quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Hulk vai nu!

Era uma vez um rei muito vaidoso que gostava de andar bem vestido. Um dia, dois alfaiates intrujões convenceram-no de que tinham um tecido, de muito boa qualidade, que só os tolos não eram capazes de o ver. Com o objectivo de distinguir entre as pessoas inteligentes e as idiotas, que frequentavam a sua corte, o rei logo solicitou um fato com o novo tecido.
Algumas semanas depois, os dois aldrabões apresentaram ao rei o novo fato fazendo de conta que o estavam a vestir e com exclamações elogiosas à nova vestimenta. Este não via nada da nova roupa, mas como não queria passar por parvo, respondeu que era muito bela, tal como aconteceu com os restantes membros da corte que, também acharam o fato uma verdadeira maravilha.
Um dia o rei resolveu sair à rua para mostrar ao povo o novo vestuário e como ninguém queria passar por trouxa, só recebia elogios pelas novas vestes até que, a certa altura, uma criança com toda a sua inocência gritou: - Olha, olha! O rei vai nu!
Foi um espanto! Gargalhada geral. Só então o rei compreendeu que fora enganado.

Analogias com este conto tradicional português são por demais evidentes quando se trata de avaliar e potenciar as qualidades futebolísticas do avançado brasileiro do FC Porto, Givanildo Vieira de Souza, mais conhecido por Hulk.
Tal como no clássico conto, são variadas as vozes que se erguem em elogiosos atributos, numa “corte” reunida em painéis desportivos, constituída por pseudo-comentadores, mais conhecidos por “paineleiros”, e onde se perfilam opiniões coincidentes.
Também os jornais da especialidade, numa unanimidade pouco saudável, classificam o futebolista como um verdadeiro fora-de-série, apontando-o, inclusive, a médio prazo, como um sério candidato a melhor jogador do planeta.
Provavelmente, ou estão a “tomar a nuvem por Juno”, ou tal como no conto, a “ver” alguma coisa que, por enquanto, não existe.
De facto, parece estarmos na presença de um futebolista que, embora ainda jovem e com considerável margem de progressão à sua frente, já evidencia algum potencial, mas que ainda se encontra numa fase de formação e de “crescimento futebolístico”, necessitando de algumas correcções a naturais deficiências e “imperfeições”, tendo em vista o aperfeiçoamento das suas capacidades.
Explosivo e fisicamente poderoso, mas ainda ingénuo e individualista, os adversários servem-se dessas características para o “travar”. As manifestações de evidente descontrolo emocional, em reacção às faltas que sobre ele são cometidas, as queixas insistentes e os excessos verbais, junto dos árbitros, reflectem-se no seu rendimento em campo. Também, o exagerado egoísmo que vem denotando condiciona e impede-o de tornar-se num jogador de equipa que, logicamente, sofreria menos faltas e marcaria mais golos.
Jesualdo Ferreira ao afirmar que pretende “fazer” de Hulk um goleador, colocando-o na posição 9, para além de estar a limitar o espaço de acção do próprio futebolista, estará a prescindir, à partida, de um avançado-centro tradicional, candidato natural à Bola de Prata. Por outro lado, ao fazer descair Hulk para uma das alas, o técnico está a introduzir um “corpo estranho” na estratégia, adulterando um 4-3-3 que tão bons resultados têm proporcionado ao clube do Dragão, e que “vive” de dois alas-clássicos. A prestação do jogador poderá, eventualmente, ser melhorada se escolhida a táctica 4-2-2, com o jogador na posição de segundo ponta-de-lança, a “vir de trás para a frente”, servindo-se do seu forte poder de arranque e da invejável potência de remate, com o pé esquerdo.
Como ninguém gosta de ser enganado, como o rei do famigerado conto tradicional, dever-se-ia reflectir e analisar o motivo pelo qual, em tão mediático “mundo do futebol”, um futebolista com tantas qualidades, que debutou na segunda Liga japonesa, não ter merecido um efectivo interesse, por parte dos principais clubes europeus e somente os “olheiros” ao serviço dos portistas lhe tenham reconhecido qualidades, fora do comum.
Para bem do futebolista, não se deveria exigir demasiado do seu rendimento, com descabidas lisonjas que poderão condicionar a sua evolução, reconhecendo que Hulk é ainda um jovem jogador “por lapidar” que, pelas potencialidades e irreverência que evidencia, poderá aspirar aos mais “altos voos”.

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