quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O "portuga" Liedson

Muito se tem falado e escrito sobre a possibilidade de Liedson, após a naturalização e à semelhança do que aconteceu com Deco e Pepe, representar a selecção portuguesa de futebol.
Por muitas dificuldades que o seleccionador encontre no preenchimento da posição de avançado-centro, na “equipa de todos nós”, e sabendo-se da eventual concordância do representante máximo da FPF, o certo é que a convocação do brasileiro é um tema delicado e que encerra alguma controvérsia.
As semelhanças encontradas na naturalização e na subsequente utilização de Liedson na selecção com a convocação de Deco e Pepe não justificam, por si só, a chamada de mais um brasileiro para defender as cores nacionais. Só por desconhecimento se pode confundir o trajecto dos dois luso-brasileiros com o de Liedson. De facto, Deco e Pepe, para além de terem saído do Brasil ainda muito jovens, onde em clubes secundários já manifestavam ténues lampejos de talento, fizeram todo o percurso de aprendizagem profissional já em Portugal, ao serviço de clubes, também, de menor nomeada, como o Alverca, Salgueiros e, no caso de Pepe, no Marítimo B.
Citar a origem de Bosingwa e Makukula, nascidos no Congo, e de Nani em Cabo Verde, não parece correcto uma vez que vieram para Portugal ainda com tenra idade, tendo desenvolvido toda a sua formação nas camadas juvenis de clubes nacionais e, inclusive, iniciado o percurso internacional nas selecções mais jovens do nosso futebol.
Liedson, pelo contrário, chegou ao futebol português “já feito”, com palmarés relevante conquistado em alguns dos principais clubes brasileiros (ex.: Coritiba, Flamengo e Corinthians), só não tendo sido escolhido para representar o seu país de origem porque, na época, o ataque da “selecção canarinho” estava entregue a jogadores como Ronaldo, Ronaldinho, Adriano e outros tais.
Não sendo um jovem, Liedson para além de estar na fase descendente da sua brilhante carreira, completa 31 anos no corrente ano o que, em termos temporais, limita o possível “aproveitamento” como internacional português, não se deslumbrando um enquadramento técnico que compense o “investimento sentimental” e administrativo dos responsáveis federativos.
Por outro lado, a globalidade e a abertura dos mercados, que a todos atingem conduzindo a naturalizações indiscriminadas leva, a médio prazo, à descaracterização do futebol dos respectivos países e à consequente desmotivação dos adeptos e à perda de envolvimento, que uma representação nacional requer.
Longe vão os tempos (27-04-1960), onde assuntos do género não “mereciam” discussão e, a dupla de centrais leoninos constituída por Lúcio, nascido no Brasil mas filho de pais portugueses, e David Julius, sul-africano naturalizado português, se estrearam na selecção nacional, em Ludwigshagen, com uma derrota por 1-2, frente à República Federal da Alemanha.

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