quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Morte anunciada

«É preciso varrer a porcaria que há na Federação!». Foi com esta frase polémica proferida, em San Siro, em finais de 1993, que Carlos Queiroz abandonou o cargo de seleccionador nacional de futebol, após derrota e afastamento da Selecção Nacional, da fase final do mundial dos EUA.
Concretizando um tremendo erro de Gilberto Madail, em Julho de 2008, o mesmo Carlos Queiroz aceitava ser de novo seleccionador nacional, rubricando um contrato válido por quatro anos, com um ordenado de 1,6 milhões de euros por ano e, provavelmente por isto, aceitava passar a fazer parte da “porcaria” existente na F.P.F..
A segunda passagem de Queiroz pela selecção nacional de futebol veio confirmar, mais uma vez, a falta de aptidão do técnico para o desempenho do lugar, embora tivesse sido considerada uma óptima escolha não só pelo presidente da Federação, mas também por todos aqueles que, iludidos pelo discurso cientifico do professor, não apreciavam a forma como o grupo era conduzido por Scolari.
Com a sombra do técnico brasileiro sempre por perto, para facilitar a tarefa de afirmação e valorização do trabalho de Carlos Queiroz, à frente da Selecção Nacional, havia que desprezar os últimos 15 anos onde Portugal apenas falhou uma qualificação para as oito fases finais realizadas, sempre com brilhantes desempenhos como aconteceu no Euro 2000 (Humberto Coelho), no Euro 2004, no Mundial 2006 e no Euro 2008, onde o trabalho fantástico de Luiz Felipe Scolari foi complementado com um feliz casamento entre a Selecção e os adeptos, mas que acabou em divórcio após a chegada de Queiroz, por falta de inteligência emocional do professor.
Mesmo para os mais optimistas a fase de apuramento para o Mundial 2010 tinha demonstrado que Carlos Queiroz não era, efectivamente, o homem certo para comandar o seleccionado português. Denunciando uma evidente falta de liderança a nível técnico, arranjou problemas com dirigentes e médicos que, facilmente, se estenderam aos jogadores, não sendo por mero acaso que, após o afastamento da selecção da África do Sul, Ronaldo, farto de andar sozinho lá na frente, e Deco, que não merecia uma despedida assim, se tenham manifestado de uma forma desabrida e azeda, fazendo supor a existência de alguma turbulência, no seio do grupo de trabalho.
Para além de se questionar as apostas de Carlos Queiroz, a quem foram satisfeitos todos os desejos e concedidos todos os meios solicitados, inclusive, verificaram-se mudanças, sem qualquer sentido, na estrutura das equipas técnicas das diversas selecções de futebol jovem, com a introdução de técnicos e gente da confiança do seleccionador nacional, sempre com o argumento demagógico de defesa do “modelo” e da reestruturação das selecções, esquecendo-se que ao nível das camadas jovens são os clubes os grandes responsáveis pelo aparecimento de novos valores.
Por outro lado, e desde que atingiu a independência financeira, fruto de uma carreira internacional onde foram maiores as indemnizações conseguidas, por despedimentos precoces, que os resultados desportivos alcançados, Queiroz começou a assumir posições desagradáveis, algumas de difícil explicação. A arrogância passou a ser mais evidente, o discurso e as atitudes mais agressivas, e a “máscara” da hipocrisia, que o tinha conduzido a lugares inimagináveis (ex.: Real Madrid), começou a cair, pese o esforço e propaganda dos seus fieis escudeiros, de jornalistas embevecidos pelo seu dom oratório e dos adeptos iludidos pela simpatia e pela imagem de competência, realçada por alguns futebolistas que, ainda garotos, tinham sido campeões mundiais.
Facto curioso e elucidativo, do carácter do professor e que contraria, em parte, a imagem que continuamente tenta “passar”, é referido na decisão do Tribunal Cível de Oeiras, que em Dezembro de 2008, condenou Carlos Queiroz a pagar 56 250 dólares a Salem Jawad, empresário que, em 1998, o levou para os Emiratos Árabes Unidos. O tribunal deu como provado que Queiroz recebeu mais tarde o dinheiro da rescisão de contrato e não pagou a comissão a que o empresário teria direito. A sentença refere ainda que, Queiroz negou inicialmente ter recebido essa indemnização, vindo a confirmá-lo depois, sendo acusado, por este motivo, de «conduta integradora de litigância de má-fé». Ou seja acusado de ter mentido em tribunal.
Num Portugal de brandos costumes com um seleccionador incapaz de motivar jogadores e adeptos, com uma selecção a deixar de jogar para ganhar, que ia deixando Portugal fora do Mundial de 2010, ainda se permite que sejam “branqueadas” as asneiras cometidas, dizendo que a participação no mundial foi positiva e que a equipa fez uma excelente exibição frente à Espanha. Para “ajudar à festa”, mais tarde saber-se-ia que, mesmo a receber 7,2 milhões de euros de prémio da FIFA pela presença da Selecção Nacional nos oitavos-de-final, a F.P.F. conseguiu apurar um prejuízo de 1 milhão de euros com a campanha da África do Sul! E o seleccionador Carlos Queiroz com direito a 10 por cento desse prémio: ou seja, uns escandalosos 720 mil euros!
Tudo acontece devido à falta de liderança de um Gilberto Madail, distraído e embriagado pelas falinhas mansas do professor, que com ele fez sempre uma espécie de chantagem psicológica, ao ponto do presidente da Federação ser incapaz de negar qualquer tipo de mordomia (bons hotéis, estágio em altitude, adjuntos locais, missões de observação, etc.), caindo no ridículo de ter de premiar, milionáriamente, um resultado julgado medíocre pela maioria dos portugueses.
Após uma serie de atitudes tão inesperadas como incompreensíveis, aliada a resultados pouco conseguidos, termina sem honra e sem glória o ciclo Queiroz na Selecção Nacional, depois de ter agredido um comentador desportivo, em plena sala de embarque do aeroporto, insultado uma brigada anti-doping, de ter apelidado de amadora a estrutura da F.P.F e de ter dirigido impropérios a um jornalista do “Sol”. Posteriormente, associou a imagem do “polvo” ao vice-presidente da federação, que afinal era uma “nuvem”, porque os muitos anos que passou no estrangeiro (17 anos), a iludir o futebol de outras paragens, originaram atitudes de agressividade, de intolerância, de falta de humildade que o distanciaram tanto dos portugueses e o tornaram tão elitista que a solução talvez estivesse em mudar o País, para agradar a tão ilustre criatura.
De facto, a tranquilidade, a discrição e o ar metódico do passado transformaram-se e deram origem a um Carlos Queiroz polémico, nervoso e onde situações menos felizes como as que esteve envolvido nunca se tinham manifestado, do mesmo modo, em Madrid ou em Manchester.
Cada vez mais isolado, ocultando a falta de comando sobre os jogadores e denunciando uma confrangedora ausência de rasgo táctico Queiroz, quer queiram quer não, sempre foi um perdedor cuja a arrogância e a vaidade nunca lhe deram tempo para ouvir as criticas, pois a sua atenção sempre foi só para aqueles que o apoiaram.
É lamentável que, tenha sido preciso desperdiçar cinco pontos frente ao Chipre e à Noruega, complicando a qualificação para o Europeu, num grupo relativamente fácil, para se aperceberem que Queiroz não tinha condições para continuar, embora, em tempos não muito distantes tenha afirmado que: «Daqui só saio morto!».
A novela Queiroz à frente da selecção, chegou ao fim e com ela a desmistificação do empenho na formação e na descoberta de novos talentos saídos, muitos deles, de nacionalizações feitas à pressa, por um individuo que a maioria dos portugueses está farta de aturar.


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