sábado, 14 de agosto de 2010

O Deslumbrado

A contratação de Jorge Jesus, no inicio da época de 2009-2010, como responsável máximo da equipa de futebol do Benfica, proporcionou ao técnico não só uma melhoria significativa das suas condições de trabalho, mas também uma responsabilização muito acima dos níveis a que estava habituado, nos clubes por onde tinha passado.
Fascinado pela oportunidade concedida, de treinar um grande clube, o técnico começou, como é habitual, por exigir a aquisição de alguns atletas que lhe oferecessem garantias de implementação do sistema de jogo, preferencialmente, utilizado (losango). Assim, começam a chegar à Luz futebolistas da confiança do treinador mas de duvidosa qualidade. Se é certo que alguns foram contratados à revelia do técnico, em fase anterior à sua chegada, a maioria foram-no com a sua total conivência e aconselhamento. Estranha-se que, jogadores como Shaffer, Patric, Kerrison, Júlio César, Weldon, Felipe Meneses, César Peixoto e Eder Luís, só para citar alguns, com poucas condições para jogar num clube com as aspirações do Benfica, não tenham sido objecto de uma cuidadosa observação e uma detalhada análise das suas reais potencialidades, quer por parte da equipa técnica quer por parte dos dirigentes encarnados. Como era de esperar os desempenhos, de alguns futebolistas, não foram os mais conseguidos, mas como o clube encarnado conseguiu o titulo máximo do futebol nacional, as duvidosas escolhas e as desastrosas opções acabaram por se diluir à medida que os resultados positivos iam sendo alcançados.
Um título de campeão, pouca habituação ao êxito, possuidor de uma cultura débil com evidentes tiques de “novo riquismo” encontravam-se reunidas as condições para que um fácil deslumbramento se apoderasse de Jorge Jesus. Também as prestações de Fábio Coentrão, ao longo da temporada, que levaram o técnico encarnado a chamar a si os louros da transformação de um mediano médio-ala, num excelente defesa-esquerdo, contribuíram para o encantamento.
Iniciada a pré-temporada e consumado o abandono de Di Maria, elemento fundamental na dinâmica imposta na interpretação do “losango”, tornava-se imperioso “ir ao mercado” tentar colmatar a saída de tão importante elemento. Mais uma vez, a perspicácia e o sentido de análise das potencialidaes, de eventuais candidatos, não foram os mais eficazes. De facto, Gaitan está longe de preencher a vaga deixada por Di Maria, uma vez que, o argentino oriundo do Boca Juniors se tem revelado, nos poucos jogos já disputados, um esquerdino de bom recorte técnico mas com evidentes dificuldades de adaptação ao lugar de médio-ala-esquerdo, com as suas qualidades a definem-no como um elemento vocacionado para desempenhar o papel de nº 10.
Depois de cometido mais um “erro de casting”, e nem convém abordar a problemática dos guarda-redes Quim, Júlio César e Roberto, Jorge Jesus, presentemente, terá de recorrer a três soluções “em carteira”:
- Dar a mão à palmatória e insiste com os dirigentes no sentido de rectificar algumas das asneiras cometidas, abrindo mais uma vez os “cordões à bolsa” para a aquisição de um ala/extremo, com características idênticas ás evidenciadas por Di Maria;
- Alterar o sistema táctico para 4x3x3, “mandando às ortigas” o tão mecanizado losango, que tão bons resultados proporcionou, na época transacta, mantendo Fábio Coentrão na posição de defesa-esquerdo;
- Ou, decidir trabalhar o meio-campo com Fábio na ala esquerda e César Peixoto a lateral-esquerdo, solução que retardou o “aparecimento” do vila-condense, e que retira dinâmica e agressividade a um jogador que necessita de espaço para “embalar” até à linha de fundo.
Curioso verificar que, após o técnico encarnado se ter auto-elogiado pela “transformação” operada, em seis meses, no rendimento de Fábio Coentrão classificando-o, inclusive, como o melhor defesa esquerdo da Europa, veja-se na contingência, por falta de visão ou ausência de perspicácia na escolha de novos elementos, de fazer regressar o esquerdino ao seu antigo posto de médio-ala que, em épocas não muito distantes, nunca o projectou para alto nível exibicional.
A derrota na final da Supertaça frente ao FC Porto terá sido “um dos males que vêm por bem”, ao evidenciar algumas das carências existentes no plantel encarnado e que os seus responsáveis máximos não poderão ignorar. Por outro lado, está a contribuir para “fazer regressar Jesus à Terra”, tornando-o mais cuidadoso no aconselhamento de novos futebolistas, afastando-o da arrogância descabida que, ultimamente, o tem caracterizado apontando-lhe o caminho da humildade, tão necessária nas criaturas com presente, mas de passado pouco mediático.

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