sábado, 17 de julho de 2010

Ínclita geração?

Uma geração de jogadores, eventualmente, predestinados para a prática do futebol, classificada como “geração de ouro”, nunca poderá ficar limitada à conquista de competições ao nível das camadas mais jovens, terá, forçosamente, de justificar tal apelido ao longo dos anos subsequentes. Não é “geração de ouro” quem quer, mas quem faz por isso.
Em Portugal, foi facílimo qualificar a geração formada, entre outros, por Vitor Baia, Fernando Couto, Rui Costa, João Pinto, Abel Xavier, Paulo Sousa e Luís Figo, mais tarde considerado como o melhor jogador do mundo, como a “geração de ouro” que o professor Carlos Queiroz conduziu à conquista de dois títulos mundiais sub-19. Independentemente da indiscutível categoria patenteada por alguns dos seus elementos, o tempo veio confirmar que aquela geração de futebolistas portugueses, em termos de equipa e de títulos conquistados, se iria manifestar como uma verdadeira desilusão, nunca conseguindo corresponder ás expectativas criadas, em seu redor, tendo, inclusivamente, sido vencida na final do Euro 2004, disputada na sua própria casa.
Mais uma vez o decepcionante desempenho e descalabro protagonizado pelo futebol português, no Mundial da África do Sul, onde uma selecção pouco ambiciosa, que abdicou da condução do jogo e denotou uma total incapacidade para pressionar os adversários, não foi suficiente para que, lestos, os responsáveis federativos, aparecessem a desculpabilizar os seus elementos e o próprio seleccionador, utilizando a derrota e eliminação, frente à vizinha Espanha (0-1), que acabaria por conquistar o titulo máximo mundial, como um prémio de consolação.
Desconhece-se como os “nuestros hermanos”, denominaram o grupo de futebolistas que, na Nigéria, há alguns anos atrás, venceram o Mundial de Sub-20, mas sabe-se que, aqueles jovens futebolistas formaram o conjunto-base da selecção que, nos dois últimos anos, se sagrou campeã da Europa e do Mundo de futebol.
Para deleite daqueles que gostam de futebol, a equipa espanhola nunca abdica do futebol “tiki-taka”, baseado numa teia ardilosa construída por Guardiola, no Barca e, agora, aproveitada por Vicente Del Bosque que, toma conta do jogo, consegue a “posse de bola”, impondo uma forma de trocar o esférico que “chateia”, corrói e adormece os adversários, até ao ponto de não sentirem a estucada final dada pelos “matadores”, David Villa ou Fernando Torres.
Na África do Sul, nem a mais afinada das “vuvuzelas” destabilizou o futebol rendilhado da Espanha fruto da imaginação de Pedro, da velocidade de Jesus Navas, do talento de Villa ou da genialidade com que Iniesta aparece, na área contrária, a finalizar. Mas Xavier Hernández, mais conhecido por Xavi, é não só o mais importante futebolista da selecção espanhola como também o principal responsável pelo carrossel praticado no seu Barcelona. É ele que pega na bola, que marca o ritmo de jogo e faz funcionar a equipa. Um verdadeiro maestro, um verdadeiro líder, este catalão.
Há quem afirme que, as semelhanças ou diferenças existentes entre o futebol português e o espanhol se encontram reflectidas, no toureio apeado, da “Festa Brava”, tão apreciada nos respectivos países.
De facto, tanto em Portugal como em Espanha os toureiros manifestam coragem, técnica similar, mestria e a necessária bravura, para enfrentar o touro, desfrutando do prazer que a profissão encerra. Contudo, nas praças espanholas para além da exibição da arte taurina o touro “leva” a estucada final, morrendo na arena. Por analogia, se poderá concluir que o futebol ibérico é feito de técnica, exibição e espectáculo, só que quem marca é quem, normalmente, sai vencedor. Portugal recreia-se. A Espanha recreia-se e vence, marcando golo, ou seja, mata o touro na praça.

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