sábado, 6 de dezembro de 2008

Novas tecnologias

A polémica está a instalar-se, sendo a “verdade desportiva” a bandeira daqueles que defendem a introdução das “novas tecnologias” no futebol.
Só que a “verdade desportiva” não é propriedade de alguns, mas de todos aqueles que acompanham e apreciam o futebol como competição e espectáculo.
Por outro lado, as “novas tecnologias” não são uma panaceia nem se podem transformar numa utopia ao pensar-se que vão resolver todos os problemas dos “erros futebolísticos” dos “homens do apito”.
Não é inocentemente que os árbitros, principais visados, apoiam na generalidade a introdução dos novos “métodos a análise”, uma vez que, prevêem a tarefa mais facilitada, a desresponsabilização aumentada e monetariamente sem consequências.
Todo o cuidado é pouco e não queiram decapitar uma “galinha” que, presentemente, já quase não consegue chocar ovos, quanto mais de ouro.
Os apologistas da introdução das “novas tecnologias” apontam com frequência a experiência do rugby, esquecendo que o futebol é um jogo muito mais dinâmico e onde as interrupções não são tão frequentes.
Os mais cautelosos defendem que, as “novas soluções” deveriam ver a sua aplicação reduzida e restringida aos lances polémicos ocorridos perto da linha de golo, ajuizando se a bola transpôs ou não o “risco fatal”. A solução seria implementada com a colocação de censores no esférico, mas nunca com a introdução de um juiz de baliza, pois isso iria trazer mais um “factor humano” ao jogo. O que não é aconselhável.
Outros, querem limitar a aplicação das “novas técnicas” à grande-área (ex.: foras-de-jogo, penalties, etc.), “atirando” para 2º plano e desprezando as dúvidas surgidas na avaliação de certas faltas ocorridas nas restantes zonas do terreno de jogo e que, todos sabemos, podem “matar”, influenciar e falsear o desfecho do encontro. Muitas dessas pseudo-infracções são “cavadas” e simuladas pelos intervenientes que originam a apresentação de cartões e eventuais expulsões, “cortando” lances que poderiam terminar em golo.
Os mais radicais, normalmente habituados a jogar “playstation”, são da opinião que, os “meios tecnológicos” deveriam contemplar todo o terreno de jogo, apoiados por vários tipos de câmaras, situadas em diversos ângulos de incidência. Por outras palavras estão a declarar que, se prescinde do árbitro, no campo, e se coloca o juiz da partida numa “torre de controlo”, que poderá estar localizada a quilómetros de distância, rodeado por diversos ecrãs que vão dando informações visuais, ao pormenor, daquilo que se passa no terreno de jogo. Pelos vistos, as decisões poderiam vir a ser comunicadas através dos altifalantes do estádio ou por megafone, do representante da Liga.
De facto, as “novas tecnologias” servem, às mil maravilhas, a todos aqueles adeptos que, após os desafios, e desconhecendo estratégias, tácticas e características técnicas dos futebolistas, fazem uso do seu fervor clubista e, de forma simplista, se limitam a discutir se a bola saiu ou entrou, se foi falta ou não, se o avançado estava em linha ou na posição de fora de jogo ou se existiram “roubos de igreja”.
A polémica promete, mas não se pode tratar de um tema tão complexo com a ligeireza como tem sido abordado, muito menos sem existir uma concretização efectiva e exemplificativa da aplicação das “novas tecnologias” a um jogo, previamente filmado, onde seria, forçosamente, contabilizado o tempo de paragem.
É irrealista pensar-se que, ao interromper o encontro, “a toda a hora”, para ajuizar lances duvidosos, também eles sujeitos a juízos de terceiros, torna o jogo mais aliciante e verdadeiro, trazendo benefícios ao espectáculo, sabendo-se que o erro de avaliação continuará a subsistir, sempre que se verifique a existência de dois indivíduos de cor clubista diferenciada.
Como actuar em situações como a que ocorreu no encontro disputado, esta época entre o Benfica e a Naval, quando o rápido Marinho fazendo uso do seu forte poder de arranque se isolou na “cara” do guardião Quim e, quando se preparava para marcar, lhe é assinalado um off-side inexistente? É “menos golo” que um penalty, eventualmente, assinalado pelas “novas tecnologias”, que até pode ser desperdiçado? Como proceder? Coloca-se novamente o Quim na linha de golo e o Marinho a correr desde a linha intermédia? O que fazer no posicionamento dos outros elementos em campo, que entretanto se movimentaram e saíram da posição inicial? Como é que os patrocinadores das “novas técnicas de análise” resolvem uma situação como a verificada?
O que os “fundamentalistas” pretendem não é “verdade desportiva”, é mais a imposição do “tecno-futebol” ou do “futebol computorizado”, uma vez que o futebol como foi idealizado, concebido e que tem vindo a evoluir ao longo dos anos, continua a ser aquele que é jogado entre o Arroios e o Vitória da Picheleira, o Cinfães e o Avanca ou entre o Olímpico do Montijo e o Moitense, uma vez que nesses encontros não está presente a televisão, nem câmaras instaladas que possam “ajudar” os “homens do apito”.
Com o pretexto da “verdade desportiva”, aplicada aos lances polémicos, não se pode cair na insensatez de querer “tapar o sol com a peneira” e, inconscientemente, introduzir mais injustiça e desigualdade desportiva no “jogo do século”……..…passado.
Conservador, “Velho do Restelo”, retrógrado, chamem-me o que quiserem, mas insensato, incoerente e utópico, não.

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