segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Abandono com tranquilidade

O elevado profissionalismo, o carácter, a coerência e a frontalidade não são predicados suficientes para se conseguir êxito no futebol. Não sendo menos competentes, rigorosos e exigentes que Paulo Bento, os ex-técnicos leoninos como Fernando Vaz, Mário Lino, Rodrigues Dias, Fernando Mendes ou Augusto Inácio também viram os seus contratos interrompidos, devido à sentença dos resultados, mesmo depois de terem conseguido o título nacional.
Contrariamente ao que aconteceu com aqueles vitoriosos técnicos, Paulo Bento pode-se considerar um privilegiado pois chegou ao comando técnico da principal equipa de futebol, de um clube com a grandeza e aspirações do Sporting, pela mão do então presidente Soares Franco, sem experiência, sem a maturidade necessária para o lugar e com um curriculum quase nulo (treinou uma época a equipa de juniores).
Consciente da ausência de traquejo e evidenciando os naturais complexos de afirmação, não descansou enquanto não afastou os capitães Beto e Sá Pinto, tendo utilizado conflitos pontuais, provavelmente evitáveis, com Liedson, Vuckevic, Polga, Stojkovic e Miguel Veloso, para se continuar a impor, no grupo de trabalho.
Também não foi inteligente na forma e no estilo de discurso escolhido para manifestar o descontentamento em relação às arbitragens, originando polémicas e deteriorando a sua própria imagem e a do clube que servia.
Usando de um autoritarismo exagerado e transparecendo um “ar”, quase sempre, amargo e sisudo, a imagem de liderança que tentou “passar” terá dificultado a união com o grupo de trabalho aumentando, perigosamente, o distanciamento entre a equipa e o técnico.
As quatro taças que conquistou (duas Taças de Portugal e duas Supertaças), em quatro épocas, não ofuscaram a ausência do principal titulo nacional (Liga) nem fizeram esquecer as goleadas verificadas nas competições europeias.
Embora louvável o lançamento de futebolistas, formados nas camadas jovens do clube, o reinado de Paulo Bento fica marcado pela ideia de que não procedeu a uma gestão adequada do grupo de futebolistas ao seu dispor, permitindo pensar que a motivação e o esforço para a realização de objectivos, são deveras influenciados por uma gestão desadequada ao fim que se pretende atingir.
Sabendo-se que, “pecare”, em latim, significa, nem mais nem menos, que “errar”, não é difícil identificar alguns dos principais pecados, do ex-treinador do futebol do Sporting e compreender o motivo pelo qual o clube de Alvalade, nas últimas temporadas, tem estado afastado dos principais títulos, com as nefastas consequências que se conhecem.
Um pequeno exercício de reflexão, permite identificar algumas das causas que levaram ao desempenho desadequado do ex-técnico:
- Quatro épocas em Alvalade, em que a qualidade de jogo praticado não convenciam, os mais optimistas. Raramente se presenciava uma jogada com princípio, meio e fim;
- A rotatividade na constituição das equipas não transmitia a confiança necessária aos futebolistas e prejudicava a mecanização do futebol praticado;
- Alterações constantes das posições dos jogadores que, durante um jogo, tinham que desempenhar várias funções;
- Doentia aposta numa rigidez táctica e num fastidioso “losango”, servido por futebolistas com características pouco adaptáveis ao “sistema” e que não deu os resultados esperados;
- Plantel formatado para um único plano de acção (táctica do losango), não permitindo alternativas nem a consolidação de um plano B. Vai ser a grande “dor de cabeça” do futuro treinador;
- Incompreensível a recomendação para o recrutamento de futebolistas (Rochemback e Postiga), cujas qualidades não se “encaixavam” no “seu losango”;
- Amuos e birras que tinham como principal objectivo a criação de anticorpos que, provavelmente, serviram para ofuscar as suas incapacidades e os resultados menos favoráveis;
- Aconselhamento/consentimento nas aquisições de Caicedo, Ângulo, Caneira, Pedro Silva para não referenciar Bueno, Ronny, Gladstone, Marian Had, Farnerud, Romagnoli, Celsinho, Purovic, e Rodrigo Tiuí.
- Apostou na formação que o acompanhou dos juniores. Na época 2008/2009 o Sporting também foi campeão nacional júnior e Paulo Bento não foi expedido a aproveitar qualquer elemento, tendo “mandado” os campeões "rodar" no Real de Massamá.
O orçamento e a qualidade da equipa não podem ser o bode expiatório dos maus resultados, sabendo-se que, o Sporting se encontra, na tabela classificativa, atrás de clubes com orçamentos muito mais limitados, com a vantagem de possuir um plantel constituído por futebolistas na sua maioria internacionais.
A frontalidade de Paulo Bento levou-o a confessar que esteve quatro meses a mais no Sporting. De facto, só Bettencourt não se apercebeu que o tempo de Paulo Bento se tinha esgotado, no final da época passada.
Também não se entende a atitude de alguns “notáveis” que continuam a afirmar que Paulo Bento não era o problema mas a solução, quando a equipa se encontrava quase a meio da tabela, exibindo um futebol lastimável.
Espera-se que, com José Eduardo Bettencourt, o Sporting não se esteja a “Belenizar” mas a “Atléticanizar-se”, como o simpático clube de Alcântara que, actualmente, disputa a II Divisão nacional.

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