fazer parte da “porcaria” existente na F.P.F..
A segunda passagem de Queiroz pela selecção nacional de futebol veio confirmar, mais uma vez, a falta de aptidão do técnico para o desempenho do lugar, embora tivesse sido considerada uma óptima escolha não só pelo presidente da Federação, mas também por todos aqueles que, iludidos pelo discurso cientifico do professor, não apreciavam a forma como o grupo era conduzido por Scolari.
Com a sombra do técnico brasileiro sempre por perto, para facilitar a tarefa de afirmação e valorização do trabalho de Carlos Queiroz, à frente da Selecção Nacional, havia que desprezar os últimos 15 anos onde Portugal apenas falhou uma qualificação para as oito fases finais realizadas, sempre com brilhantes desempenhos como aconteceu no Euro 2000 (Humberto Coelho), no Euro 2004, no Mundial 2006 e no Euro 2008, onde o trabalho fantástico de Luiz Felipe Scolari foi complementado com um feliz casamento entre a Selecção e os adeptos, mas que acabou em divórcio após a chegada de Queiroz, por falta de inteligência emocional do professor.
Mesmo para os mais optimistas a fase de apuramento para o Mundial 2010 tinha demonstrado que Carlos Queiroz não era, efectivamente, o homem certo para comandar o seleccionado português. Denunciando uma evidente falta de liderança a nível técnico, arranjou problemas com dirigentes e médicos que, facilmente, se estenderam aos jogadores, não sendo por mero acaso que, após o afastamento da selecção da África do Sul, Ronaldo, farto de andar sozinho lá na frente, e Deco, que não merecia uma despedida assim, se tenham manifestado de uma forma desabrida e azeda, fazendo supor a existência de alguma turbulência, no seio do grupo de trabalho.
Para além de se questionar as apostas de Carlos Queiroz, a quem foram satisfeitos todos os desejos e concedidos todos os meios solicitados, inclusive, verificaram-se mudanças, sem qualquer sentido, na estrutura das equipas técnicas das diversas selecções de futebol jovem, com a introdução de técnicos e gente da confiança do seleccionador nacional, sempre com o argumento demagógico de defesa do “modelo” e da reestruturação das selecções, esquecendo-se que ao nível das camadas jovens são os clubes os grandes responsáveis pelo aparecimento de novos valores.
Por outro lado, e desde que atingiu a independência financeira, fruto de uma carreira internacional onde foram maiores as indemnizações conseguidas, por despedimentos precoces, que os resultados desportivos alcançados, Queiroz começou a assumir posições desagradáveis, algumas de difícil explicação. A arrogância passou a ser mais evidente, o discurso e as atitudes mais agressivas, e a “máscara” da hipocrisia, que o tinha conduzido a lugares inimagináveis (ex.: Real Madrid), começou a cair, pese o esforço e propaganda dos seus fieis escudeiros, de jornalistas embevecidos pelo seu dom oratório e dos adeptos iludidos pela simpatia e pela imagem de competência, realçada por alguns futebolistas que, ainda garotos, tinham sido campeões mundiais.
Facto curioso e elucidativo, do carácter do professor e que contraria, em parte, a imagem que continuamente tenta “passar”, é referido na decisão do Tribunal Cível de Oeiras, que em Dezembro de 2008, condenou Carlos Queiroz a pagar 56 250 dólares a Salem Jawad, empresário que, em 1998, o levou para os Emiratos Árabes Unidos. O tribunal deu como provado que Queiroz recebeu mais tarde o dinheiro da rescisão de contrato e não pagou a comissão a que o empresário teria direito. A sentença refere ainda que, Queiroz negou inicialmente ter recebido essa indemnização, vindo a confirmá-lo depois, sendo acusado, por este motivo, de «conduta integradora de litigância de má-fé». Ou seja acusado de ter mentido em tribunal.
Num Portugal de brandos costumes com um seleccionador incapaz de motivar jogadores e adeptos, com uma selecção a deixar de jogar para ganhar, que ia deixando Portugal fora do Mundial de 2010, ainda se permite que sejam “branqueadas” as asneiras cometidas, dizendo que a participação no mundial foi positiva e que a equipa fez uma excelente exibição frente à Espanha. Para “ajudar à festa”, mais tarde saber-se-ia que, mesmo a receber 7,2 milhões de euros de prémio da FIFA pela presença da Selecção Nacional nos oitavos-de-final, a F.P.F. conseguiu apurar um prejuízo de 1 milhão de euros com a campanha da África do Sul! E o seleccionador Carlos Queiroz com direito a 10 por cento desse prémio: ou seja, uns escandalosos 720 mil euros!
Tudo acontece devido à falta de liderança de um Gilberto Madail, distraído e embriagado pelas falinhas mansas do professor, que com ele fez sempre uma espécie de chantagem psicológica, ao ponto do presidente da Federação ser incapaz de negar qualquer tipo de mordomia (bons hotéis, estágio em altitude, adjuntos locais, missões de observação, etc.), caindo no ridículo de ter de premiar, milionáriamente, um resultado julgado medíocre pela maioria dos portugueses.
Após uma serie de atitudes tão inesperadas como incompreensíveis, aliada a resultados pouco conseguidos, termina sem honra e sem glória o ciclo Queiroz na Selecção Nacional, depois de ter agredido um comentador desportivo, em plena sala de embarque do aeroporto, insultado uma brigada anti-doping, de ter apelidado de amadora a estrutura da F.P.F e de ter dirigido impropérios a um jornalista do “Sol”. Posteriormente, associou a imagem do “polvo” ao vice-presidente da federação, que afinal era uma “nuvem”, porque os muitos anos que passou no estrangeiro (17 anos), a iludir o futebol de outras paragens, originaram atitudes de agressividade, de intolerância, de falta de humildade que o distanciaram tanto dos portugueses e o tornaram tão elitista que a solução talvez estivesse em mudar o País, para agradar a tão ilustre criatura.
De facto, a tranquilidade, a discrição e o ar metódico do passado transformaram-se e deram origem a um Carlos Queiroz polémico, nervoso e onde situações menos felizes como as que esteve envolvido nunca se tinham manifestado, do mesmo modo, em Madrid ou em Manchester.
Cada vez mais isolado, ocultando a falta de comando sobre os jogadores e denunciando uma confrangedora ausência de rasgo táctico Queiroz, quer queiram quer não, sempre foi um perdedor cuja a arrogância e a vaidade nunca lhe deram tempo para ouvir as criticas, pois a sua atenção sempre foi só para aqueles que o apoiaram.
É lamentável que, tenha sido preciso desperdiçar cinco pontos frente ao Chipre e à Noruega, complicando a qualificação para o Europeu, num grupo relativamente fácil, para se aperceberem que Queiroz não tinha condições para continuar, embora, em tempos não muito distantes tenha afirmado que: «Daqui só saio morto!».
A novela Queiroz à frente da selecção, chegou ao fim e com ela a desmistificação do empenho na formação e na descoberta de novos talentos saídos, muitos deles, de nacionalizações feitas à pressa, por um individuo que a maioria dos portugueses está farta de aturar.


Morte anunciada

«É preciso varrer a porcaria que há na Federação!».
Foi com esta frase polémica proferida, em San Siro, em finais de 1993, que Carlos Queiroz abandonou o cargo de seleccionador nacional de futebol, após derrota e afastamento da Selecção Nacional, da fase final do mundial dos EUA.
Concretizando um tremendo erro de Gilberto Madail, em Julho de 2008, o mesmo Carlos Queiroz aceitava ser de novo seleccionador nacional, rubricando um contrato válido por quatro anos, com um ordenado de 1,6 milhões de euros por ano e, provavelmente por isto, aceitava passar a fazer parte da “porcaria” existente na F.P.F..
A segunda passagem de Queiroz pela selecção nacional de futebol veio confirmar, mais uma vez, a falta de aptidão do técnico para o desempenho do lugar, embora tivesse sido considerada uma óptima escolha não só pelo presidente da Federação, mas também por todos aqueles que, iludidos pelo discurso cientifico do professor, não apreciavam a forma como o grupo era conduzido por Scolari.
Com a sombra do técnico brasileiro sempre por perto, para facilitar a tarefa de afirmação e valorização do trabalho de Carlos Queiroz, à frente da Selecção Nacional, havia que desprezar os últimos 15 anos onde Portugal apenas falhou uma qualificação para as oito fases finais realizadas, sempre com brilhantes desempenhos como aconteceu no Euro 2000 (Humberto Coelho), no Euro 2004, no Mundial 2006 e no Euro 2008, onde o trabalho fantástico de Luiz Felipe Scolari foi complementado com um feliz casamento entre a Selecção e os adeptos, mas que acabou em divórcio após a chegada de Queiroz, por falta de inteligência emocional do professor.
Mesmo para os mais optimistas a fase de apuramento para o Mundial 2010 tinha demonstrado que Carlos Queiroz não era, efectivamente, o homem certo para comandar o seleccionado português. Denunciando uma evidente falta de liderança a nível técnico, arranjou problemas com dirigentes e médicos que, facilmente, se estenderam aos jogadores, não sendo por mero acaso que, após o afastamento da selecção da África do Sul, Ronaldo, farto de andar sozinho lá na frente, e Deco, que não merecia uma despedida assim, se tenham manifestado de uma forma desabrida e azeda, fazendo supor a existência de alguma turbulência, no seio do grupo de trabalho.
Para além de se questionar as apostas de Carlos Queiroz, a quem foram satisfeitos todos os desejos e concedidos todos os meios solicitados, inclusive, verificaram-se mudanças, sem qualquer sentido, na estrutura das equipas técnicas das diversas selecções de futebol jovem, com a introdução de técnicos e gente da confiança do seleccionador nacional, sempre com o argumento demagógico de defesa do “modelo” e da reestruturação das selecções, esquecendo-se que ao nível das camadas jovens são os clubes os grandes responsáveis pelo aparecimento de novos valores.
Por outro lado, e desde que atingiu a independência financeira, fruto de uma carreira internacional onde foram maiores as indemnizações conseguidas, por despedimentos precoces, que os resultados desportivos alcançados, Queiroz começou a assumir posições desagradáveis, algumas de difícil explicação. A arrogância passou a ser mais evidente, o discurso e as atitudes mais agressivas, e a “máscara” da hipocrisia, que o tinha conduzido a lugares inimagináveis (ex.: Real Madrid), começou a cair, pese o esforço e propaganda dos seus fieis escudeiros, de jornalistas embevecidos pelo seu dom oratório e dos adeptos iludidos pela simpatia e pela imagem de competência, realçada por alguns futebolistas que, ainda garotos, tinham sido campeões mundiais.
Facto curioso e elucidativo, do carácter do professor e que contraria, em parte, a imagem que continuamente tenta “passar”, é referido na decisão do Tribunal Cível de Oeiras, que em Dezembro de 2008, condenou Carlos Queiroz a pagar 56 250 dólares a Salem Jawad, empresário que, em 1998, o levou para os Emiratos Árabes Unidos. O tribunal deu como provado que Queiroz recebeu mais tarde o dinheiro da rescisão de contrato e não pagou a comissão a que o empresário teria direito. A sentença refere ainda que, Queiroz negou inicialmente ter recebido essa indemnização, vindo a confirmá-lo depois, sendo acusado, por este motivo, de «conduta integradora de litigância de má-fé». Ou seja acusado de ter mentido em tribunal.
Num Portugal de brandos costumes com um seleccionador incapaz de motivar jogadores e adeptos, com uma selecção a deixar de jogar para ganhar, que ia deixando Portugal fora do Mundial de 2010, ainda se permite que sejam “branqueadas” as asneiras cometidas, dizendo que a participação no mundial foi positiva e que a equipa fez uma excelente exibição frente à Espanha. Para “ajudar à festa”, mais tarde saber-se-ia que, mesmo a receber 7,2 milhões de euros de prémio da FIFA pela presença da Selecção Nacional nos oitavos-de-final, a F.P.F. conseguiu apurar um prejuízo de 1 milhão de euros com a campanha da África do Sul! E o seleccionador Carlos Queiroz com direito a 10 por cento desse prémio: ou seja, uns escandalosos 720 mil euros!
Tudo acontece devido à falta de liderança de um Gilberto Madail, distraído e embriagado pelas falinhas mansas do professor, que com ele fez sempre uma espécie de chantagem psicológica, ao ponto do presidente da Federação ser incapaz de negar qualquer tipo de mordomia (bons hotéis, estágio em altitude, adjuntos locais, missões de observação, etc.), caindo no ridículo de ter de premiar, milionáriamente, um resultado julgado medíocre pela maioria dos portugueses.
Após uma serie de atitudes tão inesperadas como incompreensíveis, aliada a resultados pouco conseguidos, termina sem honra e sem glória o ciclo Queiroz na Selecção Nacional, depois de ter agredido um comentador desportivo, em plena sala de embarque do aeroporto, insultado uma brigada anti-doping, de ter apelidado de amadora a estrutura da F.P.F e de ter dirigido impropérios a um jornalista do “Sol”. Posteriormente, associou a imagem do “polvo” ao vice-presidente da federação, que afinal era uma “nuvem”, porque os muitos anos que passou no estrangeiro (17 anos), a iludir o futebol de outras paragens, originaram atitudes de agressividade, de intolerância, de falta de humildade que o distanciaram tanto dos portugueses e o tornaram tão elitista que a solução talvez estivesse em mudar o País, para agradar a tão ilustre criatura.
De facto, a tranquilidade, a discrição e o ar metódico do passado transformaram-se e deram origem a um Carlos Queiroz polémico, nervoso e onde situações menos felizes como as que esteve envolvido nunca se tinham manifestado, do mesmo modo, em Madrid ou em Manchester.
Cada vez mais isolado, ocultando a falta de comando sobre os jogadores e denunciando uma confrangedora ausência de rasgo táctico Queiroz, quer queiram quer não, sempre foi um perdedor cuja a arrogância e a vaidade nunca lhe deram tempo para ouvir as criticas, pois a sua atenção sempre foi só para aqueles que o apoiaram.
É lamentável que, tenha sido preciso desperdiçar cinco pontos frente ao Chipre e à Noruega, complicando a qualificação para o Europeu, num grupo relativamente fácil, para se aperceberem que Queiroz não tinha condições para continuar, embora, em tempos não muito distantes tenha afirmado que: «Daqui só saio morto!».
A novela Queiroz à frente da selecção, chegou ao fim e com ela a desmistificação do empenho na formação e na descoberta de novos talentos saídos, muitos deles, de nacionalizações feitas à pressa, por um individuo que a maioria dos portugueses está farta de aturar.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Premonição? Ou talvez não.

No dia 2 de Dezembro de 1994, com Carlos Queiroz a treinar o Sporting e a “consumir” o potencial de sucesso adquirido com a conquista dos dois campeonatos mundiais de sub-19, o autor destas linhas iniciava a sua participação no concurso televisivo, da SIC, “Os Donos do Jogo”, conduzido por Jorge Gabriel.
Com a finalidade de descontrair e apresentar, sumariamente, os concorrentes, Jorge Gabriel começa por questionar o signatário, nos seguintes termos:
JG: «O Luís é do Sporting e diz que o Sporting não vai conseguir ser campeão?»
Luís: «Oxalá consiga, mas eu não acredito no Carlos Queiroz, como treinador de futebol».
Colocar em causa os conhecimentos técnicos de Queiroz, em finais de 1994, era no mínimo politicamente incorrecto. Acusá-lo de incompetente era não só uma blasfémia, mas o suficiente para ser apelidado de ignorante, em termos futebolísticos.
Volvidos mais de quinze anos e com os fracassos desportivos sobejamente conhecidos, no dia em que a F.P.F. aponta a porta de saída ao seleccionador nacional, alguns classificam a frase como uma premonição ou pressentimento. Outros, mais identificados, sabem não se tratar de qualquer tipo de intuição ou palpite mas, seguramente, muito mais que isso.

sábado, 4 de setembro de 2010

A minha homenagem

Era habitual, nos bairros típicos duma Lisboa de meados do século passado, os garotos serem apelidados, pelos seus mais directos companheiros de brincadeiras, com alcunhas, por vezes depreciativas, geralmente derivadas de certa particularidade física ou moral. Praticamente nado e criado no castiço Bairro de Alcântara, onde me mantive até quase adulto, não poderia fugir aquele estigma. Assim, e logo que atingi a idade mínima para dividir os jogos e divertimentos de rua com rapazes da minha idade, fui alcunhado de “kilociclos”, fruto da ligeireza e velocidade de pernas evidenciadas por um garoto que pesava alguns quilos menos que os principais competidores.
O chegar dos anos e o aspecto de “espigadote” trouxeram mais alguns sobrenomes, e a referência à garrafa da “Canadá Dry” não foi esquecida.
Adolescente, longilíneo, sempre pronto para um bom “jogo de trapeira” e com forte propensão para os “golos de cabeça”, a entrada no Liceu D. João de Castro iria coincidir com uma alcunha que me iria marcar para o resto da vida. Simplesmente, TORRES.
Estávamos no início da década de sessenta do século passado e no Benfica começava a despontar, não só o herdeiro natural de José Águas mas, principalmente, um dos maiores goleadores do futebol português, a quem Eusébio “deve” muitos dos golos conseguidos, proporcionados pelos “amortis de cabeça” do bom gigante, José Torres.
Mais tarde, princípios dos anos oitenta, na casa de um amigo comum tive a felicidade de conhecer o ex-jogador. Trocámos algumas palavras de circunstância e abordámos alguns temas futebolísticos de então. Também não deixei passar a oportunidade de referir a importância que o seu apelido teve no meu percurso de vida, tendo ele acrescentado, com naturalidade, que com o seu filho mais velho acontecia situação semelhante, uma vez que, na escola que frequentava, era conhecido pelo “Chico Gordo”, goleador da época.
Vai hoje a enterrar um homem bom, simples, brincalhão, com sentido de humor, gigante futebolista e grande glória do futebol português, que jamais esquecerei.
É com orgulho que, actualmente, após mais de quarenta anos passados do tempo liceal, cruzando-me com colegas dos tempos passados, ainda sou apelidado de Torres em virtude de desconhecerem que tal epíteto não consta do meu bilhete de identidade.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

«Ponga los dos!»

Os conhecimentos técnicos, a experiência e a perspicácia colocadas por Jorge Jesus, na escolha dos homens para a defender a baliza benfiquista, parecem não ter sido os mais adequados nem estão a dar os “frutos” desejados. De facto, quando se privilegia a altura do “keeper”, em detrimento da colocação entre os postes, da rapidez de reflexos, da determinação nos cruzamentos, do tempo de saída da baliza, da estrutura psicológica para suportar a camisola de um grande clube, etc, o risco de falhar na escolha é muito elevado.
Com o parecer do técnico a conceder especial importância à estatura do guarda-redes, a adquirir, o caricato aconteceu e, presentemente, o Benfica possui no seu plantel dois guardiões (Júlio César e Roberto) com altura bastante acima do 1,80 m, mas com evidentes lacunas técnicas em determinadas áreas e, provavelmente, difíceis de colmatar.
No encontro realizado com o Vitória de Setúbal, respeitante à 3ª jornada da Liga Zon Sagres, e depois uma série de exibições menos conseguidas de Roberto, Jorge Jesus concedeu a titularidade da baliza encarnada ao brasileiro Júlio César.
Contudo a meio da primeira parte Júlio César, a exibir uma total inaptidão para o jogo de pés, quis adornar um lance, baralhou-se e do desentendimento entre Maxi Pereira e o guardião brasileiro surgiu um penalty, que originou a expulsão deste e implicou o regresso à baliza do mal afamado Roberto. As contingências do jogo obrigaram o espanhol a entrar em campo, mas o penalty defendido não faz dele melhor guarda-redes e as exibições pouco conseguidas, nos últimos tempos, não vão ser esquecidas tão depressa.
Quando Roberto saltou do banco, chamado inesperadamente ao jogo, para substituir um Júlio César com características, qualidades e defeitos semelhantes, para alguns dos que estavam a presenciar o encontro, veio à memoria um episódio bastas vezes divulgado pelos órgãos de comunicação desportiva e passado na tristonha tarde, para o futebol português, do dia de 11 de Março de 1934.
Tudo aconteceu em Madrid, no Estádio de Chamartin, onde a Selecção Nacional, de futebol foi derrotada pela Espanha por 9-0.
Partida importante, de apuramento para o Campeonato do Mundo, onde nem faltou a presença do Presidente da República espanhola, Alcalá Zamora, que assistiu ao desafio na tribuna do estádio.
Ribeiro dos Reis, o seleccionador nacional, não acompanhou a equipa, na viagem a Espanha porque a mãe adoecera gravemente. Acabou por ser Ricardo Ornelas, à última da hora, a ocupar o seu lugar, mas com as tácticas combinadas antes da partida.
Com o resultado já em 5-0, Soares dos Reis, então guardião do F. C. Porto simulou uma lesão e foi substituído na baliza pelo benfiquista Augusto Amaro, nas bancadas os espanhóis gritavam, provocantes, em alucinante chacota - «Ponga los dos, ponga los dos...»
Como os tempos eram outros, depois de ter perdido numa goleada humilhante, Ribeiro dos Reis ganhou horror ao cargo e nunca mais quis ser seleccionador.
Cena caricata aconteceu no dia seguinte ao encontro, onde um jogador português, ao ser interpelado pelo criado do hotel castelhano com o habitual «Desayano ?», respondeu: - Des a yuno, não. Nove a zero!

sábado, 14 de agosto de 2010

O Deslumbrado

A contratação de Jorge Jesus, no inicio da época de 2009-2010, como responsável máximo da equipa de futebol do Benfica, proporcionou ao técnico não só uma melhoria significativa das suas condições de trabalho, mas também uma responsabilização muito acima dos níveis a que estava habituado, nos clubes por onde tinha passado.
Fascinado pela oportunidade concedida, de treinar um grande clube, o técnico começou, como é habitual, por exigir a aquisição de alguns atletas que lhe oferecessem garantias de implementação do sistema de jogo, preferencialmente, utilizado (losango). Assim, começam a chegar à Luz futebolistas da confiança do treinador mas de duvidosa qualidade. Se é certo que alguns foram contratados à revelia do técnico, em fase anterior à sua chegada, a maioria foram-no com a sua total conivência e aconselhamento. Estranha-se que, jogadores como Shaffer, Patric, Kerrison, Júlio César, Weldon, Felipe Meneses, César Peixoto e Eder Luís, só para citar alguns, com poucas condições para jogar num clube com as aspirações do Benfica, não tenham sido objecto de uma cuidadosa observação e uma detalhada análise das suas reais potencialidades, quer por parte da equipa técnica quer por parte dos dirigentes encarnados. Como era de esperar os desempenhos, de alguns futebolistas, não foram os mais conseguidos, mas como o clube encarnado conseguiu o titulo máximo do futebol nacional, as duvidosas escolhas e as desastrosas opções acabaram por se diluir à medida que os resultados positivos iam sendo alcançados.
Um título de campeão, pouca habituação ao êxito, possuidor de uma cultura débil com evidentes tiques de “novo riquismo” encontravam-se reunidas as condições para que um fácil deslumbramento se apoderasse de Jorge Jesus. Também as prestações de Fábio Coentrão, ao longo da temporada, que levaram o técnico encarnado a chamar a si os louros da transformação de um mediano médio-ala, num excelente defesa-esquerdo, contribuíram para o encantamento.
Iniciada a pré-temporada e consumado o abandono de Di Maria, elemento fundamental na dinâmica imposta na interpretação do “losango”, tornava-se imperioso “ir ao mercado” tentar colmatar a saída de tão importante elemento. Mais uma vez, a perspicácia e o sentido de análise das potencialidaes, de eventuais candidatos, não foram os mais eficazes. De facto, Gaitan está longe de preencher a vaga deixada por Di Maria, uma vez que, o argentino oriundo do Boca Juniors se tem revelado, nos poucos jogos já disputados, um esquerdino de bom recorte técnico mas com evidentes dificuldades de adaptação ao lugar de médio-ala-esquerdo, com as suas qualidades a definem-no como um elemento vocacionado para desempenhar o papel de nº 10.
Depois de cometido mais um “erro de casting”, e nem convém abordar a problemática dos guarda-redes Quim, Júlio César e Roberto, Jorge Jesus, presentemente, terá de recorrer a três soluções “em carteira”:
- Dar a mão à palmatória e insiste com os dirigentes no sentido de rectificar algumas das asneiras cometidas, abrindo mais uma vez os “cordões à bolsa” para a aquisição de um ala/extremo, com características idênticas ás evidenciadas por Di Maria;
- Alterar o sistema táctico para 4x3x3, “mandando às ortigas” o tão mecanizado losango, que tão bons resultados proporcionou, na época transacta, mantendo Fábio Coentrão na posição de defesa-esquerdo;
- Ou, decidir trabalhar o meio-campo com Fábio na ala esquerda e César Peixoto a lateral-esquerdo, solução que retardou o “aparecimento” do vila-condense, e que retira dinâmica e agressividade a um jogador que necessita de espaço para “embalar” até à linha de fundo.
Curioso verificar que, após o técnico encarnado se ter auto-elogiado pela “transformação” operada, em seis meses, no rendimento de Fábio Coentrão classificando-o, inclusive, como o melhor defesa esquerdo da Europa, veja-se na contingência, por falta de visão ou ausência de perspicácia na escolha de novos elementos, de fazer regressar o esquerdino ao seu antigo posto de médio-ala que, em épocas não muito distantes, nunca o projectou para alto nível exibicional.
A derrota na final da Supertaça frente ao FC Porto terá sido “um dos males que vêm por bem”, ao evidenciar algumas das carências existentes no plantel encarnado e que os seus responsáveis máximos não poderão ignorar. Por outro lado, está a contribuir para “fazer regressar Jesus à Terra”, tornando-o mais cuidadoso no aconselhamento de novos futebolistas, afastando-o da arrogância descabida que, ultimamente, o tem caracterizado apontando-lhe o caminho da humildade, tão necessária nas criaturas com presente, mas de passado pouco mediático.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Meu caro, Paulo Sérgio,

Embora acompanhe o futebol leonino, exaustivamente, há sensivelmente cinquenta anos, é a primeira vez que me dirijo, a um treinador do meu clube. E porque o faço?
Primeiro porque o seu passado, quer como futebolista quer como técnico, justificam admiração e respeito. Depois porque a forma frontal e digna como tem estado no futebol, merecem todo meu apreço. Também, porque gostaria de ver implementada, na equipa de futebol do Sporting, a mesma opção táctica-estratégia que na última temporada, foi a responsável pela brilhante campanha do Vitória de Guimarães.
Por último, penso que o meu passado sportinguista, me concede a legitimidade necessária e suficiente para, após ter visionado os encontros disputados, na fase de preparação para a temporada que se avizinha, tecer algumas considerações, prematuras talvez, acerca da equipa de futebol que se encontra em período de formação e de assimilação de novos métodos.
Não gostaria, no entanto, que as minhas palavras fossem interpretadas como intromissão na árdua tarefa que o espera, mas sim como um alerta para determinados casos pontuais que poderão ser importantes na diferença entre uma equipa ganhadora e outra, normalmente, arredada dos títulos.
Foi com satisfação que, ao presenciar os encontros realizados em Evian-les-Bains, constatei a total rejeição ao “malogrado losango” tão responsável pelos insucessos desportivos do futebol sénior leonino, nas últimas temporadas. Congratulei-me, igualmente, com a decisão do Paulo Sérgio tentar implementar um sistema táctico que contemple a presença de dois “alas bem abertos” (em 4x4x2 ou 4x3x3), de forma a dar profundidade ao jogo atacante da equipa, evitando o seu “afunilamento” e os paupérrimos espectáculos que os adeptos sportinguistas têm presenciado.
Na pré-época, os resultados pouco contam, mas servem sempre para moralização do grupo de trabalho e como não acontecem por mero acaso, ajudam para a identificação de desvios e imperfeições, bem como as respectivas correcções, afinações e adaptação dos novos elementos.
Também, tenho constatado que, o Paulo Sérgio tem optado, preferencialmente, pelo 4x4x2, esquema táctico que permite o flanqueamento do jogo, mas que obriga à presença de dois médios-centro, mais posicionais e com elevado sentido de marcação, com vista a libertar os médios-ala para as acções ofensivas de “linha de fundo”, que poderão representar “meio-golo” para os futebolistas que jogam de frente para a baliza adversária.
A aquisição mais sonante do presente defeso foi sem dúvida Maniche. Jogador experiente, na plenitude das suas capacidades físico-técnicas, chega ao Sporting evidenciando um espírito competitivo impressionante e uma “fome de bola” digna de um adolescente. No entanto, aos 33 anos, dificilmente suportará o desgaste de uma temporada a desempenhar as funções de médio-centro, com preocupações mais defensivas, num sistema 4x4x2. Maniche é um futebolista, tecnicamente evoluído, calhado na perfeição para fazer a ligação entre a defesa e o ataque (camisola nº 8), preferencialmente, num esquema de 4x3x3, uma vez que necessita da presença de médios com características defensivas que lhe “cubram as costas”, quando avança no terreno, no apoio aos avançados ou ensaiando o remate de meia-distância.
Com a titularidade de Maniche, quase assegurada, a utilização de um sistema 4x3x3, poderia “juntar o útil ao agradável” e, para além de elevar os índices de desempenho do jogador, contribuir para a resolução, de parte, do problema defensivo, manifestado pelo excesso de golos sofridos.
De facto, a exigência de um médio-centro-defensivo (Pedro Mendes) e a, eventual, colocação de Miguel Veloso a completar o trio de centro-campistas seria de primordial importância para o rigor defensivo, sabendo-se que, Miguel foi central de raiz e que o seu sentido posicional ajuda a “fechar” junto aos centrais. Já o trinco Pedro Mendes é, facilmente, adaptável a qualquer sistema táctico.
O chileno Valdês anunciado como extremo, para ambos os lados, evidencia uma mobilidade, poder de remate e excelentes pormenores técnicos que o denunciam como um médio-centro-ofensivo (camisola nº 10), vocacionado para o apoio ao ponta-de-lança, eventualmente, utilizável num tridente intermediário mais ofensivo. Quem, teoricamente, poderia desempenhar também essa missão seria o seu compatriota, Matias Fernandez, mas por deficiente adaptação ao futebol português ou por falta de capacidade para explanar a suas capacidades futebolísticas, vê o seu tempo em Alvalade, a esgotar-se.
Louvando, mais uma vez, a presença de dois médios-ala/extremos, o certo é que não têm surgido oportunidades de golo que conduzam a equipa a um elevado poder de concretização. Provavelmente, a justificação para tal facto, estará nos intervenientes, uma vez que, devido às carências existentes, no actual plantel, o Paulo Sérgio tem-se “desenrascado” com as adaptações possíveis.
No flanco esquerdo, Yannick Djaló é um jogador rápido, mas com características tipicamente para o contra-ataque e o seu sentido de baliza, “obriga-o” a flectir para dentro do terreno provocando o congestionamento da entrada da grande-área adversária e retirando profundidade e fluidez ao futebol praticado. Também, no flanco direito do ataque, acontece qualquer coisa de semelhante com a colocação de Simon Vukcevic, encostado à linha lateral. Jogador canhoto que, no salutar aproveitamento do seu poderoso remate e na tentativa de “aumentar” a dimensão da baliza adversária descai, com frequência, para a meia-lua, agravando o “tráfego” naquela zona, esquecendo-se da linha de fundo.
Com a ausência prolongada, por motivos físicos, de Izmailov e da provável saída de Yannick, aconselha-se a aquisição de dois extremos-puros. Talvez Sinama-Pongolle possa vir a ser solução alternativa, temporária, para um dos flancos.
A opção de jogar com dois elementos na frente de ataque, não tem resultado plenamente e o poder de concretização tem estado afastado. De facto, Hélder Postiga e Saleiro pouca eficácia têm demonstrado. Fortes fisicamente, de remate espontâneo e bons cabeceadores, teoricamente, possuem características ideais para a função e, talvez, por esse motivo não se completem. Em termos de produtividade, Hélder Postiga continua afastado dos golos, tendo entrado na “reserva de tolerância” em relação ao seu trajecto em Alvalade. Também Carlos Saleiro, com as oportunidades que lhe têm sido concedidas, evidencia ausência de “qualquer coisa” (será sal?) para poder singrar ao mais alto nível.
Também, não estou a “ver” Liedson, com a idade com que Cristo morreu, a “ressuscitar” para os golos e a lutar pela conquista “Bola de Prata”, uma vez que, encontra-se acomodado e com uma margem de “aceitação ao erro” ainda elevada, por parte dos adeptos sportinguistas.
Agradável surpresa tem sido o desconhecido Salomão, senhor de finta curta e de enorme confiança no um-para-um, aconselhando-se a sua entrada “a espaços”, no decurso da temporada. Também o jovem André Santos, depois de uma época plenamente conseguida em Leiria, espreita a titularidade se as opções técnicas, em temos de sistemas, se mantiverem.
Uma das questões mais problemáticas do plantel leonino encontra-se na posição de guarda-redes. Actualmente coloca-se um dilema, à equipa técnica. Ou continuar com Rui Patrício, “feito” na Academia, com compleição física quase perfeita para o lugar, mas que as quatro temporadas que leva como titular não têm reflectido uma evolução e acumulação de experiência consentâneas com os jogos disputados, ou apostar na aquisição de um novo “keeper” que, forçosamente, iria sentenciar o “final de carreira”, em Alvalade, do jovem guardião, à semelhança daquilo que aconteceu com Moreira, no Benfica, mas que poderia transmitir maior estabilidade e segurança ao sector mais recuado.
Em resumo, poder-se-á concluir que: Na zona defensiva, o clube encontra-se servido, com João Pereira e Evaldo a ocupar as laterais, mas com suplentes sem o mesmo nível futebolístico. De facto na direita, Abel, está na fase decrescente da sua carreira, mas sempre espreitando uma oportunidade de “ir a jogo”, pois a sua utilidade não se discute. Grimi, na esquerda, ainda não justificou a dispendiosa aquisição e com Evaldo como concorrente directo limitar-se-á a cumprir o contrato. No centro, Daniel Carriço, Polga e Tonel são garantia de qualidade e ambição de vencer. Torsiglieri e Nuno André Coelho terão de “mostrar serviço” que justifique a sua escolha como alternativa à zona central da defesa.
A zona intermediária terá, forçosamente, de ser reforçada, após o abandono de João Moutinho e a, iminente, saída de Miguel Veloso. Os dois trincos, Pedro Mendes e André Santos, embora de baixa envergadura física, poderão chegar para as “encomendas”. A adaptação de Nuno André Coelho, Daniel Carriço ou mesmo Tonel, à posição de médio defensivo, não parece viável, pois são jogadores “de ficar”, com rotina de centrais, não se adiantando no terreno com a oportunidade que é exigido a um trinco moderno do “tipo box to box”.
O ataque, não poderá estar dependente de um Liedson a caminhar para a veterania, de um Hélder Postiga perdulário, de um Saleiro pouco “condimentado” ou de um Sinama-Pongolle pouco imaginativo. Ou os avançados são mais eficazes e concretizadores ou, necessariamente, terá de se adquirir novos elementos.
Acredito na competência e capacidade do Paulo Sérgio para tomar as opções estratégicas mais consentâneas com as características dos futebolistas que formam o plantel do Sporting, de forma a conduzir o clube ao título que os adeptos tanto anseiam. Para o Paulo seria não só o reconhecimento das suas reais qualidades como o coroar de um trabalho profícuo e do qual, eternamente, se orgulharia.

Saudações leoninas do Luso.


Lisboa, 26 de Julho de 2010


PS: Se o tempo escassear e a paciência se mostrar insuficiente espero que, pelo menos, leia esta minha missiva no final da temporada retirando, obviamente tarde de mais, as devidas ilações.

sábado, 17 de julho de 2010

Ínclita geração?

Uma geração de jogadores, eventualmente, predestinados para a prática do futebol, classificada como “geração de ouro”, nunca poderá ficar limitada à conquista de competições ao nível das camadas mais jovens, terá, forçosamente, de justificar tal apelido ao longo dos anos subsequentes. Não é “geração de ouro” quem quer, mas quem faz por isso.
Em Portugal, foi facílimo qualificar a geração formada, entre outros, por Vitor Baia, Fernando Couto, Rui Costa, João Pinto, Abel Xavier, Paulo Sousa e Luís Figo, mais tarde considerado como o melhor jogador do mundo, como a “geração de ouro” que o professor Carlos Queiroz conduziu à conquista de dois títulos mundiais sub-19. Independentemente da indiscutível categoria patenteada por alguns dos seus elementos, o tempo veio confirmar que aquela geração de futebolistas portugueses, em termos de equipa e de títulos conquistados, se iria manifestar como uma verdadeira desilusão, nunca conseguindo corresponder ás expectativas criadas, em seu redor, tendo, inclusivamente, sido vencida na final do Euro 2004, disputada na sua própria casa.
Mais uma vez o decepcionante desempenho e descalabro protagonizado pelo futebol português, no Mundial da África do Sul, onde uma selecção pouco ambiciosa, que abdicou da condução do jogo e denotou uma total incapacidade para pressionar os adversários, não foi suficiente para que, lestos, os responsáveis federativos, aparecessem a desculpabilizar os seus elementos e o próprio seleccionador, utilizando a derrota e eliminação, frente à vizinha Espanha (0-1), que acabaria por conquistar o titulo máximo mundial, como um prémio de consolação.
Desconhece-se como os “nuestros hermanos”, denominaram o grupo de futebolistas que, na Nigéria, há alguns anos atrás, venceram o Mundial de Sub-20, mas sabe-se que, aqueles jovens futebolistas formaram o conjunto-base da selecção que, nos dois últimos anos, se sagrou campeã da Europa e do Mundo de futebol.
Para deleite daqueles que gostam de futebol, a equipa espanhola nunca abdica do futebol “tiki-taka”, baseado numa teia ardilosa construída por Guardiola, no Barca e, agora, aproveitada por Vicente Del Bosque que, toma conta do jogo, consegue a “posse de bola”, impondo uma forma de trocar o esférico que “chateia”, corrói e adormece os adversários, até ao ponto de não sentirem a estucada final dada pelos “matadores”, David Villa ou Fernando Torres.
Na África do Sul, nem a mais afinada das “vuvuzelas” destabilizou o futebol rendilhado da Espanha fruto da imaginação de Pedro, da velocidade de Jesus Navas, do talento de Villa ou da genialidade com que Iniesta aparece, na área contrária, a finalizar. Mas Xavier Hernández, mais conhecido por Xavi, é não só o mais importante futebolista da selecção espanhola como também o principal responsável pelo carrossel praticado no seu Barcelona. É ele que pega na bola, que marca o ritmo de jogo e faz funcionar a equipa. Um verdadeiro maestro, um verdadeiro líder, este catalão.
Há quem afirme que, as semelhanças ou diferenças existentes entre o futebol português e o espanhol se encontram reflectidas, no toureio apeado, da “Festa Brava”, tão apreciada nos respectivos países.
De facto, tanto em Portugal como em Espanha os toureiros manifestam coragem, técnica similar, mestria e a necessária bravura, para enfrentar o touro, desfrutando do prazer que a profissão encerra. Contudo, nas praças espanholas para além da exibição da arte taurina o touro “leva” a estucada final, morrendo na arena. Por analogia, se poderá concluir que o futebol ibérico é feito de técnica, exibição e espectáculo, só que quem marca é quem, normalmente, sai vencedor. Portugal recreia-se. A Espanha recreia-se e vence, marcando golo, ou seja, mata o touro na praça.

sábado, 10 de julho de 2010

Futebolices XXIII

Em entrevista concedida por Carlos Queiroz e publicada no Jornal SOL, em 2010-07-09, este declarou: «Tendo em conta a estrutura amadora da Federação, as coisas correram muito bem, na África do Sul».
Por muito amadora que se possa apelidar a organização existente na F.P.F. foi suficientemente eficaz para, com Scolari, Portugal ter disputado a final do Euro 2004, lutado pelo terceiro posto no Mundial 2006 e entrado como favorito no Europeu de 2008.
Tal afirmação torna-se ainda mais incompreensível, sabendo-se que, a preparação da selecção nacional, para o Mundial da África do Sul, foi a mais cuidada de sempre e que a própria estrutura da Federação foi completamente modificada desde a chegada do professor.
Com a entrada de António Simões, Agostinho Oliveira, José Guilherme, Daniel Gaspar, Oceano, Peixe, Rui Bento, etc, Queiroz rodeou-se dos “homens de mão” e “testas de ferro” que, futuramente, farão o ridículo papel que, presentemente, é desempenhado por Toni, José Peseiro ou Rui Santos, apoiando-o incondicionalmente, com comentários em programas televisivos.
O Carlos, mais uma vez, prepara-se para uma “saída em beleza”. Sem resultados mas com choruda indemnização.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Azul-celeste

Com a derrota do Uruguai, por 3-2, frente à Holanda a equipa sul-americana ficou afastada da disputa da final do Mundial de Futebol da África do Sul.
Após ter falhado o apuramento directo, na fase de qualificação sul-americana, só o dramático “play-off”, com a Costa Rica, permitiu o acesso à fase final do mundial de futebol.
Com desempenhos brilhantes frente à França, África do Sul, México, Coreia do Sul e Gana, ver jogar a selecção do Uruguai, superiormente orientado por Óscar Tabárez, com uma rigorosa disciplina táctica, um sentido de entreajuda e entrega ao jogo notáveis e recheada de excelentes futebolistas, é recordar a mesma selecção que, em 1950, capitaneada por Obdulio Varela, transformou o Maracanã num cemitério e onde Ghiggia e Shiaffino, agora personificados em Forlán e Luiz Suárez, colocaram 200 mil brasileiros em estado de choque.
Os azuis-celestes não disputarão a final do Mundial 2010 mas ficarão, para sempre, nos corações dos verdadeiros adeptos do futebol.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Asno

Abordar a temática da Selecção Nacional de Futebol e o seu desempenho no Mundial da África do Sul é, mais uma vez, colocar em causa as opções e as estratégias escolhidas pelo seleccionador Carlos Queiroz.
Embora para muitos observadores os “objectivos mínimos” tenham sido alcançados, o certo é que se a equipa das quinas tivesse sido conduzida de forma bem diferente as perspectivas de continuidade, na competição, daqueles futebolistas que representam muitas das melhores equipas da Europa, teriam sido substancialmente diferentes.
De facto, por vontade própria ou, a espaços, por imposição dos adversários, a equipa nacional nunca assumiu o domínio dos jogos disputados. Se no encontro com a Costa do Marfim, Portugal entrou em campo praticando um futebol de contenção e procurando jogar no erro do adversário, provavelmente, justificado pela importância e o receio de perder o primeiro jogo da “poule”, no segundo encontro com a frágil Coreia do Norte, a equipa, inexplicavelmente, continuou a adoptar a mesma estratégia, o que poderia ter causado “amargo de boca” se os coreanos tivessem concretizado as duas oportunidades que antecederam o tento de Raul Meireles. Com a Coreia a evidenciar ausência de categoria, cometendo erros primários, a goleada facilmente emergiu, também fruto do empenho de futebolistas que só “deixaram de carregar no acelerador” quando o Cristiano Ronaldo apontou o golo que perseguia há quase dois anos.
Com o Brasil foi mais do mesmo. Um meio-campo super povoado, o ataque entregue ao desamparado Ronaldo e a sensação de que o nulo final só aconteceu porque os brasileiros não necessitavam de vencer para manterem a liderança do grupo.
Assim, nos oitavos-de-final, o encontro com a Espanha, recheada de belíssimos futebolistas e actual campeã da Europa, afigurava-se complicado e com diminutas probabilidades de êxito. Mais uma vez Carlos Queiroz entregou “o ouro ao bandido” ao apostar, inicialmente, em Ricardo Costa, para “back-direito”, insistindo em Pepe e, provavelmente, só não colocando o canhoto Duda como médio-direito, como aconteceu com o Brasil, por se encontrar lesionado. A estratégia de contenção e de “oferecer o jogo” ao adversário continuou a vigorar, sendo o nulo verificado ao intervalo bastante lisonjeiro, para as cores nacionais. Depois, só não aconteceu o inexplicável, porque sabemos da pouca vocação de Queiroz para “ler o jogo” e efectuar as substituições adequadas. Num jogo “mata-mata”, como diria o “outro” agora também acusado de não ter efectuado a necessária renovado a selecção, “mexer” na equipa com o resultado 0-0, começando por tirar o avançado-centro (Hugo Almeida), que “obrigava” os centrais espanhóis a não abandonarem as suas posições, fazendo entrar o frágil Danny e deixando, uma vez mais, Cristiano Ronaldo entregue à sua sorte, na luta com os aguerridos Puyol e Piquet, não lembrava ao mais burro e incompetente treinador de futebol.
Se por um lado, é um alivio não ter mais que “torcer” por uma selecção com potencialidades evidentes mas que, nos momentos cruciais normalmente falha, por outro, lamenta-se o facto de vermos um dos melhores futebolistas do planeta (Cristiano Ronaldo) jogar desgarrado, isolado na frente de ataque, responsabilizado e obrigado a resolver, só por si, os encontros que disputa, contrariamente ao que acontece nos clubes por onde tem passado, onde existe a preocupação de o apoiar e “servir” de forma a aproveitar todas as suas reais capacidades.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O ceguinho

Depois de se assistir ao encontro de estreia de Portugal no mundial de futebol, com a Costa do Marfim, disputado em Port Elizabeth, fica-se com a sensação de que, o tão apregoado “estudo cientifico” que a equipa técnica do professor Carlos Queiroz realiza às equipas adversárias, ao ponto de fornecer, segundo ele, um DVD a cada jogador sobre as características dos seus adversários directos, não passa de mais uma “treta cientifica” do seleccionador.
Sabendo que, se iria defrontar uma, fisicamente, poderosa selecção africana torna-se de difícil entendimento a opção de Queiroz ao escolher futebolistas com limitado poder de choque - na zona intermediária perderam a maioria dos lances divididos – com dificuldades em ombrear com as características físicas dos nossos adversários.
No entanto, era sempre uma situação que se poderia corrigir no decurso do encontro, uma vez que existiam homens, no banco de suplentes (Miguel Veloso e Hugo Almeida), que, em termos físicos, não perderiam no confronto com os jogadores marfilenses, “fornecendo” à selecção o “musculo” necessário e suficiente para inverter as situações de perda de bola, nos ressaltos. Mas como Carlos Queiroz, em termos de “leitura de jogo”, é um pouco mais que ceguinho, as substituições que operou nada acrescentaram à qualidade de jogo praticado pela selecção, uma vez que os futebolistas que entraram possuíam características idênticas, aos substituídos.
Também, difícil de compreender é a entrada de Ruben Amorim, em campo, pois trata-se de um jogador que, não fazendo parte dos 23 seleccionados para o Mundial e sem disputar qualquer encontro na fase de qualificação, chega dois ou três dias antes do encontro, em substituição de Nani, e joga. Qual o espírito dos restantes suplentes que andam a “aturar” o professor, desde a Covilhã, e se vêem ultrapassados? Para união de grupo não está nada mal.
Ah! É verdade. Ainda só vamos no primeiro jogo disputado e Carlos Queiroz já começou “a chutar para canto”. Não sabendo aproveitar o talento que tem entre mãos e como é seu hábito, em vez de assumir os próprios erros e da equipa, preferiu “fazer agulha e mudar de linha” e dispersar a atenção do “pessoal” da discussão de um resultado menos favorável, especulando em torno da protecção que Drogba utilizou no braço, recentemente operado.
De facto, em terra de cegos quem tem um olho é rei.

sábado, 5 de junho de 2010

VII - Flashes dos Mundiais (2002 e 2010)

Coreia do Sul / Japão – 2002:
Pela primeira vez um Mundial de Futebol é organizado por dois Países.
Mundial onde Portugal, devido à “geração d’ouro”, era considerado um dos favoritos à vitória final. Contudo após uma derrota inesperada frente aos EUA e da goleada à Polónia, o terceiro encontro frente à Coreia do Sul iria ser uma desilusão, não só pela derrota (1-0) mas também por João Pinto ter agredido o árbitro, o que ajudou Portugal a sair da prova.
O Brasil iria conquistar o “penta”, comandado por Scolari. Ronaldo, que nos últimos três anos pouco tinha jogado devido a uma lesão no joelho, voltaria a confirmar o seu talento tornando-se no melhor marcador da prova tendo, inclusive, apontado os dois golos com que o Brasil derrotou a Alemanha na final.

Alemanha – 2006:
Após um terceiro lugar no Euro 2000, vice-campeão no Euro 2004 e a exibir um futebol de alta qualidade, Portugal chegou com legitimas aspirações à Alemanha, apostando forte no talento de Figo e Cristiano Ronaldo.
Não ficou muito longe o sonho da selecção das quinas, vestida pela estilista Fátima Lopes, que com um brilhante desempenho galgou terreno vencendo Angola, Irão e México, eliminando a Holanda e a Inglaterra só sendo travada nas meias-finais, mais uma vez pela França, à semelhança do que tinha acontecido no Euro 86 e no Euro 2000.
No jogo para o terceiro e quarto lugares, Portugal acabaria por ser derrotado pela Alemanha (3-1). O pódio ficaria a um pequeno passo.
A final entre a Itália e a França foi marcada pela despedida do futebol de Zidane, que protagonizou um episódio lamentável ao acertar, com uma cabeçada, em cheio no peito do italiano Materrazzi, após provocação deste.
Em 1990, em Itália a campeã tinha sido a Alemanha. Em 2006, na Alemanha o troféu foi para Itália.

África do Sul – 2010:
No primeiro Mundial de Futebol a realizar no Continente africano, espera-se mais um sucesso, não só em termos de espectáculo mas igualmente em assistência.
Por outro lado, aguarda-se que a tão focada insegurança existente na África do Sul não venha a ter uma influência nefasta no decurso do evento e que a “vuvuzela”, corneta típica sul-africana que emite um ruído muito semelhante a uma abelha, seja tocada e exibida como um elo de ligação e de convivência entre os adeptos das várias nacionalidades presentes.
Depois dos mundiais disputados no Uruguai, em 1930, no Chile, em 1962, e na Argentina, em 1978, é a quarta vez que a competição se disputa na estação invernosa.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

VI - Flashes dos Mundiais (1990, 1994 e 1998)

Itália – 1990:
Com as selecções “presas” a rígidos sistemas defensivos, a prova ficaria marcada pela pobreza em termos de espectáculo futebolístico e pelo recorde de menos golos marcados, em média por jogo.
Já com a estrela Maradona com menos brilho, a Argentina chegaria à final com a Alemanha, após eliminar a anfitriã Itália, nas grandes penalidades.
No derradeiro encontro, a detentora do título apenas sucumbiria à marcação de um penalty inexistente aos 85 minutos, convertido pelo alemão Brehme. Numa final polémica fica a imagem de Maradona lavado em lágrimas.

Estados Unidos – 1994:
Para além da FIFA ter arriscado atribuir um Mundial de Futebol a um País onde era conhecida a paixão por outras modalidades tentou, também, opor-se ao rigor defensivo, que se tinha manifestado no mundial anterior e implementou o sistema de três pontos por vitória.
Contrariando o previsível, os estádios apresentaram-se repletos, registando a média mais alta de espectadores, tendo, inclusive, a final entre a Itália e o Brasil sido presenciada por 100 mil pessoas.
Com o Brasil a conquistar o “tetra”, nas grandes penalidades, seria o Mundial que marcaria a despedida de Maradona, depois de acusar positivo num controlo anti-doping.

França – 1998:
A França atingiria o título máximo, pela primeira vez, devido em grande parte à genialidade de um futebolista de origem argelina, Zinedine Zidane que, liderou a compacta selecção gaulesa.
A FIFA voltou a alargar a fase final do mundial, agora composto por 32 selecções divididas por oito grupos.
Com Ronaldo a jogar limitado, depois de ter sofrido convulsões antes do encontro da final, o Brasil foi presa fácil para os franceses que, ao vencerem por 3-0, acabariam por finalmente conquistar a competição, criada pelo compatriota Jules Rimet.

terça-feira, 1 de junho de 2010

V - Flashes dos Mundiais (1982 e 1986)

Espanha – 1982:
Devido à pressão das confederações africana e asiática a FIFA alargou para 24 o número de selecções, na fase final do Mundial.
Os brasileiros apresentariam um futebol espectacular, com Falcão, Zico e Sócrates a comandar as operações, no centro do terreno, mas que acabaria por ser eliminada pelo contra-ataque italiano e por um endiabrado Paolo Rossi.
Depois de um começo decepcionante, com três empates na primeira fase, a Itália de Enzo Bearzot sagrar-se-ia tri-campeã mundial, à custa do talento de Conti, Paolo Rossi e Antognoni, mas na selecção Argentina soltar-se-ia um génio para o mundo do futebol: Diego Armando Maradona.

México – 1986:
Com um novo formato e seis grupos iniciais seguidos de eliminatórias, Portugal regressaria vinte anos depois a uma fase final. Mas o conflito entre jogadores e federação, o tão conhecido «caso Saltillo» iria manchar a nossa presença e condenar a participação ao fracasso, depois de uma promissora vitória sobre a Inglaterra (1-0).
Seria o Mundial onde Maradona, nos quartos-de-final, frente à Inglaterra apontaria dois golos inesquecíveis. O primeiro, irregular, ficaria famoso pela “mão de Deus”, o segundo, uma obra de arte. Maradona “pegou” a bola no centro do terreno, percorreu o meio-campo inglês com a bola colada no pé esquerdo, fintou seis adversários, incluindo Peter Shilton e fez o “golo do século”.
O derradeiro adversário da selecção Argentina seria a forte selecção alemã, mas o 3-2 final confirmaria o poderio futebolístico argentino e o génio de “el pibe”.

sábado, 29 de maio de 2010

IV - Flashes dos Mundiais (1970, 1974 e 1978)

México – 1970:
Abençoada por Deus e bonita por natureza, “a selecção do século” apareceria no México.
Juntar tantos craques numa única selecção é proeza que demonstra o poderio futebolístico do Brasil.
Com um futebol traçado a régua e esquadro, onde cinco homens, Pelé, Tostão, Rivelino, Gerson e Jairzinho, eram todos camisolas “dez” nos seus clubes, formavam o ataque genial e implacável, da selecção brasileira. Orientada por Mário Zagallo, teve um registo impressionante com 23 golos marcados e dois sofridos, depois de ter vencido três campeões mundiais: Inglaterra, Uruguai e Itália.
A mais talentosa selecção de todos os tempos, acabaria por provar na final frente à Itália (4-1) que, o futebol ofensivo era muito superior ao tradicional “catenacio” italiano.
Pelé terminaria a sua carreira em Mundiais tendo sido o único jogador que venceu três.

Alemanha – 1974:
Na Alemanha surgiria um novo conceito de futebol. Praticado pela selecção holandesa e concebido por Rinus Michel o “futebol total”, iria maravilhar o mundo.
Uma das grandes sensações da prova seria a selecção polaca que só seria derrotada pela RFA (1-0) e chegaria merecidamente ao terceiro lugar, com o avançado Lato a consagrar-se como o melhor marcador do torneio.
Na final a “laranja mecânica” comandada por Cruyff, “Bola de Ouro” e melhor jogador da Europa em 1971,1973 e 1974, secundado por Rep e Neeskens, quase que surpreendia a selecção alemã onde pontificava o “kaiser” Beckenbauer e onde Helmut Schon conseguiu implementar um futebol frio e pragmático que acabaria por levar à conquista do troféu.

Argentina – 1978:
Mundial marcado pela contestação que, meses antes eclodiu na Europa, à ditadura militar que existia na Argentina.
Quatro anos depois, a Holanda e o seu “futebol total” estariam na final mas sem o brilho do Mundial anterior, muito por culpa da ausência de Cruyff, que foi a voz do protesto da violação aos direitos humanos, não tendo viajado para o país das pampas.
Os argentinos, comandados por César Menotti, que afastou, pouco antes do início do Mundial, do lote dos convocados Diego Maradona, então com 17 anos, sagrar-se-iam campeões do mundo pela primeira vez.
Tal como tinha acontecido no Mundial de 1974, no qual a Holanda tinha sido finalista, também o Brasil disputaria o jogo para o terceiro lugar.
Na hora de receber as medalhas os holandeses negar-se-iam a saudar os chefes da ditadura argentina.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

III - Flashes dos Mundiais (1962 e 1966)

Chile – 1962:
Logo no segundo jogo, no nulo frente à Checoslováquia, Pelé contraiu um lesão que o impediu de continuar na prova e teve de ser substituído por Amarildo.
Com Pelé lesionado, ninguém deu por isso e foi uma vez mais Garrincha com um futebol mágico, irrequieto e imprevisível, “saído” das suas pernas tortas que “levou a equipa ao colo” e conduziu o Brasil à glória. Com o Brasil a praticar um futebol sobrenatural, misto de samba e emoção e o “pássaro Garrincha” a jogar um futebol de outro planeta, ninguém notou que o rei Pelé não tinha estado em campo, por lesão.

Inglaterra – 1966:
A primeira vez de Portugal, logo com uma entrada no pódio.
A selecção portuguesa estrear-se-ia numa fase final de um mundial de futebol com uma equipa formada por jogadores do Benfica e do Sporting que, no início da década, tinham conquistado importantes provas europeias. Depois de derrotar a Hungria, Bulgária, Brasil e Coreia do Norte, o sonho português acabaria nas meias-finais, quando a anfitriã Inglaterra derrotou Portugal (2-1), no mítico Wembley.
O troféu acabaria por ficar no País organizador, mas a grande sensação do torneio tinha sido a selecção comandada por Otto Glória, onde o “magriço” Eusébio, devido às suas arrancadas demolidoras e ao seu poder de remate se consagraria como o melhor marcador da competição, com 9 golos. Portugal haveria de falhar a final, depois de ter afastado o campeão do mundo (Brasil), vergado à classe de Bobby Charlton e de uma selecção inglesa que acabaria por vencer a Alemanha numa final histórica, com um golo polémico do avançado Hurst, que apontaria um hat-trick – o único até à data numa final do Mundial.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

II - Flashes dos Mundiais (1950, 1954 e 1958)

Brasil – 1950:
Foi a 1ª vez que a Taça do Mundo se chamou Jules Rimet que, na final, se encontrava na tribuna do estádio para a entrega do troféu.
O formato da competição foi alterado e a divisão por grupos substituído pelo sistema de eliminatórias.
Na “poule final”, depois do Brasil “esmagar” a Suécia (7-1) e a Espanha (6-1), só o Uruguai poderia travar a superioridade brasileira, que ainda por cima jogava em casa.
Festejos antecipados e campeões antes do tempo não ajudaram o Brasil a levar de vencida uma selecção do Uruguai onde pontificavam Obdúlio Varela, Ghiggia e Shiaffino. O futebol poético de Zizinho, do virtuoso de Ademir “queixada” e de Jair não foi suficiente para vencer a garra e a crença que emanava da ponta das botas daqueles uruguaios que regressaram a Montevideu vitoriosos e que, naquela tarde no Maracanã, num ambiente de arrepiar, deixaram um país a chorar.

Suiça – 1954:
Comandado por um oficial do exército húngaro, de seu nome Ferenc Puskas, apareceu, provavelmente, o primeiro verdadeiro “dream team” da história do futebol. Mas o insólito aconteceu e a Alemanha depois de ter “levado” 8-3 dos magiares, na fase preliminar, vingar-se-ia e venceria na final por 3-2, depois de ter estado a perder por 2-0. O fracasso da selecção húngara, que tinha vencido os Jogos Olímpicos de 1954, foi amenizado pela lesão sofrida por Puskas, que jogou a final a coxear, e por Kocsis, avançado-centro, com cabeça e pés de ouro, que sagrar-se-ia o melhor marcador da fase final, com 11 golos.
Num mundial onde os jogadores alinhariam pela 1ª vez com números nas camisolas, a Hungria ficou sem o título mas sairia com um “record” que nunca mais foi batido, 27 golos marcados em cinco jogos.

Suécia – 1958:
Finalmente o Brasil iria conseguir aliar a sua indiscutível técnica de execução com um elevado sentido objectivo, e maravilharia o mundo do futebol.
Pelé estreou-se num mundial. O seu génio explodiu, ganhou o paraíso e aos 17 anos tornou-se no jogador mais jovem, a disputar uma final de um Mundial. Mas Mané Garrincha com as suas pernas tortas e com o seu futebol feito de magia e ilusão, só terminou de enganar e humilhar os adversários quando o capitão brasileiro Bellini ergueu a Taça Jules Rimet, aos céus.
Pelé depois de marcar seis golos na prova, acabou a chorar agarrado ao guardião Gilmar e começou a tornar-se lendário. Era o mais jovem campeão do Mundo de sempre.
Este mundial ficou marcado por ter sido o primeiro a ter transmissões televisivas.

domingo, 16 de maio de 2010

I - Flashes dos Mundiais (1930, 1934 e 1938)

Com o aproximar do Mundial de Futebol da África do Sul, inicia-se hoje a publicação de um conjunto de textos, agrupados por décadas, sobre alguns factos e curiosidades dos mundiais, anteriormente, disputados.
De facto, nenhum outro evento desportivo chama tanto a atenção das pessoas como o Mundial de Futebol, que se realiza de quatro em quatro anos.
Com prestígio sempre crescente, surgiu da carolice de um grupo de visionários franceses, liderados pelo inovador Jules Rimet que, após o sucesso dos Jogos Olímpicos disputados na década de 20, teve a ideia de juntar as melhores selecções de futebol na disputa da “Taça de Ouro”, da autoria de Abel Lefleur.
O primeiro Mundial de Futebol teve lugar, em 1930, no Uruguai, país escolhido por ter sido bicampeão olímpico de futebol (1924 e 1928) e nessa altura estar a comemorar o centésimo aniversário da sua independência.
Após 18 edições, embora interrompido durante 12 anos devido à Segunda Guerra Mundial, e depois de muitos jogos disputados e muitas mudanças de Continente, o Mundial de Futebol continua a ser o grande centro de atenções e o sonho de muitos jovens que escolheram como profissão ser futebolista.

Uruguai – 1930:
O sonho de Jules Rimet, presidente da FIFA de 1921 a 1954, tornava-se realidade. Contudo devido à necessidade de convidar os participantes, por ausência de uma fase de qualificação, complicou a realização do 1º Campeonato do Mundo.
A maioria das selecções europeias recusou participar devido à travessia do Atlântico de barco e por a maioria dos seus futebolistas ter o seu emprego e não poder abandonar os locais de trabalho, durante várias semanas.
A Alemanha, Áustria, Espanha, Itália, Hungria, Suiça e Inglaterra nem se inscreveram.
Apesar da boa réplica das 13 selecções participantes, a superioridade uruguaia confirmar-se-ia numa vitória por 4-2, na final, sobre a rival Argentina e, assim, conquistaria o primeiro título mundial e a “Deusa das Asas de Ouro”. Na Europa poucos tinham dado importância ao jogo da final, onde cada equipa jogou com a sua bola durante cada parte do encontro.

Itália – 1934:
Para gáudio do ditador Benito Mussolini, a organização do Mundial foi entregue à Itália, que viu no evento uma excelente oportunidade de propaganda política. Para o efeito, permitiu que jogadores estrangeiros representassem a “squadra azzurra”, desde que tivessem ascendência italiana. Assim, o seleccionador Vittorio Pozzo passou a dispor de quatro argentinos e um brasileiro, para chegar à vitória final. Após eliminar, nas meias-finais, o “Wunderteam”, a poderosa selecção austríaca, a Itália acabaria por derrotar, na final, a Checoslováquia (2-1), já no prolongamento.
De salientar que, o campeão Uruguai retribuiu na mesma moeda a ausência das principais selecções europeias no mundial de 1930 e não defendeu o título, em Itália, situação única na história da competição.
Para a selecção lusa a fase que qualificação seria marcada pela eliminação frente aos vizinhos espanhóis, com a copiosa e celebre derrota, em Madrid, por 9-0.

França – 1938:
Primeiro Campeonato do Mundo onde, na fase final, foi concedida as entradas directas da Itália, detentora do título, e da França, país organizador. No entanto as ausências ainda se faziam notar, nomeadamente, da Espanha, a contas com uma sangrenta Guerra Civil, e da Inglaterra que, teimosamente, continuava a não quer participar, talvez por o “pai” do campeonato mundial ser o francês, Jules Rimet.
A França lançou a novidade de os jogos se realizarem em 9 cidades diferentes, o que obrigou a uma maratona de viagens.
A competição foi marcada pelo equilíbrio, mas na final a Itália mostrou a sua capacidade táctica e derrotou a Hungria por 4-2. O treinador Vittorio Pozzo juntava, assim, mais um título mundial de futebol, depois de ter também vencido os Jogos Olímpicos de 1936. Confirmando a hegemonia do seu futebol a Itália foi a primeira selecção a sagrar-se bicampeã mundial.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os eleitos de Queiroz

O seleccionador português Carlos Queiroz apresentou, na Covilhã, com toda a pompa e circunstância, os 24 seleccionados (um terá de sair) para a disputa da fase final do Mundial de Futebol. Com uma maioria de convocações previsível, verificaram-se, no entanto, algumas inesperadas e incompreensíveis opções, que o risco, pouco calculado, que encerra a convocação de Pepe, não pode justificar.

Guarda-redes:
Se a convocação de Eduardo não foi surpresa, em virtude de ter sido, sempre, a primeira escolha de Carlos Queiroz tendo, inclusive, disputado a quase totalidade dos jogos da fase de apuramento, já a presença de Daniel Fernandes na lista dos escolhidos foi totalmente inesperada, não só por jogar num campeonato com pouco visibilidade em Portugal (Grécia), mas também por se aguardar uma aposta no jovem Rui Patrício, como terceiro e futuro guardião da selecção portuguesa.
Também discutível é a convocação de Beto, em detrimento de Quim, sabendo-se que o guarda-redes do FC Porto para além de não possuir experiência, em termos internacionais, tem sido, durante a época, o suplente crónico de Helton, apresentando-se com “falta de baliza”. Espera-se que, o seleccionador não se venha a arrepender de não ter convocado o “keeper” encarnado, atendendo a que se trata de um futebolista “maduro” e experiente, com um passado, quase ininterrupto, na baliza do Benfica, tendo evidenciado, na época que agora finda, uma forma estável e uma tranquilidade imprescindíveis na conquista do titulo de campeão nacional. Se por mero acaso, na África do Sul, o azar “bater à porta” da selecção portuguesa e uma lesão inesperada ou um, eventual, castigo impossibilite Eduardo de dar o seu contributo à equipa, o seleccionador terá, forçosamente, dificuldades em ultrapassar a situação, uma vez que, no “banco dos suplentes” haverá um guarda-redes jovem, com nula experiência ao nível de selecção (Daniel Fernandes), e outro, um pouco mais experiente mas sem a “rodagem” necessária para a tarefa que o espera (Beto).

Defesas-laterais:
Se não fosse uma inoportuna lesão, a 1ª opção para a lateral direita teria recaído em Bosingwa, pelo trabalho desenvolvido, nas últimas temporadas, que o catapultou para o topo dos melhores laterais do mundo.
Assim, fase à ausência do jogador do Chelsea, foram seleccionados os “suspeitos do costume”: Miguel e Paulo Ferreira. Com ambos a atravessarem uma fase menos conseguida das carreiras e sem nunca terem evidenciado um grande desempenho, na defesa das cores nacionais, eram, mesmo assim, das escolhas mais esperadas do seleccionador. Se Miguel tem a seu favor, uma presença constante na defesa do Valência, já o mesmo não aconteceu com Paulo Ferreira, no Chelsea, que, não passando de um jogador de nível mediado, justifica a sua convocação pela possibilidade de jogar à direita e à esquerda e, principalmente, pela disciplina, rigor e obediência cega aos técnicos. Quem não tem cão caça com gato.
Para o lado esquerdo, finalmente, aparecem dois esquerdinos natos. Não possuindo as características de “defesas de raiz”, Duda e Fábio Coentrão são laterais-esquerdos improvisados que tentam “remendar” o flanco esquerdo mais recuado, aproveitando a lacuna existente no futebol português. Em face do campeonato realizado prevê-se que, a titularidade seja concedida ao futebolista do Benfica que, devido à sua polivalência poderá vir ser muito útil, em terrenos mais avançados. Por outro lado, não se poderá excluir a possibilidade de Miguel Veloso desempenhar tarefas, no lado esquerdo da defensiva nacional.

Defesas-centrais:
No eixo da defensa, Portugal encontra-se bem servido e os defesas-centrais, à disposição do seleccionador, são sinónimo de garantia de qualidade, experiência e segurança e um dos “pontos-forte” da selecção nacional. Ricardo Carvalho, Pepe, Bruno Alves serão, por ventura, dos melhores centrais da Europa e a opção Rolando, como quarto elemento, também era esperada, contrariamente ao que se verificou com a chamada de Ricardo Costa e José Castro. Com o argumento, perfeitamente justificável, de seleccionar mais um central, devido á forte possibilidade de Pepe não se apresentar totalmente recuperado, sem condição física e o necessário ritmo competitivo para disputar o mundial, a alternativa incidiu em Ricardo Costa e José Castro, jogadores que defendem as cores, respectivamente, do Lille e do Corunha, onde não atingiram especial evidência.
Provavelmente, com outro seleccionador, Tonel e/ou Daniel Carriço teriam tido um voto de confiança, mas Carlos Queiroz foi pela solução mais fácil e preferiu convocar Ricardo Costa, capaz de jogar em todas as posições do sector recuado, e José Castro que poderá desempenhar funções de “trinco”, numa opção já ensaiada e de resultado duvidoso.

Médios:
Surpreendente, na convocatória, foi não só número de médios seleccionados, apenas cinco, quando se aconselhava dois elementos para cada posição, mas, principalmente, o afastamento de João Moutinho dos eleitos, uma vez que não tinha falhado qualquer das 12 convocatórias anteriores de Carlos Queiroz.
De facto, com dois “trinco” (Pedro Mendes e Miguel Veloso) e dois médios mais ofensivos (Deco e Tiago) esperava-se a convocação do sportinguista, não só por se adaptar, facilmente, a várias posições na zona intermediária mas também por ser garantia de energia e da entrega do “costume”, podendo alternar com Raul Meireles as tarefas de transposição de jogo.
Também se lamenta a impossibilidade de Ruben Amorim dar contributo à equipa e ser uma forte opção a Deco que, atendendo à época irregular, na Liga Inglesa, poderá não corresponder em pleno ao exigido, por carência de forma ou de motivação. De salientar que, as características patenteadas por Danny se adaptam, quase na perfeição, à posição de nº 10.

Avançados:
Dificilmente, a escolha dos três avançados titulares, não passará por Cristiano Ronaldo, Liedson e Nani. Com o afastamento, perfeitamente, justificado pela falta de jogos de Ricardo Quaresma e Nuno Gomes era previsível a entrada, no grupo dos escolhidos, de Hugo Almeida que, devido às suas qualidades físicas poderá funcionar como recurso e “abre-latas” das defensivas contrárias. Simão irá alternar, nas alas, um lugar com Nani, sempre com Danny à “espreita” de uma oportunidade de “ir a jogo”.

Questionar-se-á as ausências, no grupo dos convocados, de Nuno Assis, João Pereira, Carlos Martins ou Ruben Amorim, jogadores que “fizeram” uma excelente época ao serviço dos seus clubes, contudo sem passado, ao nível da principal selecção portuguesa, e que nunca pertenceram ao “núcleo duro” do seleccionador.
Espera-se que, o professor Carlos Queiroz não se tenha enganado e que o seu “discurso científico” chegue aos jogadores, já que dos adeptos e apoiantes da selecção, dificilmente, conseguirá aproximar-se.