sábado, 1 de maio de 2010

Um perfil

Quem “faz” os treinadores são os resultados.
Em diversas ocasiões treinadores, credenciados, não confirmaram as expectativas neles depositadas e acabaram por abandonar, precocemente, os clubes que os tinham contratado.
Os adeptos e simpatizantes do Sporting sabem bem que, técnicos de elevado gabarito, desde Gentil Cardoso até Giuseppe Materazzi passando por Jean Luciano, Fernando Argila, Di Stefano, Fernando Riera, Jimmy Hagan, Paulo Emílio, Milorad Pavic, Josef Venglos, John Toshack, Keith Burkinshaw, Bobby Robson, Robert Waseige, Vicente Cantatore e Mirko Jozic, que entraram em Alvalade com elevados índices de confiança e legitimas aspirações em alcançar o sucesso, nada conseguiram vencer.
Por outro lado, treinadores como Mário Lino, Fernando Mendes, Rodrigues Dias ou Augusto Inácio, com curriculum pouco repleto de êxitos, quando assinaram pelo clube verde e branco, contribuíram de forma brilhante para a conquista de troféus e o enriquecimento do museu do clube.
Com apenas duas épocas na I Liga, Paulo Sérgio ingressa no clube de Alvalade exibindo um conjunto de características muito idênticas às patenteadas pela grande maioria dos seus antecessores. Português, jovem, ambicioso e inexperiente, exibe como maior proeza curricular a disputa de uma final da Taça de Portugal, no comando técnico do Paços de Ferreira. No entanto, o actual treinador do Vitória de Guimarães traduz uma aposta forte da gestão da SAD leonina, não só na recuperação da equipa de futebol, mas também na manutenção e evolução dos jovens futebolistas saídos da Academia.
Para quem tem estado atento ao desempenho do Vitória minhoto, na principal Liga, facilmente se terá apercebido de que a equipa tem sido o espelho da filosofia de jogo do seu técnico. De facto, Paulo Sérgio “arrumou” a equipa, preferencialmente, em 4x3x3, na variante táctica que mais se adapta ao futebol português, o 4x2x3x1. Com um quarteto defensivo bem definido (Andrezinho, Gustavo Lazzaretti, Valdomiro e Bruno Teles), onde o defesa-esquerdo é, preferencialmente, um canhoto e um meio-campo apoiado num trinco, com elevado sentido de marcação e sempre disponível para as “dobras” ao sector defensivo (Flávio Meireles), entregou as tarefas da “ligação intermediária” a um médio criativo, tecnicamente evoluído e com bom remate de meia-distância (João Alves). Mais à frente surgiram dois médios-atacantes bem abertos nas alas (Targino e Desmarets) com a finalidade de dar profundidade ao jogo da equipa e, sempre que aconselhável, seguimento a venenoso contra-ataque. Em “cunha”, com a missão de converter em golos o trabalho desenvolvido pelos restantes elementos surge um ponta-de-lança, peitudo, com bom jogo de cabeça e de remate fácil (Douglas). Nas costas do avançado “aparece” o maestro, o chamado nº 10, sempre pronto para “abrir as linhas de passe” e com capacidade para organizar as jogadas de envolvimento ofensivo (Nuno Assis).
Saliente-se que, Carlos Carvalhal foi contrato, pelos responsáveis leoninos, para desempenhar funções e desenvolver um trabalho muito semelhante ao solicitado, em épocas mais remotas, a Anselmo Fernandez, Armando Ferreira, Juca ou a António Morais, ou seja, manter a “equipa viva” depois de um início de temporada desastroso que hipotecou as pretensões sportinguistas para o resto da época. Com a tarefa de “remendar” a presente temporada era-lhe, também, exigido que, em seis meses, convencesse as hostes leoninas de que seria treinador para a continuidade. Contudo, ao alterar, e bem, o sistema de jogo instituído por Paulo Bento, aconselhava-se a contratação, no mercado de Janeiro, de pelo menos dois futebolistas com as características de “alas-puros”. Tal facto não se veio a verificar, provavelmente, por falta de “poder reivindicativo” do técnico, junto dos dirigentes leoninos ou, pior ainda, por ele próprio ter aconselhado as contratações de Sinama-Pongolle, Pedro Mendes ou João Pereira, futebolistas que dificilmente desempenhariam os lugares em aberto e que obrigou ás adaptações, pouco conseguidas, de Yannick Djaló e Miguel Veloso, aos flancos.
Não estando em causa a competência técnica e o carácter do treinador, o certo é que, Carlos Carvalhal, em termos de resultados, não teve uma estada muito feliz em Alvalade, atendendo a que a equipa, para além de ter sido eliminada das provas onde ainda possuía algumas aspirações, terminará o campeonato com a maior diferença pontual de sempre, relativamente ao primeiro classificado.
Como os futebolistas rendem conforme a dinâmica criada pelo seu treinador, aguarda-se que, Paulo Sérgio surja em Alvalade motivado e com “ganas” de se sagrar campeão nacional. Contudo, só o tempo poderá confirmar se os objectivos foram, ou não, alcançados e se o novo técnico possui o perfil indicado para dar as alegrias que os simpatizantes leoninos tanto anseiam.

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