segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Orçamento ou demagogia?


Possivelmente herdámos dos romanos, fenícios, cartagineses, eventualmente, dos árabes, quando da sua passagem pela Península Ibérica, a propensão para culpabilizar terceiros, por actos menos conseguidos da nossa autoria. Nos outros actos, aqueles onde se consegue atingir com êxito os objectivos preconizados, mesmo não sendo de nossa inteira responsabilidade, somos lestos a clamar os louros do sucesso.
Como portugueses que se prezam, os responsáveis pela condução dos destinos do Sporting, e não enxergando argumentos mais válidos, denunciaram o “orçamento” como o grande causador para o descalabro desportivo, de início de temporada.
Contudo, não foram orçamentos identicamente reduzidos, que impediram a equipa leonina, nas últimas épocas, de vencer duas Taças de Portugal, duas Supertaças, disputar as finais da Taça da Liga, estar presente nas últimas cinco edições da Liga dos Campeões e conquistar a maioria dos pontos em disputa com os principais rivais (FCP e SLB), de orçamentos bem mais recheados.
Também não parece de bom-tom evocar um “orçamento”, com as costas largas mas com os bolsos pequenos, que em confrontos directos com outros orçamentos bem menos abastados (ex.: Nacional, V. Guimarães, Sp. Braga) raramente os consegue levar de vencida.
Os “maiores orçamentos do mundo” pouco têm provado. Abordar o tema dos galácticos do Real Madrid, que pouco rentabilizaram, ou os grandes investimentos em futebolistas de nomeada, dos principais clubes europeus, é contar histórias de fracasso atrás de fracasso.
Os êxitos dependem principalmente de “gestões” competentes e de decisões inteligentes e muito pouco de “gestões demagógicas” e orçamentos avultados. Os dirigentes e responsáveis técnicos do futebol leonino antes de “sacudirem” o fardo dos maus resultados para cima do “minúsculo orçamento” deveriam assumir a sua quota parte de responsabilização em opções, muitas delas incompreensíveis, relacionadas com a condução da equipa de futebol e que têm interferido, de forma pouco abonatória, para a situação financeira, agora vivida.
Também se desconhece os responsáveis pelo aumento dos custos inerente à aquisição e pagamento de honorários a jogadores que, por não possuírem categoria suficiente para representar o clube ou por dificuldades de afirmação na equipa, representaram negócios ruinosos e bastante discutíveis. São exemplos disso: Ronny, Gladstone, Marian Had, Farnerud, Romagnoli, Celsinho, Purovic, Stojkovic, Paredes, João Alves, Deivid, Douala, Bueno, Tello, Manoel, Mota, Rogério, Silva, Luís Loureiro, Pinilla, Edson, Wender, Koke, Luis Paéz e Rodrigo Tiuí. Os regressos de Rochemback e Caneira para além de descabidos, também, não contribuíram para a melhoria financeira.
Intoleráveis, por existirem verbas disponíveis resultantes da presença da equipa na Liga dos Campeões, são os prémios de desempenho atribuídos, na época passada, à equipa técnica e aos dirigentes que gravitam em seu redor, sabendo que os títulos e os troféus estiveram completamente afastados da equipa de futebol.
Num clube, onde o seu plantel é constituído por um elevado número de futebolistas oriundos das camadas jovens, alguns com cláusulas de rescisão de contrato superiores aos 25 milhões de euros, que fornece à selecção nacional 3/4 jogadores, com uma equipa técnica que se mantêm num lugar estável há aproximadamente quatro épocas, é pouco perceptível que o orçamento possa justificar os actuais insucessos desportivos.

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