domingo, 14 de junho de 2009

"Brilhantes gestores"

Já conhecíamos o “sacrifício” e dedicação de certos políticos que, abdicando de mordomias, renunciam a cargos em empresas privadas ou semi-públicas, principescamente remunerados, por vezes atirando para segundo plano o próprio agregado familiar, tudo em nome da lealdade à governação e devoção à causa pública.
O desenvolvimento do processo de candidatura do novo presidente leonino trás à lembrança não só a postura de alguns pseudo-políticos, da nossa praça, como faz recordar uma frase que ficou imortalizada, no léxico do nosso futebol. Foi proferida há anos pelo Dr. Pimenta Machado, então presidente do V. Guimarães, provavelmente reconhecendo pecados próprios, que enunciou: «No futebol o que hoje é verdade, amanhã é mentira». Expressão que se aplica, na perfeição, à decisão tomada pelo Dr. José Eduardo Bettecourt, que abdicou de um alto cargo no Banco Totta Santander, “deu o dito por não dito” e assumiu-se como o protagonista principal da “candidatura de continuidade do reino leonino”.
Já conhecido nos meios futebolísticos, Bettecourt assumiu as rédeas do Sporting e prepara-se não só para dar seguimento ao plano de reestruturação financeiro, defendido pelo seu antecessor, mas também para auferir 800.000 € + Prémios, anuais, que representa quatro vezes os honorários do sempre criticado Pinto da Costa. Mas, segundo o próprio, o projecto é de continuidade e o trabalho será desenvolvido e assente na sustentabilidade de uma politica de rigor, equilíbrio financeiro e nas sempre apregoadas seriedade, honestidade e solidariedade.
No Sporting só se altera o emblema e em certos jogos a cor das camisolas, já que nem as moscas mudam, mantendo-se a ”monarquia” e as mordomias inerentes aos cargos dos sempre presentes, Ribeiro Teles, Moniz Pereira, Ernesto Ferreira da Silva, Rogério Alves, Agostinho Abade, Filipe Nobre Guedes, etc., apoiados numa equipa técnica de futebol, que recebe prémios de desempenho sem nada ter vencido e, onde existem funcionários (ex.: Pedro Barbosa, Sá Pinto, etc.) em funções onde não se conhecem, com exactidão, as atribuições.
Com a pressão da banca (BCP e BES), parceira leonina num novo “project-finance” defendido pelo antigo presidente e com José Eduardo Bettecourt, seu sucessor em linha directa, a defender as mesmas ideias e ocultando a real situação económica/financeira do clube, não será difícil compreender a decisão de apostar num “plano de reestruturação” que manterá o Sporting amordaçado, em termos de resultados desportivos.
Por outro lado, o “presidente situacionista” deverá, mais cedo ou mais tarde, por exigência também da banca, transferir a Academia, património do Sporting, para a SAD, tendo como única preocupação a defesa dos accionistas da SAD, em detrimento dos sócios do clube.
Património desportivo do Sporting e situada numa zona de valorização, próxima do futuro aeroporto, a Academia é uma valiosa fonte de receita do clube que desaparecerá e se tornará em menos uma despesa para a SAD, que segundo parece é muito lucrativa. Alguém terá de fazer ver, a tão “brilhantes gestores”, que o clube não é o mesmo que a SAD. O clube é dos sócios e a SAD é de meia dúzia de accionistas, muitos deles nem sportinguistas são.
Por outro lado, ao transformar Paulo Bento numa figura consensual, na actual estrutura directiva, é abrir uma “via verde” para a continuidade do “Ferguson em Alvalade”, fazendo crer aos associados e simpatizantes leoninos que se luta pela conquista dos títulos, há muito arredados do futebol.
Mais tarde ou mais cedo, o Sporting terá, forçosamente, de ser devolvido aos sportinguistas, com vista a recuperar a mística e a militância dos seus sócios e simpatizantes, sempre empenhados em acrescentar palmarés a um clube centenário.

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