sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Incongruências técnicas

Não poderia ter sido mais desastrada a aventura de Gilberto Madail, em Madrid, com o objectivo de convidar José Mourinho para treinar a selecção portuguesa, nos dois encontros a realizar frente à Dinamarca e Islândia, no próximo mês de Outubro.
Com uma proposta tão inesperada como absurda, envolvendo, na polémica, o técnico e os dirigentes do Real Madrid, Madail atirou com o barro à parede e cumpriu a sua obrigação ao convidar o “melhor treinador do mundo”, só que lançou uma confusão tremenda junto das hostes madrilenas e deixou em Espanha a imagem de instabilidade que se vive na Federação.
Sabendo que, à partida, a missão era completamente impossível, a caricata e descabida atitude de Gilberto Madail teve, provavelmente, como principal finalidade atenuar a fraca imagem deixada pela selecção, na África do Sul, libertar-se das criticas deixadas na resolução do “caso Queiroz” e proporcionar um entreabrir de portas para uma, eventual, recandidatura à presidência da F.P.F.
Para além do desgaste sofrido por Mourinho que, inteligentemente, não recusou o convite e soube colocar o odioso da decisão final, nos dirigentes do clube de Santiago de Bernabeu, sabia-se, antecipadamente, que o Real Madrid, clube de desmesuráveis ambições, não iria disponibilizar, de ânimo leve, um técnico que, pago a peso de ouro, deveria, em qualquer circunstância, estar totalmente envolvido e concentrado no clube.
Quando Mourinho, conhecendo os exigentes dirigentes do clube que representa, se disponibilizou para aceitar de bom agrado a solução preconizada, estava a proceder de forma semelhante à do presidente da Federação, uma vez que, sabia que a fantasia delineada não tinha “pernas para andar”. Ao aceitar o convite, estava somente a dar cumprimento à tese desenvolvida, quando abandonou o Chesea, de estar sempre disponível para “dar uma mãozinha” à selecção portuguesa, em caso de extrema necessidade e urgência.
Por outro lado, e como o sucesso nunca é garantido, Mourinho com as afirmações proferidas ganhou créditos não ao nível de Madail, que deverá estar de saída, mas dos adeptos portugueses, ao ponto de se oferecer para treinar o seleccionado nacional sem custos.
Por outro lado, estranha-se a posição de Mourinho que, também não ficou bem na fotografia quando, após a negativa de Floriano Perez em o libertar, declara: «Não entendo como o Real Madrid não me deixa treinar a Selecção Nacional, quando em Madrid não tenho quase nada para fazer, pois vou estar aqui dez dias de férias».
Tais declarações, certamente, terão causado mal-estar nos dirigentes e apoiantes do clube madrileno, não só porque Mourinho é o treinador mais bem pago do mundo, mas porque deverá estar, exclusivamente, concentrado nas aspirações do Real Madrid.
O próprio Mourinho já referiu, em diversas ocasiões, que um técnico de futebol de alto gabarito, deverá ocupar os “tempos mortos”, quando afastado do treinamento, dos jogos e, logicamente, dos jogadores, a visionar vídeos de futuros adversários, a estudar estratégias para os próximos encontros, a observar as camadas jovens da “cantera” na tentativa de descoberta de futuros craques ou preocupado em arranjar soluções para levar de vencida os seus opositores.
Com aura de vencedor, gerindo a carreira com inteligência, é difícil de entender o passo arriscado de José Mourinho, ao disponibilizar-se para aceitar e discutir a proposta de Madail, pois sempre fez passar a mensagem de que o sucesso depende do trabalho, da competência, da capacidade mobilizadora, do envolvimento e cumplicidades com os futebolistas, sendo, por isso, difícil de entender como se poderia treinar uma selecção à distância.
Também difícil de compreender são as posições assumidas, no caso concreto do convite endereçado a Mourinho, por alguns técnicos credenciados do futebol português, que defenderam a presença do treinador do Real Madrid, em part-time, na orientação da equipa nacional.
Tudo isto não passaria de mais uma aberração do futebol português se não contrariasse e colocasse em causa algumas das pseudo-teorias que a maioria dos treinadores portugueses têm vindo a desenvolver, ao longo dos tempos.
De facto, alguns dos treinadores que se manifestaram concordantes com a presença de Mourinho à frente da Selecção, são os mesmos que, quando chegam a um novo clube e os resultados positivos tardam em aparecer privilegiam o argumento da “falta de tempo”, para avaliar as características físico-técnicas dos futebolistas ao seu dispor, a necessidade de impor novas metodologias de treino ou a identificação das carências existentes no plantel, justificando, assim, o retardar dos êxitos desportivos que os adeptos anseiam.
Assim, a opção de trazer Mourinho para comandar a selecção nacional em, somente, dois encontros a disputar em 10 dias, contraria frontalmente todas as teses que os técnicos, treinadores e “experts” em futebol científico têm vindo a implementar ao longo das últimas décadas e que, tão ridiculamente, têm valorizado.
O conhecimento das reais potencialidades técnicas, físicas e mentais dos atletas, tão requerido pelos treinadores, as “rotinas de jogo”, a opção pelo Plano A, B ou C como estratégia técnico-táctica, as “jogadas estudadas”, a “pressão alta”, a definição dos “blocos”, o aperfeiçoamento das transições defesa-ataque, o treino das “bolas paradas”, a análise exaustiva dos adversários e outros termos que os treinadores nacionais utilizam para tornar mais complexo o entendimento futebolístico e valorizar o seu desempenho e capacidades, caiem por base quando aceitam de animo leve a presença de um técnico, mesmo sendo o melhor do mundo, para treinar durante 8 dias, fazer as malas e abalar.
A solução, de recurso, encontrada por Gilberto Madail, para a resolução de todo este imbróglio, foi apostar em Paulo Bento, o técnico que estava mais à mão. Quem assina um contrato com Carlos Queiroz, por quatro anos, pelos os montantes conhecidos, que quer fazer acreditar que traria José Mourinho com facilidade, também consegue desiludir quem, neste momento, esperava a contratação de um seleccionador mais bem disposto, mais extrovertido, menos conflituoso, menos rígido tacticamente e que vai sentir dificuldades em “encaixar” os flanqueadores, Nani, Quaresma e……Cristiano Ronaldo, no seu “fastidioso losango”.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Morte anunciada

«É preciso varrer a porcaria que há na Federação!». Foi com esta frase polémica proferida, em San Siro, em finais de 1993, que Carlos Queiroz abandonou o cargo de seleccionador nacional de futebol, após derrota e afastamento da Selecção Nacional, da fase final do mundial dos EUA.
Concretizando um tremendo erro de Gilberto Madail, em Julho de 2008, o mesmo Carlos Queiroz aceitava ser de novo seleccionador nacional, rubricando um contrato válido por quatro anos, com um ordenado de 1,6 milhões de euros por ano e, provavelmente por isto, aceitava passar a fazer parte da “porcaria” existente na F.P.F..
A segunda passagem de Queiroz pela selecção nacional de futebol veio confirmar, mais uma vez, a falta de aptidão do técnico para o desempenho do lugar, embora tivesse sido considerada uma óptima escolha não só pelo presidente da Federação, mas também por todos aqueles que, iludidos pelo discurso cientifico do professor, não apreciavam a forma como o grupo era conduzido por Scolari.
Com a sombra do técnico brasileiro sempre por perto, para facilitar a tarefa de afirmação e valorização do trabalho de Carlos Queiroz, à frente da Selecção Nacional, havia que desprezar os últimos 15 anos onde Portugal apenas falhou uma qualificação para as oito fases finais realizadas, sempre com brilhantes desempenhos como aconteceu no Euro 2000 (Humberto Coelho), no Euro 2004, no Mundial 2006 e no Euro 2008, onde o trabalho fantástico de Luiz Felipe Scolari foi complementado com um feliz casamento entre a Selecção e os adeptos, mas que acabou em divórcio após a chegada de Queiroz, por falta de inteligência emocional do professor.
Mesmo para os mais optimistas a fase de apuramento para o Mundial 2010 tinha demonstrado que Carlos Queiroz não era, efectivamente, o homem certo para comandar o seleccionado português. Denunciando uma evidente falta de liderança a nível técnico, arranjou problemas com dirigentes e médicos que, facilmente, se estenderam aos jogadores, não sendo por mero acaso que, após o afastamento da selecção da África do Sul, Ronaldo, farto de andar sozinho lá na frente, e Deco, que não merecia uma despedida assim, se tenham manifestado de uma forma desabrida e azeda, fazendo supor a existência de alguma turbulência, no seio do grupo de trabalho.
Para além de se questionar as apostas de Carlos Queiroz, a quem foram satisfeitos todos os desejos e concedidos todos os meios solicitados, inclusive, verificaram-se mudanças, sem qualquer sentido, na estrutura das equipas técnicas das diversas selecções de futebol jovem, com a introdução de técnicos e gente da confiança do seleccionador nacional, sempre com o argumento demagógico de defesa do “modelo” e da reestruturação das selecções, esquecendo-se que ao nível das camadas jovens são os clubes os grandes responsáveis pelo aparecimento de novos valores.
Por outro lado, e desde que atingiu a independência financeira, fruto de uma carreira internacional onde foram maiores as indemnizações conseguidas, por despedimentos precoces, que os resultados desportivos alcançados, Queiroz começou a assumir posições desagradáveis, algumas de difícil explicação. A arrogância passou a ser mais evidente, o discurso e as atitudes mais agressivas, e a “máscara” da hipocrisia, que o tinha conduzido a lugares inimagináveis (ex.: Real Madrid), começou a cair, pese o esforço e propaganda dos seus fieis escudeiros, de jornalistas embevecidos pelo seu dom oratório e dos adeptos iludidos pela simpatia e pela imagem de competência, realçada por alguns futebolistas que, ainda garotos, tinham sido campeões mundiais.
Facto curioso e elucidativo, do carácter do professor e que contraria, em parte, a imagem que continuamente tenta “passar”, é referido na decisão do Tribunal Cível de Oeiras, que em Dezembro de 2008, condenou Carlos Queiroz a pagar 56 250 dólares a Salem Jawad, empresário que, em 1998, o levou para os Emiratos Árabes Unidos. O tribunal deu como provado que Queiroz recebeu mais tarde o dinheiro da rescisão de contrato e não pagou a comissão a que o empresário teria direito. A sentença refere ainda que, Queiroz negou inicialmente ter recebido essa indemnização, vindo a confirmá-lo depois, sendo acusado, por este motivo, de «conduta integradora de litigância de má-fé». Ou seja acusado de ter mentido em tribunal.
Num Portugal de brandos costumes com um seleccionador incapaz de motivar jogadores e adeptos, com uma selecção a deixar de jogar para ganhar, que ia deixando Portugal fora do Mundial de 2010, ainda se permite que sejam “branqueadas” as asneiras cometidas, dizendo que a participação no mundial foi positiva e que a equipa fez uma excelente exibição frente à Espanha. Para “ajudar à festa”, mais tarde saber-se-ia que, mesmo a receber 7,2 milhões de euros de prémio da FIFA pela presença da Selecção Nacional nos oitavos-de-final, a F.P.F. conseguiu apurar um prejuízo de 1 milhão de euros com a campanha da África do Sul! E o seleccionador Carlos Queiroz com direito a 10 por cento desse prémio: ou seja, uns escandalosos 720 mil euros!
Tudo acontece devido à falta de liderança de um Gilberto Madail, distraído e embriagado pelas falinhas mansas do professor, que com ele fez sempre uma espécie de chantagem psicológica, ao ponto do presidente da Federação ser incapaz de negar qualquer tipo de mordomia (bons hotéis, estágio em altitude, adjuntos locais, missões de observação, etc.), caindo no ridículo de ter de premiar, milionáriamente, um resultado julgado medíocre pela maioria dos portugueses.
Após uma serie de atitudes tão inesperadas como incompreensíveis, aliada a resultados pouco conseguidos, termina sem honra e sem glória o ciclo Queiroz na Selecção Nacional, depois de ter agredido um comentador desportivo, em plena sala de embarque do aeroporto, insultado uma brigada anti-doping, de ter apelidado de amadora a estrutura da F.P.F e de ter dirigido impropérios a um jornalista do “Sol”. Posteriormente, associou a imagem do “polvo” ao vice-presidente da federação, que afinal era uma “nuvem”, porque os muitos anos que passou no estrangeiro (17 anos), a iludir o futebol de outras paragens, originaram atitudes de agressividade, de intolerância, de falta de humildade que o distanciaram tanto dos portugueses e o tornaram tão elitista que a solução talvez estivesse em mudar o País, para agradar a tão ilustre criatura.
De facto, a tranquilidade, a discrição e o ar metódico do passado transformaram-se e deram origem a um Carlos Queiroz polémico, nervoso e onde situações menos felizes como as que esteve envolvido nunca se tinham manifestado, do mesmo modo, em Madrid ou em Manchester.
Cada vez mais isolado, ocultando a falta de comando sobre os jogadores e denunciando uma confrangedora ausência de rasgo táctico Queiroz, quer queiram quer não, sempre foi um perdedor cuja a arrogância e a vaidade nunca lhe deram tempo para ouvir as criticas, pois a sua atenção sempre foi só para aqueles que o apoiaram.
É lamentável que, tenha sido preciso desperdiçar cinco pontos frente ao Chipre e à Noruega, complicando a qualificação para o Europeu, num grupo relativamente fácil, para se aperceberem que Queiroz não tinha condições para continuar, embora, em tempos não muito distantes tenha afirmado que: «Daqui só saio morto!».
A novela Queiroz à frente da selecção, chegou ao fim e com ela a desmistificação do empenho na formação e na descoberta de novos talentos saídos, muitos deles, de nacionalizações feitas à pressa, por um individuo que a maioria dos portugueses está farta de aturar.


Morte anunciada

«É preciso varrer a porcaria que há na Federação!».
Foi com esta frase polémica proferida, em San Siro, em finais de 1993, que Carlos Queiroz abandonou o cargo de seleccionador nacional de futebol, após derrota e afastamento da Selecção Nacional, da fase final do mundial dos EUA.
Concretizando um tremendo erro de Gilberto Madail, em Julho de 2008, o mesmo Carlos Queiroz aceitava ser de novo seleccionador nacional, rubricando um contrato válido por quatro anos, com um ordenado de 1,6 milhões de euros por ano e, provavelmente por isto, aceitava passar a fazer parte da “porcaria” existente na F.P.F..
A segunda passagem de Queiroz pela selecção nacional de futebol veio confirmar, mais uma vez, a falta de aptidão do técnico para o desempenho do lugar, embora tivesse sido considerada uma óptima escolha não só pelo presidente da Federação, mas também por todos aqueles que, iludidos pelo discurso cientifico do professor, não apreciavam a forma como o grupo era conduzido por Scolari.
Com a sombra do técnico brasileiro sempre por perto, para facilitar a tarefa de afirmação e valorização do trabalho de Carlos Queiroz, à frente da Selecção Nacional, havia que desprezar os últimos 15 anos onde Portugal apenas falhou uma qualificação para as oito fases finais realizadas, sempre com brilhantes desempenhos como aconteceu no Euro 2000 (Humberto Coelho), no Euro 2004, no Mundial 2006 e no Euro 2008, onde o trabalho fantástico de Luiz Felipe Scolari foi complementado com um feliz casamento entre a Selecção e os adeptos, mas que acabou em divórcio após a chegada de Queiroz, por falta de inteligência emocional do professor.
Mesmo para os mais optimistas a fase de apuramento para o Mundial 2010 tinha demonstrado que Carlos Queiroz não era, efectivamente, o homem certo para comandar o seleccionado português. Denunciando uma evidente falta de liderança a nível técnico, arranjou problemas com dirigentes e médicos que, facilmente, se estenderam aos jogadores, não sendo por mero acaso que, após o afastamento da selecção da África do Sul, Ronaldo, farto de andar sozinho lá na frente, e Deco, que não merecia uma despedida assim, se tenham manifestado de uma forma desabrida e azeda, fazendo supor a existência de alguma turbulência, no seio do grupo de trabalho.
Para além de se questionar as apostas de Carlos Queiroz, a quem foram satisfeitos todos os desejos e concedidos todos os meios solicitados, inclusive, verificaram-se mudanças, sem qualquer sentido, na estrutura das equipas técnicas das diversas selecções de futebol jovem, com a introdução de técnicos e gente da confiança do seleccionador nacional, sempre com o argumento demagógico de defesa do “modelo” e da reestruturação das selecções, esquecendo-se que ao nível das camadas jovens são os clubes os grandes responsáveis pelo aparecimento de novos valores.
Por outro lado, e desde que atingiu a independência financeira, fruto de uma carreira internacional onde foram maiores as indemnizações conseguidas, por despedimentos precoces, que os resultados desportivos alcançados, Queiroz começou a assumir posições desagradáveis, algumas de difícil explicação. A arrogância passou a ser mais evidente, o discurso e as atitudes mais agressivas, e a “máscara” da hipocrisia, que o tinha conduzido a lugares inimagináveis (ex.: Real Madrid), começou a cair, pese o esforço e propaganda dos seus fieis escudeiros, de jornalistas embevecidos pelo seu dom oratório e dos adeptos iludidos pela simpatia e pela imagem de competência, realçada por alguns futebolistas que, ainda garotos, tinham sido campeões mundiais.
Facto curioso e elucidativo, do carácter do professor e que contraria, em parte, a imagem que continuamente tenta “passar”, é referido na decisão do Tribunal Cível de Oeiras, que em Dezembro de 2008, condenou Carlos Queiroz a pagar 56 250 dólares a Salem Jawad, empresário que, em 1998, o levou para os Emiratos Árabes Unidos. O tribunal deu como provado que Queiroz recebeu mais tarde o dinheiro da rescisão de contrato e não pagou a comissão a que o empresário teria direito. A sentença refere ainda que, Queiroz negou inicialmente ter recebido essa indemnização, vindo a confirmá-lo depois, sendo acusado, por este motivo, de «conduta integradora de litigância de má-fé». Ou seja acusado de ter mentido em tribunal.
Num Portugal de brandos costumes com um seleccionador incapaz de motivar jogadores e adeptos, com uma selecção a deixar de jogar para ganhar, que ia deixando Portugal fora do Mundial de 2010, ainda se permite que sejam “branqueadas” as asneiras cometidas, dizendo que a participação no mundial foi positiva e que a equipa fez uma excelente exibição frente à Espanha. Para “ajudar à festa”, mais tarde saber-se-ia que, mesmo a receber 7,2 milhões de euros de prémio da FIFA pela presença da Selecção Nacional nos oitavos-de-final, a F.P.F. conseguiu apurar um prejuízo de 1 milhão de euros com a campanha da África do Sul! E o seleccionador Carlos Queiroz com direito a 10 por cento desse prémio: ou seja, uns escandalosos 720 mil euros!
Tudo acontece devido à falta de liderança de um Gilberto Madail, distraído e embriagado pelas falinhas mansas do professor, que com ele fez sempre uma espécie de chantagem psicológica, ao ponto do presidente da Federação ser incapaz de negar qualquer tipo de mordomia (bons hotéis, estágio em altitude, adjuntos locais, missões de observação, etc.), caindo no ridículo de ter de premiar, milionáriamente, um resultado julgado medíocre pela maioria dos portugueses.
Após uma serie de atitudes tão inesperadas como incompreensíveis, aliada a resultados pouco conseguidos, termina sem honra e sem glória o ciclo Queiroz na Selecção Nacional, depois de ter agredido um comentador desportivo, em plena sala de embarque do aeroporto, insultado uma brigada anti-doping, de ter apelidado de amadora a estrutura da F.P.F e de ter dirigido impropérios a um jornalista do “Sol”. Posteriormente, associou a imagem do “polvo” ao vice-presidente da federação, que afinal era uma “nuvem”, porque os muitos anos que passou no estrangeiro (17 anos), a iludir o futebol de outras paragens, originaram atitudes de agressividade, de intolerância, de falta de humildade que o distanciaram tanto dos portugueses e o tornaram tão elitista que a solução talvez estivesse em mudar o País, para agradar a tão ilustre criatura.
De facto, a tranquilidade, a discrição e o ar metódico do passado transformaram-se e deram origem a um Carlos Queiroz polémico, nervoso e onde situações menos felizes como as que esteve envolvido nunca se tinham manifestado, do mesmo modo, em Madrid ou em Manchester.
Cada vez mais isolado, ocultando a falta de comando sobre os jogadores e denunciando uma confrangedora ausência de rasgo táctico Queiroz, quer queiram quer não, sempre foi um perdedor cuja a arrogância e a vaidade nunca lhe deram tempo para ouvir as criticas, pois a sua atenção sempre foi só para aqueles que o apoiaram.
É lamentável que, tenha sido preciso desperdiçar cinco pontos frente ao Chipre e à Noruega, complicando a qualificação para o Europeu, num grupo relativamente fácil, para se aperceberem que Queiroz não tinha condições para continuar, embora, em tempos não muito distantes tenha afirmado que: «Daqui só saio morto!».
A novela Queiroz à frente da selecção, chegou ao fim e com ela a desmistificação do empenho na formação e na descoberta de novos talentos saídos, muitos deles, de nacionalizações feitas à pressa, por um individuo que a maioria dos portugueses está farta de aturar.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Premonição? Ou talvez não.

No dia 2 de Dezembro de 1994, com Carlos Queiroz a treinar o Sporting e a “consumir” o potencial de sucesso adquirido com a conquista dos dois campeonatos mundiais de sub-19, o autor destas linhas iniciava a sua participação no concurso televisivo, da SIC, “Os Donos do Jogo”, conduzido por Jorge Gabriel.
Com a finalidade de descontrair e apresentar, sumariamente, os concorrentes, Jorge Gabriel começa por questionar o signatário, nos seguintes termos:
JG: «O Luís é do Sporting e diz que o Sporting não vai conseguir ser campeão?»
Luís: «Oxalá consiga, mas eu não acredito no Carlos Queiroz, como treinador de futebol».
Colocar em causa os conhecimentos técnicos de Queiroz, em finais de 1994, era no mínimo politicamente incorrecto. Acusá-lo de incompetente era não só uma blasfémia, mas o suficiente para ser apelidado de ignorante, em termos futebolísticos.
Volvidos mais de quinze anos e com os fracassos desportivos sobejamente conhecidos, no dia em que a F.P.F. aponta a porta de saída ao seleccionador nacional, alguns classificam a frase como uma premonição ou pressentimento. Outros, mais identificados, sabem não se tratar de qualquer tipo de intuição ou palpite mas, seguramente, muito mais que isso.

sábado, 4 de setembro de 2010

A minha homenagem

Era habitual, nos bairros típicos duma Lisboa de meados do século passado, os garotos serem apelidados, pelos seus mais directos companheiros de brincadeiras, com alcunhas, por vezes depreciativas, geralmente derivadas de certa particularidade física ou moral. Praticamente nado e criado no castiço Bairro de Alcântara, onde me mantive até quase adulto, não poderia fugir aquele estigma. Assim, e logo que atingi a idade mínima para dividir os jogos e divertimentos de rua com rapazes da minha idade, fui alcunhado de “kilociclos”, fruto da ligeireza e velocidade de pernas evidenciadas por um garoto que pesava alguns quilos menos que os principais competidores.
O chegar dos anos e o aspecto de “espigadote” trouxeram mais alguns sobrenomes, e a referência à garrafa da “Canadá Dry” não foi esquecida.
Adolescente, longilíneo, sempre pronto para um bom “jogo de trapeira” e com forte propensão para os “golos de cabeça”, a entrada no Liceu D. João de Castro iria coincidir com uma alcunha que me iria marcar para o resto da vida. Simplesmente, TORRES.
Estávamos no início da década de sessenta do século passado e no Benfica começava a despontar, não só o herdeiro natural de José Águas mas, principalmente, um dos maiores goleadores do futebol português, a quem Eusébio “deve” muitos dos golos conseguidos, proporcionados pelos “amortis de cabeça” do bom gigante, José Torres.
Mais tarde, princípios dos anos oitenta, na casa de um amigo comum tive a felicidade de conhecer o ex-jogador. Trocámos algumas palavras de circunstância e abordámos alguns temas futebolísticos de então. Também não deixei passar a oportunidade de referir a importância que o seu apelido teve no meu percurso de vida, tendo ele acrescentado, com naturalidade, que com o seu filho mais velho acontecia situação semelhante, uma vez que, na escola que frequentava, era conhecido pelo “Chico Gordo”, goleador da época.
Vai hoje a enterrar um homem bom, simples, brincalhão, com sentido de humor, gigante futebolista e grande glória do futebol português, que jamais esquecerei.
É com orgulho que, actualmente, após mais de quarenta anos passados do tempo liceal, cruzando-me com colegas dos tempos passados, ainda sou apelidado de Torres em virtude de desconhecerem que tal epíteto não consta do meu bilhete de identidade.