quinta-feira, 24 de março de 2011

Situacionismo

O pedido de demissão do primeiro-ministro José Sócrates que, forçosamente, conduzirá à queda do executivo por ele chefiado e às consequentes eleições legislativas, assemelha-se em parte à situação, presentemente, vivida pelos associados do Sporting Clube de Portugal que, no próximo fim-de-semana irão a votos. Coincidência ou não, o certo é que o Sporting sempre pareceu um clube que, para o bem e para o mal, mostrou andar a par com os regimes políticos que têm governado (?) o País, nos últimos cem anos. De origem aristocrata, o clube de Alvalade, fundado em 1906 em plena monarquia, nasceu do ideal e do financiamento de um visconde. Durante os longos anos do Estado Novo foi presidido por indivíduos com afinidades ao antigo regime e onde, habitualmente, faziam parte do elenco directivo quadros oriundos da Legião Portuguesa ou com aproximação aos governantes de então. Após o 25 de Abril, e tal como o País, viveu a instabilidade do PREC e quase “caiu na rua”. Ano após ano as dificuldades foram surgindo, os êxitos começaram a ficar cada vez mais longe e os adeptos leoninos a verem os títulos a serem repartidos pelos principais rivais. Com o advento do século XXI, e mais uma vez com similaridades ao que aconteceu em Portugal nos anos pós-entrada na Comunidade Europeia, ganha novo folgo e um equilíbrio suportado num aparente desenvolvimento, financiado por terceiros, que conduzem à conquista de dois títulos nacionais de futebol. Mas a década não iria terminar sem que a crise económico-financeira, que se fez sentir a nível nacional, não visse reflexo no clube de Alvalade. Atingindo valores astronómicos de passivo, devido a ruinosas e megalómanas administrações, servidas por gestores encartados mas nada escrupulosos e com pouca propensão para a competência, o clube entrou em colapso economico e em recessão, em tudo comparável ao que acontece no País. Endividado às entidades bancárias, suportando juros elevados, exigidos pelos financiadores, dependendo da ajuda externa para fazer fase aos compromissos imediatos, com o espectro da falência ou bancarrota como pano de fundo e em período eleitoral originado, também, pelo abandono do presidente eleito, o clube e a Nação continuam em, preocupante, sintonia.