As leis que regem o futebol estabelecem que o jogo é praticado por onze jogadores de cada lado e que um deles, chamado de guarda-redes e equipado de maneira diferente, goza da prerrogativa especial de poder jogar com as mãos, dentro da grande-área. As mesmas leis nada referem relativamente ao posicionamento dos jogadores no terreno de jogo, à existência de defesas, médios ou avançados, nem ao modo como se joga, pelo chão ou pelo ar, em passe curto ou em passe longo, nem às movimentações defensivas ou ofensivas.Não é possível passar ao lado da evolução estratégica do futebol, sem abordar o seu elemento fundamental: a colocação dos jogadores no terreno de jogo. Progressivamente, “arrumar” os futebolistas provocou o desaparecimento do jogo instintivo e desconexo e fortaleceu o entendimento entre os seus elementos desenvolvendo o espírito de equipa.
Ao longo dos anos, e fruto da imaginação e experiência dos técnicos do futebol, foram sido criadas as tácticas e surgiram os “sistemas de jogo”, ajustados tanto às características dos futebolistas que compõem a equipa como às características do adversário que defrontam.
Pode dar-se liberdade e valorizar as iniciativas individuais dos futebolistas, mas a estratégia e a forma como os jogadores se combinam e associam e participam no trabalho de conjunto tem de existir em todas as equipas, sob pena de o futebol praticado se transformar numa anarquia de esforços descontrolados, de pontapé para a frente e de correrias desenfreadas. Sem técnica, nem táctica de jogo, sem princípios reguladores da utilização dos futebolistas, na manobra defesa-ataque, não podem existir grandes espectáculos e dificilmente se “chegará” ao golo.
Assim, não é de estranhar que, as “linhas-mestras”, que suportam a formação e estruturação de uma equipa de futebol, minimamente competitiva, assentem na escolha táctica, na estratégia e, logicamente, na qualidade dos futebolistas que a compõem.
Muitos técnicos portugueses, onde se incluem os treinadores dos dois principais rivais da capital, Paulo Bento e Jorge Jesus, fazem da utilização do 4-4-2, em losango, constituído por quatro centro-campistas colocados nos vértices de um losango imaginário, que avança e recua à medida que surgem adversários, o “modelo táctico” predilecto e a almejada chave para alcançar êxitos.
Como só por si, a escolha da “táctica do losango” não é, sinónimo de sucesso, a presente época na Liga tem mostrado como o Sporting e o Benfica conseguem resultados tão díspares, que os têm afastado na tabela classificativa.
O treinador Jorge Jesus pode evidenciar algumas lacunas, em termos comportamentais e/ou nível do trato pessoal, mas denota uma perspicácia fora do comum na aplicação do “célebre losango”. As provas dadas no Sp. Braga, na última temporada, estão a ser confirmadas no Benfica actual, ao invés do que acontece com o seu homologo, no clube de Alvalade.
Numa táctica tão exigente como a escolhida, os médios não poderão estar somente limitados a desempenhar o papel de ligação entre os defesas e os homens mais avançados terão, forçadamente, de ser os principais responsáveis pela introdução da dinâmica, profundidade e flanqueamento do jogo da equipa.
À semelhança do que aconteceu no Sp. Braga, na época transacta, onde os vértices laterais do losango eram desempenhados por dois elementos com as características de flanqueadores (Alan e César Peixoto), Jorge Jesus conseguiu transportar para o clube da Luz a mesma filosofia e interpretação táctica, servindo-se com mestria da elevada cultura e disciplina de Ramires e das qualidades galvanizadoras do extremo-puro, que é Di Maria.
Contrariamente aquilo que se passa no clube encarnado e após quatro época a implementar o mesmo sistema de jogo, Paulo Bento, por teimosia ou inexperiência ainda não conseguiu entender que João Moutinho no vértice direito do losango e Vukcevic no vértice do lado oposto, não conseguem imprimir ao futebol do Sporting a dinâmica ofensiva e vivacidade requeridas por um futebol com aspirações. De facto, João Moutinho e Vukcevic, vocacionados para jogar mais como médios-centro dificilmente poderão interpretar o papel de “alas”, de forma a alargar a frente de ataque e libertar os ponta-de-lança das marcações cerradas a que estão sujeitos, de forma a tornar o futebol leonino mais eficaz e produtivo.
Face ao exposto, poder-se-á concluir que, não deverá ser a táctica a impor-se aos jogadores mas o inverso, tornando-se primordial escolher um sistema e um plano estratégico de jogo adaptados às qualidades dominantes dos principais elementos que constituem a equipa. O mesmo sistema táctico, que “fabricou” uma grande equipa, pode, com efeito fracassar se for servido por outros intérpretes.
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