quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os eleitos de Queiroz

O seleccionador português Carlos Queiroz apresentou, na Covilhã, com toda a pompa e circunstância, os 24 seleccionados (um terá de sair) para a disputa da fase final do Mundial de Futebol. Com uma maioria de convocações previsível, verificaram-se, no entanto, algumas inesperadas e incompreensíveis opções, que o risco, pouco calculado, que encerra a convocação de Pepe, não pode justificar.

Guarda-redes:
Se a convocação de Eduardo não foi surpresa, em virtude de ter sido, sempre, a primeira escolha de Carlos Queiroz tendo, inclusive, disputado a quase totalidade dos jogos da fase de apuramento, já a presença de Daniel Fernandes na lista dos escolhidos foi totalmente inesperada, não só por jogar num campeonato com pouco visibilidade em Portugal (Grécia), mas também por se aguardar uma aposta no jovem Rui Patrício, como terceiro e futuro guardião da selecção portuguesa.
Também discutível é a convocação de Beto, em detrimento de Quim, sabendo-se que o guarda-redes do FC Porto para além de não possuir experiência, em termos internacionais, tem sido, durante a época, o suplente crónico de Helton, apresentando-se com “falta de baliza”. Espera-se que, o seleccionador não se venha a arrepender de não ter convocado o “keeper” encarnado, atendendo a que se trata de um futebolista “maduro” e experiente, com um passado, quase ininterrupto, na baliza do Benfica, tendo evidenciado, na época que agora finda, uma forma estável e uma tranquilidade imprescindíveis na conquista do titulo de campeão nacional. Se por mero acaso, na África do Sul, o azar “bater à porta” da selecção portuguesa e uma lesão inesperada ou um, eventual, castigo impossibilite Eduardo de dar o seu contributo à equipa, o seleccionador terá, forçosamente, dificuldades em ultrapassar a situação, uma vez que, no “banco dos suplentes” haverá um guarda-redes jovem, com nula experiência ao nível de selecção (Daniel Fernandes), e outro, um pouco mais experiente mas sem a “rodagem” necessária para a tarefa que o espera (Beto).

Defesas-laterais:
Se não fosse uma inoportuna lesão, a 1ª opção para a lateral direita teria recaído em Bosingwa, pelo trabalho desenvolvido, nas últimas temporadas, que o catapultou para o topo dos melhores laterais do mundo.
Assim, fase à ausência do jogador do Chelsea, foram seleccionados os “suspeitos do costume”: Miguel e Paulo Ferreira. Com ambos a atravessarem uma fase menos conseguida das carreiras e sem nunca terem evidenciado um grande desempenho, na defesa das cores nacionais, eram, mesmo assim, das escolhas mais esperadas do seleccionador. Se Miguel tem a seu favor, uma presença constante na defesa do Valência, já o mesmo não aconteceu com Paulo Ferreira, no Chelsea, que, não passando de um jogador de nível mediado, justifica a sua convocação pela possibilidade de jogar à direita e à esquerda e, principalmente, pela disciplina, rigor e obediência cega aos técnicos. Quem não tem cão caça com gato.
Para o lado esquerdo, finalmente, aparecem dois esquerdinos natos. Não possuindo as características de “defesas de raiz”, Duda e Fábio Coentrão são laterais-esquerdos improvisados que tentam “remendar” o flanco esquerdo mais recuado, aproveitando a lacuna existente no futebol português. Em face do campeonato realizado prevê-se que, a titularidade seja concedida ao futebolista do Benfica que, devido à sua polivalência poderá vir ser muito útil, em terrenos mais avançados. Por outro lado, não se poderá excluir a possibilidade de Miguel Veloso desempenhar tarefas, no lado esquerdo da defensiva nacional.

Defesas-centrais:
No eixo da defensa, Portugal encontra-se bem servido e os defesas-centrais, à disposição do seleccionador, são sinónimo de garantia de qualidade, experiência e segurança e um dos “pontos-forte” da selecção nacional. Ricardo Carvalho, Pepe, Bruno Alves serão, por ventura, dos melhores centrais da Europa e a opção Rolando, como quarto elemento, também era esperada, contrariamente ao que se verificou com a chamada de Ricardo Costa e José Castro. Com o argumento, perfeitamente justificável, de seleccionar mais um central, devido á forte possibilidade de Pepe não se apresentar totalmente recuperado, sem condição física e o necessário ritmo competitivo para disputar o mundial, a alternativa incidiu em Ricardo Costa e José Castro, jogadores que defendem as cores, respectivamente, do Lille e do Corunha, onde não atingiram especial evidência.
Provavelmente, com outro seleccionador, Tonel e/ou Daniel Carriço teriam tido um voto de confiança, mas Carlos Queiroz foi pela solução mais fácil e preferiu convocar Ricardo Costa, capaz de jogar em todas as posições do sector recuado, e José Castro que poderá desempenhar funções de “trinco”, numa opção já ensaiada e de resultado duvidoso.

Médios:
Surpreendente, na convocatória, foi não só número de médios seleccionados, apenas cinco, quando se aconselhava dois elementos para cada posição, mas, principalmente, o afastamento de João Moutinho dos eleitos, uma vez que não tinha falhado qualquer das 12 convocatórias anteriores de Carlos Queiroz.
De facto, com dois “trinco” (Pedro Mendes e Miguel Veloso) e dois médios mais ofensivos (Deco e Tiago) esperava-se a convocação do sportinguista, não só por se adaptar, facilmente, a várias posições na zona intermediária mas também por ser garantia de energia e da entrega do “costume”, podendo alternar com Raul Meireles as tarefas de transposição de jogo.
Também se lamenta a impossibilidade de Ruben Amorim dar contributo à equipa e ser uma forte opção a Deco que, atendendo à época irregular, na Liga Inglesa, poderá não corresponder em pleno ao exigido, por carência de forma ou de motivação. De salientar que, as características patenteadas por Danny se adaptam, quase na perfeição, à posição de nº 10.

Avançados:
Dificilmente, a escolha dos três avançados titulares, não passará por Cristiano Ronaldo, Liedson e Nani. Com o afastamento, perfeitamente, justificado pela falta de jogos de Ricardo Quaresma e Nuno Gomes era previsível a entrada, no grupo dos escolhidos, de Hugo Almeida que, devido às suas qualidades físicas poderá funcionar como recurso e “abre-latas” das defensivas contrárias. Simão irá alternar, nas alas, um lugar com Nani, sempre com Danny à “espreita” de uma oportunidade de “ir a jogo”.

Questionar-se-á as ausências, no grupo dos convocados, de Nuno Assis, João Pereira, Carlos Martins ou Ruben Amorim, jogadores que “fizeram” uma excelente época ao serviço dos seus clubes, contudo sem passado, ao nível da principal selecção portuguesa, e que nunca pertenceram ao “núcleo duro” do seleccionador.
Espera-se que, o professor Carlos Queiroz não se tenha enganado e que o seu “discurso científico” chegue aos jogadores, já que dos adeptos e apoiantes da selecção, dificilmente, conseguirá aproximar-se.

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