sábado, 29 de maio de 2010

IV - Flashes dos Mundiais (1970, 1974 e 1978)

México – 1970:
Abençoada por Deus e bonita por natureza, “a selecção do século” apareceria no México.
Juntar tantos craques numa única selecção é proeza que demonstra o poderio futebolístico do Brasil.
Com um futebol traçado a régua e esquadro, onde cinco homens, Pelé, Tostão, Rivelino, Gerson e Jairzinho, eram todos camisolas “dez” nos seus clubes, formavam o ataque genial e implacável, da selecção brasileira. Orientada por Mário Zagallo, teve um registo impressionante com 23 golos marcados e dois sofridos, depois de ter vencido três campeões mundiais: Inglaterra, Uruguai e Itália.
A mais talentosa selecção de todos os tempos, acabaria por provar na final frente à Itália (4-1) que, o futebol ofensivo era muito superior ao tradicional “catenacio” italiano.
Pelé terminaria a sua carreira em Mundiais tendo sido o único jogador que venceu três.

Alemanha – 1974:
Na Alemanha surgiria um novo conceito de futebol. Praticado pela selecção holandesa e concebido por Rinus Michel o “futebol total”, iria maravilhar o mundo.
Uma das grandes sensações da prova seria a selecção polaca que só seria derrotada pela RFA (1-0) e chegaria merecidamente ao terceiro lugar, com o avançado Lato a consagrar-se como o melhor marcador do torneio.
Na final a “laranja mecânica” comandada por Cruyff, “Bola de Ouro” e melhor jogador da Europa em 1971,1973 e 1974, secundado por Rep e Neeskens, quase que surpreendia a selecção alemã onde pontificava o “kaiser” Beckenbauer e onde Helmut Schon conseguiu implementar um futebol frio e pragmático que acabaria por levar à conquista do troféu.

Argentina – 1978:
Mundial marcado pela contestação que, meses antes eclodiu na Europa, à ditadura militar que existia na Argentina.
Quatro anos depois, a Holanda e o seu “futebol total” estariam na final mas sem o brilho do Mundial anterior, muito por culpa da ausência de Cruyff, que foi a voz do protesto da violação aos direitos humanos, não tendo viajado para o país das pampas.
Os argentinos, comandados por César Menotti, que afastou, pouco antes do início do Mundial, do lote dos convocados Diego Maradona, então com 17 anos, sagrar-se-iam campeões do mundo pela primeira vez.
Tal como tinha acontecido no Mundial de 1974, no qual a Holanda tinha sido finalista, também o Brasil disputaria o jogo para o terceiro lugar.
Na hora de receber as medalhas os holandeses negar-se-iam a saudar os chefes da ditadura argentina.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

III - Flashes dos Mundiais (1962 e 1966)

Chile – 1962:
Logo no segundo jogo, no nulo frente à Checoslováquia, Pelé contraiu um lesão que o impediu de continuar na prova e teve de ser substituído por Amarildo.
Com Pelé lesionado, ninguém deu por isso e foi uma vez mais Garrincha com um futebol mágico, irrequieto e imprevisível, “saído” das suas pernas tortas que “levou a equipa ao colo” e conduziu o Brasil à glória. Com o Brasil a praticar um futebol sobrenatural, misto de samba e emoção e o “pássaro Garrincha” a jogar um futebol de outro planeta, ninguém notou que o rei Pelé não tinha estado em campo, por lesão.

Inglaterra – 1966:
A primeira vez de Portugal, logo com uma entrada no pódio.
A selecção portuguesa estrear-se-ia numa fase final de um mundial de futebol com uma equipa formada por jogadores do Benfica e do Sporting que, no início da década, tinham conquistado importantes provas europeias. Depois de derrotar a Hungria, Bulgária, Brasil e Coreia do Norte, o sonho português acabaria nas meias-finais, quando a anfitriã Inglaterra derrotou Portugal (2-1), no mítico Wembley.
O troféu acabaria por ficar no País organizador, mas a grande sensação do torneio tinha sido a selecção comandada por Otto Glória, onde o “magriço” Eusébio, devido às suas arrancadas demolidoras e ao seu poder de remate se consagraria como o melhor marcador da competição, com 9 golos. Portugal haveria de falhar a final, depois de ter afastado o campeão do mundo (Brasil), vergado à classe de Bobby Charlton e de uma selecção inglesa que acabaria por vencer a Alemanha numa final histórica, com um golo polémico do avançado Hurst, que apontaria um hat-trick – o único até à data numa final do Mundial.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

II - Flashes dos Mundiais (1950, 1954 e 1958)

Brasil – 1950:
Foi a 1ª vez que a Taça do Mundo se chamou Jules Rimet que, na final, se encontrava na tribuna do estádio para a entrega do troféu.
O formato da competição foi alterado e a divisão por grupos substituído pelo sistema de eliminatórias.
Na “poule final”, depois do Brasil “esmagar” a Suécia (7-1) e a Espanha (6-1), só o Uruguai poderia travar a superioridade brasileira, que ainda por cima jogava em casa.
Festejos antecipados e campeões antes do tempo não ajudaram o Brasil a levar de vencida uma selecção do Uruguai onde pontificavam Obdúlio Varela, Ghiggia e Shiaffino. O futebol poético de Zizinho, do virtuoso de Ademir “queixada” e de Jair não foi suficiente para vencer a garra e a crença que emanava da ponta das botas daqueles uruguaios que regressaram a Montevideu vitoriosos e que, naquela tarde no Maracanã, num ambiente de arrepiar, deixaram um país a chorar.

Suiça – 1954:
Comandado por um oficial do exército húngaro, de seu nome Ferenc Puskas, apareceu, provavelmente, o primeiro verdadeiro “dream team” da história do futebol. Mas o insólito aconteceu e a Alemanha depois de ter “levado” 8-3 dos magiares, na fase preliminar, vingar-se-ia e venceria na final por 3-2, depois de ter estado a perder por 2-0. O fracasso da selecção húngara, que tinha vencido os Jogos Olímpicos de 1954, foi amenizado pela lesão sofrida por Puskas, que jogou a final a coxear, e por Kocsis, avançado-centro, com cabeça e pés de ouro, que sagrar-se-ia o melhor marcador da fase final, com 11 golos.
Num mundial onde os jogadores alinhariam pela 1ª vez com números nas camisolas, a Hungria ficou sem o título mas sairia com um “record” que nunca mais foi batido, 27 golos marcados em cinco jogos.

Suécia – 1958:
Finalmente o Brasil iria conseguir aliar a sua indiscutível técnica de execução com um elevado sentido objectivo, e maravilharia o mundo do futebol.
Pelé estreou-se num mundial. O seu génio explodiu, ganhou o paraíso e aos 17 anos tornou-se no jogador mais jovem, a disputar uma final de um Mundial. Mas Mané Garrincha com as suas pernas tortas e com o seu futebol feito de magia e ilusão, só terminou de enganar e humilhar os adversários quando o capitão brasileiro Bellini ergueu a Taça Jules Rimet, aos céus.
Pelé depois de marcar seis golos na prova, acabou a chorar agarrado ao guardião Gilmar e começou a tornar-se lendário. Era o mais jovem campeão do Mundo de sempre.
Este mundial ficou marcado por ter sido o primeiro a ter transmissões televisivas.

domingo, 16 de maio de 2010

I - Flashes dos Mundiais (1930, 1934 e 1938)

Com o aproximar do Mundial de Futebol da África do Sul, inicia-se hoje a publicação de um conjunto de textos, agrupados por décadas, sobre alguns factos e curiosidades dos mundiais, anteriormente, disputados.
De facto, nenhum outro evento desportivo chama tanto a atenção das pessoas como o Mundial de Futebol, que se realiza de quatro em quatro anos.
Com prestígio sempre crescente, surgiu da carolice de um grupo de visionários franceses, liderados pelo inovador Jules Rimet que, após o sucesso dos Jogos Olímpicos disputados na década de 20, teve a ideia de juntar as melhores selecções de futebol na disputa da “Taça de Ouro”, da autoria de Abel Lefleur.
O primeiro Mundial de Futebol teve lugar, em 1930, no Uruguai, país escolhido por ter sido bicampeão olímpico de futebol (1924 e 1928) e nessa altura estar a comemorar o centésimo aniversário da sua independência.
Após 18 edições, embora interrompido durante 12 anos devido à Segunda Guerra Mundial, e depois de muitos jogos disputados e muitas mudanças de Continente, o Mundial de Futebol continua a ser o grande centro de atenções e o sonho de muitos jovens que escolheram como profissão ser futebolista.

Uruguai – 1930:
O sonho de Jules Rimet, presidente da FIFA de 1921 a 1954, tornava-se realidade. Contudo devido à necessidade de convidar os participantes, por ausência de uma fase de qualificação, complicou a realização do 1º Campeonato do Mundo.
A maioria das selecções europeias recusou participar devido à travessia do Atlântico de barco e por a maioria dos seus futebolistas ter o seu emprego e não poder abandonar os locais de trabalho, durante várias semanas.
A Alemanha, Áustria, Espanha, Itália, Hungria, Suiça e Inglaterra nem se inscreveram.
Apesar da boa réplica das 13 selecções participantes, a superioridade uruguaia confirmar-se-ia numa vitória por 4-2, na final, sobre a rival Argentina e, assim, conquistaria o primeiro título mundial e a “Deusa das Asas de Ouro”. Na Europa poucos tinham dado importância ao jogo da final, onde cada equipa jogou com a sua bola durante cada parte do encontro.

Itália – 1934:
Para gáudio do ditador Benito Mussolini, a organização do Mundial foi entregue à Itália, que viu no evento uma excelente oportunidade de propaganda política. Para o efeito, permitiu que jogadores estrangeiros representassem a “squadra azzurra”, desde que tivessem ascendência italiana. Assim, o seleccionador Vittorio Pozzo passou a dispor de quatro argentinos e um brasileiro, para chegar à vitória final. Após eliminar, nas meias-finais, o “Wunderteam”, a poderosa selecção austríaca, a Itália acabaria por derrotar, na final, a Checoslováquia (2-1), já no prolongamento.
De salientar que, o campeão Uruguai retribuiu na mesma moeda a ausência das principais selecções europeias no mundial de 1930 e não defendeu o título, em Itália, situação única na história da competição.
Para a selecção lusa a fase que qualificação seria marcada pela eliminação frente aos vizinhos espanhóis, com a copiosa e celebre derrota, em Madrid, por 9-0.

França – 1938:
Primeiro Campeonato do Mundo onde, na fase final, foi concedida as entradas directas da Itália, detentora do título, e da França, país organizador. No entanto as ausências ainda se faziam notar, nomeadamente, da Espanha, a contas com uma sangrenta Guerra Civil, e da Inglaterra que, teimosamente, continuava a não quer participar, talvez por o “pai” do campeonato mundial ser o francês, Jules Rimet.
A França lançou a novidade de os jogos se realizarem em 9 cidades diferentes, o que obrigou a uma maratona de viagens.
A competição foi marcada pelo equilíbrio, mas na final a Itália mostrou a sua capacidade táctica e derrotou a Hungria por 4-2. O treinador Vittorio Pozzo juntava, assim, mais um título mundial de futebol, depois de ter também vencido os Jogos Olímpicos de 1936. Confirmando a hegemonia do seu futebol a Itália foi a primeira selecção a sagrar-se bicampeã mundial.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os eleitos de Queiroz

O seleccionador português Carlos Queiroz apresentou, na Covilhã, com toda a pompa e circunstância, os 24 seleccionados (um terá de sair) para a disputa da fase final do Mundial de Futebol. Com uma maioria de convocações previsível, verificaram-se, no entanto, algumas inesperadas e incompreensíveis opções, que o risco, pouco calculado, que encerra a convocação de Pepe, não pode justificar.

Guarda-redes:
Se a convocação de Eduardo não foi surpresa, em virtude de ter sido, sempre, a primeira escolha de Carlos Queiroz tendo, inclusive, disputado a quase totalidade dos jogos da fase de apuramento, já a presença de Daniel Fernandes na lista dos escolhidos foi totalmente inesperada, não só por jogar num campeonato com pouco visibilidade em Portugal (Grécia), mas também por se aguardar uma aposta no jovem Rui Patrício, como terceiro e futuro guardião da selecção portuguesa.
Também discutível é a convocação de Beto, em detrimento de Quim, sabendo-se que o guarda-redes do FC Porto para além de não possuir experiência, em termos internacionais, tem sido, durante a época, o suplente crónico de Helton, apresentando-se com “falta de baliza”. Espera-se que, o seleccionador não se venha a arrepender de não ter convocado o “keeper” encarnado, atendendo a que se trata de um futebolista “maduro” e experiente, com um passado, quase ininterrupto, na baliza do Benfica, tendo evidenciado, na época que agora finda, uma forma estável e uma tranquilidade imprescindíveis na conquista do titulo de campeão nacional. Se por mero acaso, na África do Sul, o azar “bater à porta” da selecção portuguesa e uma lesão inesperada ou um, eventual, castigo impossibilite Eduardo de dar o seu contributo à equipa, o seleccionador terá, forçosamente, dificuldades em ultrapassar a situação, uma vez que, no “banco dos suplentes” haverá um guarda-redes jovem, com nula experiência ao nível de selecção (Daniel Fernandes), e outro, um pouco mais experiente mas sem a “rodagem” necessária para a tarefa que o espera (Beto).

Defesas-laterais:
Se não fosse uma inoportuna lesão, a 1ª opção para a lateral direita teria recaído em Bosingwa, pelo trabalho desenvolvido, nas últimas temporadas, que o catapultou para o topo dos melhores laterais do mundo.
Assim, fase à ausência do jogador do Chelsea, foram seleccionados os “suspeitos do costume”: Miguel e Paulo Ferreira. Com ambos a atravessarem uma fase menos conseguida das carreiras e sem nunca terem evidenciado um grande desempenho, na defesa das cores nacionais, eram, mesmo assim, das escolhas mais esperadas do seleccionador. Se Miguel tem a seu favor, uma presença constante na defesa do Valência, já o mesmo não aconteceu com Paulo Ferreira, no Chelsea, que, não passando de um jogador de nível mediado, justifica a sua convocação pela possibilidade de jogar à direita e à esquerda e, principalmente, pela disciplina, rigor e obediência cega aos técnicos. Quem não tem cão caça com gato.
Para o lado esquerdo, finalmente, aparecem dois esquerdinos natos. Não possuindo as características de “defesas de raiz”, Duda e Fábio Coentrão são laterais-esquerdos improvisados que tentam “remendar” o flanco esquerdo mais recuado, aproveitando a lacuna existente no futebol português. Em face do campeonato realizado prevê-se que, a titularidade seja concedida ao futebolista do Benfica que, devido à sua polivalência poderá vir ser muito útil, em terrenos mais avançados. Por outro lado, não se poderá excluir a possibilidade de Miguel Veloso desempenhar tarefas, no lado esquerdo da defensiva nacional.

Defesas-centrais:
No eixo da defensa, Portugal encontra-se bem servido e os defesas-centrais, à disposição do seleccionador, são sinónimo de garantia de qualidade, experiência e segurança e um dos “pontos-forte” da selecção nacional. Ricardo Carvalho, Pepe, Bruno Alves serão, por ventura, dos melhores centrais da Europa e a opção Rolando, como quarto elemento, também era esperada, contrariamente ao que se verificou com a chamada de Ricardo Costa e José Castro. Com o argumento, perfeitamente justificável, de seleccionar mais um central, devido á forte possibilidade de Pepe não se apresentar totalmente recuperado, sem condição física e o necessário ritmo competitivo para disputar o mundial, a alternativa incidiu em Ricardo Costa e José Castro, jogadores que defendem as cores, respectivamente, do Lille e do Corunha, onde não atingiram especial evidência.
Provavelmente, com outro seleccionador, Tonel e/ou Daniel Carriço teriam tido um voto de confiança, mas Carlos Queiroz foi pela solução mais fácil e preferiu convocar Ricardo Costa, capaz de jogar em todas as posições do sector recuado, e José Castro que poderá desempenhar funções de “trinco”, numa opção já ensaiada e de resultado duvidoso.

Médios:
Surpreendente, na convocatória, foi não só número de médios seleccionados, apenas cinco, quando se aconselhava dois elementos para cada posição, mas, principalmente, o afastamento de João Moutinho dos eleitos, uma vez que não tinha falhado qualquer das 12 convocatórias anteriores de Carlos Queiroz.
De facto, com dois “trinco” (Pedro Mendes e Miguel Veloso) e dois médios mais ofensivos (Deco e Tiago) esperava-se a convocação do sportinguista, não só por se adaptar, facilmente, a várias posições na zona intermediária mas também por ser garantia de energia e da entrega do “costume”, podendo alternar com Raul Meireles as tarefas de transposição de jogo.
Também se lamenta a impossibilidade de Ruben Amorim dar contributo à equipa e ser uma forte opção a Deco que, atendendo à época irregular, na Liga Inglesa, poderá não corresponder em pleno ao exigido, por carência de forma ou de motivação. De salientar que, as características patenteadas por Danny se adaptam, quase na perfeição, à posição de nº 10.

Avançados:
Dificilmente, a escolha dos três avançados titulares, não passará por Cristiano Ronaldo, Liedson e Nani. Com o afastamento, perfeitamente, justificado pela falta de jogos de Ricardo Quaresma e Nuno Gomes era previsível a entrada, no grupo dos escolhidos, de Hugo Almeida que, devido às suas qualidades físicas poderá funcionar como recurso e “abre-latas” das defensivas contrárias. Simão irá alternar, nas alas, um lugar com Nani, sempre com Danny à “espreita” de uma oportunidade de “ir a jogo”.

Questionar-se-á as ausências, no grupo dos convocados, de Nuno Assis, João Pereira, Carlos Martins ou Ruben Amorim, jogadores que “fizeram” uma excelente época ao serviço dos seus clubes, contudo sem passado, ao nível da principal selecção portuguesa, e que nunca pertenceram ao “núcleo duro” do seleccionador.
Espera-se que, o professor Carlos Queiroz não se tenha enganado e que o seu “discurso científico” chegue aos jogadores, já que dos adeptos e apoiantes da selecção, dificilmente, conseguirá aproximar-se.

sábado, 1 de maio de 2010

Um perfil

Quem “faz” os treinadores são os resultados.
Em diversas ocasiões treinadores, credenciados, não confirmaram as expectativas neles depositadas e acabaram por abandonar, precocemente, os clubes que os tinham contratado.
Os adeptos e simpatizantes do Sporting sabem bem que, técnicos de elevado gabarito, desde Gentil Cardoso até Giuseppe Materazzi passando por Jean Luciano, Fernando Argila, Di Stefano, Fernando Riera, Jimmy Hagan, Paulo Emílio, Milorad Pavic, Josef Venglos, John Toshack, Keith Burkinshaw, Bobby Robson, Robert Waseige, Vicente Cantatore e Mirko Jozic, que entraram em Alvalade com elevados índices de confiança e legitimas aspirações em alcançar o sucesso, nada conseguiram vencer.
Por outro lado, treinadores como Mário Lino, Fernando Mendes, Rodrigues Dias ou Augusto Inácio, com curriculum pouco repleto de êxitos, quando assinaram pelo clube verde e branco, contribuíram de forma brilhante para a conquista de troféus e o enriquecimento do museu do clube.
Com apenas duas épocas na I Liga, Paulo Sérgio ingressa no clube de Alvalade exibindo um conjunto de características muito idênticas às patenteadas pela grande maioria dos seus antecessores. Português, jovem, ambicioso e inexperiente, exibe como maior proeza curricular a disputa de uma final da Taça de Portugal, no comando técnico do Paços de Ferreira. No entanto, o actual treinador do Vitória de Guimarães traduz uma aposta forte da gestão da SAD leonina, não só na recuperação da equipa de futebol, mas também na manutenção e evolução dos jovens futebolistas saídos da Academia.
Para quem tem estado atento ao desempenho do Vitória minhoto, na principal Liga, facilmente se terá apercebido de que a equipa tem sido o espelho da filosofia de jogo do seu técnico. De facto, Paulo Sérgio “arrumou” a equipa, preferencialmente, em 4x3x3, na variante táctica que mais se adapta ao futebol português, o 4x2x3x1. Com um quarteto defensivo bem definido (Andrezinho, Gustavo Lazzaretti, Valdomiro e Bruno Teles), onde o defesa-esquerdo é, preferencialmente, um canhoto e um meio-campo apoiado num trinco, com elevado sentido de marcação e sempre disponível para as “dobras” ao sector defensivo (Flávio Meireles), entregou as tarefas da “ligação intermediária” a um médio criativo, tecnicamente evoluído e com bom remate de meia-distância (João Alves). Mais à frente surgiram dois médios-atacantes bem abertos nas alas (Targino e Desmarets) com a finalidade de dar profundidade ao jogo da equipa e, sempre que aconselhável, seguimento a venenoso contra-ataque. Em “cunha”, com a missão de converter em golos o trabalho desenvolvido pelos restantes elementos surge um ponta-de-lança, peitudo, com bom jogo de cabeça e de remate fácil (Douglas). Nas costas do avançado “aparece” o maestro, o chamado nº 10, sempre pronto para “abrir as linhas de passe” e com capacidade para organizar as jogadas de envolvimento ofensivo (Nuno Assis).
Saliente-se que, Carlos Carvalhal foi contrato, pelos responsáveis leoninos, para desempenhar funções e desenvolver um trabalho muito semelhante ao solicitado, em épocas mais remotas, a Anselmo Fernandez, Armando Ferreira, Juca ou a António Morais, ou seja, manter a “equipa viva” depois de um início de temporada desastroso que hipotecou as pretensões sportinguistas para o resto da época. Com a tarefa de “remendar” a presente temporada era-lhe, também, exigido que, em seis meses, convencesse as hostes leoninas de que seria treinador para a continuidade. Contudo, ao alterar, e bem, o sistema de jogo instituído por Paulo Bento, aconselhava-se a contratação, no mercado de Janeiro, de pelo menos dois futebolistas com as características de “alas-puros”. Tal facto não se veio a verificar, provavelmente, por falta de “poder reivindicativo” do técnico, junto dos dirigentes leoninos ou, pior ainda, por ele próprio ter aconselhado as contratações de Sinama-Pongolle, Pedro Mendes ou João Pereira, futebolistas que dificilmente desempenhariam os lugares em aberto e que obrigou ás adaptações, pouco conseguidas, de Yannick Djaló e Miguel Veloso, aos flancos.
Não estando em causa a competência técnica e o carácter do treinador, o certo é que, Carlos Carvalhal, em termos de resultados, não teve uma estada muito feliz em Alvalade, atendendo a que a equipa, para além de ter sido eliminada das provas onde ainda possuía algumas aspirações, terminará o campeonato com a maior diferença pontual de sempre, relativamente ao primeiro classificado.
Como os futebolistas rendem conforme a dinâmica criada pelo seu treinador, aguarda-se que, Paulo Sérgio surja em Alvalade motivado e com “ganas” de se sagrar campeão nacional. Contudo, só o tempo poderá confirmar se os objectivos foram, ou não, alcançados e se o novo técnico possui o perfil indicado para dar as alegrias que os simpatizantes leoninos tanto anseiam.