sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Património Nacional?



Sempre ouvi dizer que uma mentira repetida vezes sem conta, pode vir a transformar-se numa “verdade absoluta”.
A “revolução dos cravos”, saída do 25 de Abril de 1974, trouxe para a “ribalta” alguns “cristãos novos” que utilizaram o “progressismo” para ganhar posições de relevo, numa sociedade que dava os primeiros passos democráticos ou, pior ainda, com o objectivo de ocultar passados pouco abonatórios.
O desporto não podia fugir à regra e, não foram poucos os “democratas” que o utilizaram como “trampolim” e contraponto ao regime deposto.
Futebolisticamente falando, Eusébio foi um predestinado e, justamente, classificado como um dos melhores jogadores da sua geração, ao nível de Pelé, Di Stefano, Cruyff ou Garrincha.
Terminada a sua brilhante carreira de futebolista, e à semelhança do que acontece com outros antigos desportistas, da nossa praça, Eusébio começou a ser solicitado e a marcar presença em debates, mesas redondas, painéis de opinião ou simples programas televisivos de divertimento, que versavam temas relacionados com a sua passada actividade.
Nesta nova tarefa, o “nosso” Eusébio nunca mostrou a mesma aptidão como a que tinha com a bola nos pés e, às vezes, o desconforto era tão grande que acabava por “meter os pés pelas mãos”, coisa que nunca aconteceu em campo. Logicamente que, a responsabilidade não era exclusiva da antiga vedeta mas, principalmente, de quem fazia o convite.
Ocasiões houve, onde sobrava assunto mas faltavam as palavras e, onde a única forma de se esquivar era abordar um tema recorrente, mas muito do agrado dos “novos situacionistas”, e referia: «Após o Mundial 66, tive convites para jogar em Itália mas o Dr. Salazar, pessoalmente, comunicou-me que eu era considerado “património nacional” e que não me autorizava a abandonar o País».
Uma frase com esta “carga” cai sempre bem a quem a ouve e a quem a profere.
No entanto, não existe referência que Eusébio e Salazar se tenham “cruzado” para além da recepção que o então Presidente do Conselho concedeu, em homenagem aos “magriços”, que tão brilhantemente representaram o futebol português, no mundial realizado em Inglaterra. Também não há memória, nem testemunhas de que, posteriormente, Eusébio e Salazar se tenham encontrado e trocado qualquer palavra.
Na recepção realizada, no Palácio de S. Bento, com a presença dos jogadores e dirigentes federativos, também não existem testemunhos de o Presidente do Conselho tenha abordado o tema “património nacional” que, para além de descabido não teria, à época, qualquer sentido, atendendo a que a proposta da Juventus de Itália só aconteceu meses depois. O próprio Eng.º Armando Rocha, então Director Geral dos Desportos, que na cerimónia protocolar desempenhou a missão de apresentar os futebolistas, confirmou que não foi Eusébio que mereceu um tratamento prolongado, mas sim Vicente com quem Salazar teve uma demorada troca de impressões, uma vez que o jogador belenenses tinha regressado de Londres com o pulso partido.
Por outro lado, não se pode negar que, o “grande Eusébio” após a sua brilhante participação no mundial de futebol, realizado em Inglaterra em 1966, tenha recebido aliciante convite da “vecchia signora” e, inclusive, se deslocado a Itália com a mulher, Flora, afim de se inteirar da realidade da sociedade transalpina e, eventualmente, assinar o respectivo contrato com o clube italiano. Só que o imprevisto aconteceu e, em face da desastrosa participação da “squadra azzurra” no citado mundial de futebol, onde foi eliminada, na fase de grupos, depois de ter perdido com a URSS e a Coreia do Norte, a federação italiana decidiu cancelar a entrada de jogadores estrangeiro no seu futebol, tendo como objectivo fomentar o aparecimento de jovens talentos locais.
Assim, Eusébio e qualquer outro futebolista estrangeiro viram-se impedidos de emigrar para o futebol italiano, durante algumas épocas, no caso português, para gáudio dos benfiquistas.
A confusão patenteada por Eusébio não se limita à celebre frase atribuída a Salazar, também afirmou que o trajecto entre Liverpool e Londres, que antecedeu o jogo da meia-final com a Inglaterra, em Wembley, teria sido efectuado num velho e desconfortável autocarro, quando na realidade, o percurso se realizou em comboio tendo, somente, sido requerido um autocarro para o transbordo entre a estação de caminho-de-ferro e o hotel londrino.
O “politicamente correcto" boato, criado pela natural perturbação que existe numa mente, provavelmente, afectada pelos diversos impactos do esférico, embora não tendo qualquer consistência irá perdurar e continuará a branquear a história, tornando-se, como todos os outros boatos, mais perigoso que um Decreto-Lei, uma vez que o boato é sempre para “cumprir” e o D.L. poderá ser ou não.

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