sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"Quando um escudo era um escudo"

Mais um livro que, em tempo de férias, se lê de um folgo.
Conta a história de um condenado procurado pela justiça.
É da autoria do advogado, António Pragal Colaço, benfiquista dos quatro costados, e dá-nos a conhecer diversas jogadas escuras de alta finança, protagonizadas pelo antigo presidente encarnado, João Vale e Azevedo.
Para além de algumas burlas e vigarices que têm caracterizado o percurso de vida de tão “brilhante advogado”, ficamos também a conhecer, em pormenor, as principais “golpadas” dadas no património encarnado pelo homem que, em plena campanha eleitoral à presidência benfiquista, afirmava com rigor e convicção que: «Um escudo é um escudo».
Começou por rasgar os contratos com a Olivedesportos, apostando na passagem dos direitos de transmissão dos jogos para a SIC. Com esta atitude, leviana e inconsciente, Vale e Azevedo estava a dar a primeira machada no Sport Lisboa e Benfica cuja acção, considerada improcedente pelo Tribunal, acabou por forçar o clube a um acordo que conduziu a uma dação em pagamento através de participações financeiras, no grupo empresarial, no montante de 2,137 milhões de contos, acrescidos de juros. Só em custas, pagas aos tribunais, a factura rondou os 300 mil contos. Se acrescentarmos, ainda, as despesas com os advogados, podemos concluir que o mandato de Vale e Azevedo se iniciava de forma pouco promissora, para o clube da Luz.
A contratação de Poborsky que, em princípio, custaria 600 mil contos, acabaria por ficar em um milhão de contos ao clube encarnado. Vale e Azevedo arrecadaria 400 mil contos com a transferência, através da “fabricação” de um documento escrito em inglês, no qual o Benfica teria de pagar aquela verba, relativa à exploração dos direitos de imagem do futebolista, a uma empresa sedeada na Suiça e da qual o presidente encarnado era o representante.
O negócio Kandaurov não ficaria ao Benfica nos 270 mil contos anunciados, como grande pechincha, pelo então presidente. Mais uma vez e à semelhança daquilo que tinha feito com Poborsky, Vale e Azevedo decidiu “fabricar” mais um documento que apelidou de direitos de imagem sobre o jogador, devendo o Benfica pagar a quantia de um milhão de dólares a outra empresa, também com sede em Zurique, onde o presidente encarnado era o principal interessado.
Também a transferência de Ovchinnikov do Benfica para o Alverca deu origem a um crime de peculato tendo, parte do dinheiro, servido para pagar a última prestação do luxuoso iate “Lucky Me”, onde Vale e Azevedo e a família saboreavam longos cruzeiros.
O processo Euroárea foi mais uma delapidação do património benfiquista no montante, aproximado, de 60 milhões de euros. Depois de registar os terrenos que já pertenciam ao Benfica, Vale e Azevedo vendeu-os logo de seguida a preços irrisórios, quando o metro quadrado estava avaliado no dobro. Alguém se terá aproveitado de um momento economicamente débil do clube? Ou talvez não?
Para quem tinha prometido, em campanha eleitoral, que com ele no Benfica os contratos dos futebolistas eram realizados por “objectivos” e sem empresários, a receber comissões, não esteve nada mal.
Nem um anti-benfiquista primário, fanático sportinguista ou do FC Porto, conseguiria prejudicar tanto o Benfica como o fez o ex-presidente João António de Araújo Vale e Azevedo.
Com a justiça “à perna” e para fugir da cadeia em Portugal, refugiou-se em Londres com a mulher Filipa, a grande estratega de muitas das suas “operações”.

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