domingo, 17 de outubro de 2010

O "Chico Pipi"

Nos anos quarenta/cinquenta do século passado, passou pelas hostes encarnadas um futebolista de eleição e de raro talento. Quem o viu actuar diz que Rogério foi o futebolista mais genial que passou pelas hostes benfiquistas, antes de Eusébio ter desembarcado no aeroporto da Portela, em Dezembro de 1960.
Rogério era um driblador extraordinário e um temível marcador de golos. Como era elegante e gostava de se vestir bem, um dia, um famoso alfaiate convidou-o a posar. Vestiram-lhe um fato de gala, chamaram um fotógrafo e apareceu na primeira página da revista “Flama” como se fosse um artista de Hollywood. Como estava todo “pipi”, nome dado aos rapazes da moda, o Rogério Lantres de Carvalho passou a ser conhecido pela alcunha, lançada pelos seus colegas, “Rogério Pipi”.
Embora a qualidade futebolística de Francisco José Rodrigues da Costa, de “sobriquet” Costinha, tenha ficado a anos-luz da classe patenteada por Rogério, também a alcunha de “ministro”, que tão orgulhosamente ostenta, não surgiu, propriamente, da sua fraca vocação para a governação, como actualmente se recomenda aos comediantes (onde se lê comediantes deve ler-se governantes), mas tão somente pelas fatiotas que enverga.
Hoje em dia, a vestimenta deixou de distinguir o estrato social, a personalidade ou o estilo de vida. Com a globalização alguns jovens começaram a usar as “jeans” rotas, debotadas e, provocantemente, abaixo da cintura, evidenciando zonas até então desconhecidas, seguindo a tendência da moda.
Por outro lado, numa sociedade regida pelo poder económico, não é alheio o aparecimento de um elevado grau de ostentação e exibicionismo, que se reflecte na roupa que se usa e que, por vezes, contraria a própria preferência ou personalidade.
De origem humilde, mas com um caminho percorrido, no cumprimento da carreira futebolística, que lhe proporcionou não só elevada disponibilidade financeira mas também convivência e proximidade com culturas de diferentes países, Costinha não conseguiu o discernimento necessário para se afastar do ridículo e da pirosice precoce, normalmente, orientados por padrões culturalmente débeis.
Como as manifestações de exibicionismo não conhecem limites, não foi difícil a descoberta dos fatos coloridos, confeccionados por medida, às riscas ou aos quadrados, complementados por camisas rosas, violetas ou cor de púrpura, adornadas com berrantes gravatas, pouco consentâneos com o cargo que ocupa. Também os óculos de marca adornando zonas capilares, abrilhantadas por camadas de gel, evidenciam sinais de uma descabida pseudo elevação social.
O “caso Izmailov” colocou a nu alguma inexperiência e ingenuidade na gestão dos recursos humanos da SAD leonina, fazendo supor que, em Alvalade, há quem queira mostrar autoridade, mas não saiba bem o que isso é. Só a sede de protagonismo e a necessidade de afirmação imediata explica a campanha organizada contra Izmailov, um profissional sempre admirado pelos associados, pela sua entrega e profissionalismo em campo.
Os adeptos leoninos não querem acreditar que, tudo se resuma a uma “luta” entre empresários, sabendo-se que, Jorge Mendes tem sido o “gestor de carreira” de Costinha, e que Paulo Barbosa é, presentemente, o empresário de Izmailov. Ou tudo se justifica pela necessidade de “limpeza” de alguns resíduos deixados, quando da sua pouco conseguida passagem pelo Dínamo de Moscovo?

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