quinta-feira, 19 de abril de 2012

O guarda Abel Cristóvão

A década de 80 do futebol português ficou, negativamente, marcada pela figura sinistramente desdentada de um ex-policial que, no velho Estádio das Antas, aterrorizava jornalistas, intimidava árbitros, agredia os adeptos contrários e amedrontava no túnel de acesso ao balneário visitante. Era conhecido como o “guarda Abel”.

Toda esta situação só foi possível e duradoura, com o beneplácito da direcção portista da qual, dizem as más-línguas, o “guarda” recebia todas as instruções e orientações de actuação.

Os principais clubes do futebol português (Sporting e Benfica) sempre se manifestaram críticos a esta forma ameaçadora do FCP receber os seus mais directos antagonistas tendo, inclusive, “sentido na pele” e sofrido bastantes dissabores, nas visitas ao norte do País.

Repugnante criatura há muito foi esquecida, pelos adeptos do futebol, e só o episódio protagonizado pelo actual vice-presidente do Sporting trouxe à memória os tempos de então.

O clube de Alvalade e as suas direcções sempre tentaram transmitir uma imagem de rigor e isenção, repudiando e denunciando actos de aliciamento, de corrupção ou de coacção, mas a chegada da direcção chefiada por Godinho Lopes colocou em Alvalade, um vice-presidente para o pelouro do Património e das Infraestruturas, ex-policial mas de curriculum pouco recomendável.

Em poucos meses e segundo consta, depois de estar implicado na escolha das infelizes fotos do túnel de acesso ao relvado e, provavelmente, na precoce saída do treinador Domingos, é envolvido num processo-crime e acusado de denúncia caluniosa ao árbitro auxiliar José Cardinal, numa tentativa de incriminar as gentes do Marítimo, em véspera de encontro, com os leões, para a Taça de Portugal.

Em virtude de tais acontecimentos e de ter sido constituído arguido, Paulo Pereira Cristóvão auto-suspende-se das funções de vice, com o argumento de tal atitude defender os interesses do Sporting e o bom nome do clube leonino. Godinho Lopes aprecia o gesto e é lesto a aceitar o pedido.

Mas como em futebol, como diria o outro, aquilo que hoje é verdade amanhã é mentira, Cristóvão, 48 horas após, arrepende-se e manifesta a intenção de regressar ao abandonado posto e, pasme-se, é ao próprio presidente Godinho Lopes que, numa reunião que se prolongou por mais de 10 horas, tomou a decisão de reintegrar o seu vice-presidente, com plenos poderes no Conselho Directivo.

De facto, arguido não é culpado mas como a procissão ainda vai no adro, Pereira Cristóvão deveria ficar longe de Alvalade até todo o processo finalizar evitando envolver e denegrir a imagem da instituição Sporting.

Os mais perversos poderão ver no seu regresso, aprovado pelo Conselho Leonino e defendido pelo próprio presidente, a possibilidade da existência de cumplicidades, no reino do leão, e, os mais crédulos, a certeza de que até Agosto serão pintados quatro mastros, contruídas duas novas bancadas, uma bancada para a família e uma nova sala para os sócios do Sporting.