terça-feira, 9 de junho de 2009

"O mais custoso"

Coleccionar é sinónimo de procura, motivando o coleccionador a constantes buscas de material que possam valorizar o seu património e proporcionar horas de lazer, aproveitadas para analisar temas de colecção que se coadunam com os gostos e vocações.
As antigas cadernetas de colecções de cromos desportivos, que por vezes folheamos, proporcionam viajar com incrível facilidade pelo mundo do desporto, conseguindo com elas reconstituir cenários passados, recordar atletas que, pelos seus feitos, ficaram para sempre no nosso imaginário.
O contributo da imagem para a popularização do futebol é tal que, em Portugal, logo nos anos 20, surgem, em rebuçados e também nos maços de cigarros, os futebolistas da época, erguidos ao estatuto de ídolos e cativando de forma crescente jovens camadas de público. Tratava-se, neste caso, de dar a conhecer os intérpretes do jogo.
Na década de 50 quando, ainda de calções, íamos todos à mercearia da esquina comprar os rebuçados desportivos, começavam a proliferar as colecções de «bonecos», com a introdução no léxico juvenil de novas expressões como: «tens prá troca?», «o número da bola» ou «o mais custoso».
A explosão do cromo não se cingiu unicamente ao espaço desportivo. Havia também outras cadernetas temáticas que acolhiam heróis e figuras de assuntos variados e que abriam espaço à imaginação.
O cromo da nossa infância, no que se refere ao futebol, vivia bastante de uma quase impossibilidade prática: obter o mais custoso, chegando a haver milhares de cadernetas em mãos de crianças às quais faltava apenas esse cromo, para se poder ir buscar à loja, a bola de cauchu que funcionava como prémio. Se existia a garantia que cada caixa tinha um exemplar do mais custoso, a natural astúcia dos negociantes de cromos, levava-os, por vezes, a colar o cobiçado rebuçado no fundo da caixa, fornecendo-o a quem, mais abastado, arrebatasse os últimos restantes. Normalmente o felizardo era o filho do dono do estabelecimento que, apercebendo-se de que a caixa se aproximava do fim, se apoderava daquele tesouro supremo e, logicamente, da respectiva bola de cauchu.

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