terça-feira, 20 de novembro de 2007

O "LOSANGO" de Paulo Bento


Sempre nutri uma certa admiração pelo Paulo Bento-futebolista, desde os tempos em que sob a orientação técnica de João Alves, dava os primeiros passos, como profissional, no Estrela da Amadora.
Centro-campista, forte fisicamente, bom sentido de marcação e disciplina táctica, evidenciando uma constância competitiva acima da média, não lhe faltavam atributos e empenho que fizeram dele um “líder”, dentro e fora do campo. Na gíria, o que se apelida de um “profissionalão”.
Após passagem pela cidade berço, não surpreendeu o interesse manifestado, pelo Benfica, ao contratar um futebolista de inegáveis recursos e tamanho potencial.
Abandonaria, mais tarde, o clube do seu coração e, romaria a Oviedo, onde consolidou uma carreira, a todos os títulos, brilhante. Em 2000, abandonou o competitivo futebol espanhol e regressou ao futebol português, pelas portas de Alvalade, aonde, já trintão, mostraria estar na plenitude das suas capacidades físicas e técnicas.
Terminada a carreira, e após breve passagem, como treinador dos juniores leoninos, é convidado pela Administração da SAD a assumir a liderança técnica da equipa principal, de futebol do Sporting.
No desempenho das novas tarefas, depressa tentou impor um esquema táctico baseado num 4-4-2, com quatro médios-centro, a formarem o famoso “losango”. Acusado, por muitos, por “afunilar o jogo”, e prescindir de médios-ala de raiz, este sistema táctico, não proporciona espectáculos muito agradáveis, sendo, inclusive, apontado como um dos principais responsáveis pelo afastamento de adeptos dos estádios.

Famigerada táctica, não é recente e pouco se tem modificado ao longo dos tempos, tendo, em alguns períodos, sido adoptada, por José Mourinho, quando das suas passagens por Leiria e Porto.
Contudo, Mourinho, mais exactamente, ao serviço do FC Porto, possuía um plantel que lhe possibilitou aplicar a “táctica do losango”, com relativa eficácia, pois dispunha de dois laterais (Paulo Ferreira e Nuno Valente) que subiam com facilidade à área contrária onde, com assistências mortíferas, construíam “meio-golo”. Por outro lado, o quarteto do meio-campo era constituído por jogadores polivalentes que “balanceavam” o jogo, com mestria, e “caíam” com a propósito nas alas, nomeadamente, Maniche, Aleinichev e o próprio Deco.
No caso actual, do futebol leonino, Paulo Bento, por obsessão ou teimosia, tem adoptado quase sempre a “táctica do losango”, tendo inclusive, moldado e preparado o plantel leonino de forma a jogar, quase que, exclusivamente, naquele sistema, impossibilitando o recurso a alternativas tácticas que compreendam a utilização de extremos ou médio-alas.
De facto, ter um plantel formado à base de médios-centro, onde só Vukcevic possui características que se assemelham às de um médio-ala-esquerdo, condiciona e “condena” futebolistas, como João Moutinho, Adrien (já deveria ter sido lançado), Romagnoli, Pereirinha, Izmailov ou Farnerud, a terem de se adaptar a jogar em posições pouco habituais, nas faixas laterais, originando um “defict” de rendimento e abaixamentos de forma, inesperados, fruto de uma inadaptação ao lugar, para o qual não se sentem vocacionados.
Torna-se, por demais evidente a ausência, no grupo de trabalho, de jogadores com as qualidades e aptidões técnicas para jogar nos flancos e que, ao longo da época, poderiam ser muito úteis como recurso ou opção, num plano táctico alternativo ao modelo-base, tendo em vista tornar o futebol leonino mais eficaz, espectacular e concretizador.
Embora os defensores e seguidores do “losango” continuem a afirmar que, o mais importante não é a táctica mas sim a dinâmica, a estratégia, a atitude dos futebolistas perante a interpretação do esquema a utilizar, o certo é que o futebol praticado pelo Sporting, encontra-se, presentemente, muito condicionado, com uma rigidez táctica inadmissível, situando-se, em termos exibicionais, muito aquém do exigível.
Por outro lado, o “losango” pressupõe a existência de um duo atacante cujas principais características deverão privilegiar, um elevado grau de deambulação, a rapidez de execução e o remate fácil.
É certo que, a lesão de Derlei veio dificultar bastante a implementação do “losango leonino”, uma vez que, tanto Purovic como Yannick, não têm evidenciado o poder concretizador que a equipa necessita, nem tão pouco têm justificado ser o complemento de Liedson.
Quem conhece as características técnicas e a forma de jogar de Liedson facilmente se apercebe que, estamos em presença de um futebolista que pouco se “incomoda” se ficar sozinho na frente de ataque, de preferência assistido por dois flanqueadores, que criem os espaços necessários, na defensiva adversária, por onde o brasileiro possa movimentar-se e visar a baliza contrária.
Paulo Bento ao colocar outro ponta-de-lança, perto do “levezinho”, não está só a encurtar o espaço de manobra do brasileiro, como também “a chamar” a presença de outros defensores à zona central que, forçosamente, irão dificultar a tarefa do goleador.
Sabendo-se que, nos jogos já realizados, o “losango” tem sido opção inicial, não tendo correspondido, em termos de resultados, ao que dele se esperava, uma vez as vitórias só têm, por norma, aparecido quando o treinador, já em situação de desespero, “tira” defesas e “mete” avançados e vice-versa, desmembrando a equipa e retirando-lhe “rotinas de jogo”, torna-se, por demais evidente que, dificilmente, o “losango” ajudará a equipa de futebol do Sporting a atingir os êxitos desejados.

Complementarmente, refira-se que, o Benfica de Fernando Santos, padecia do mesmo mal. Já no início da época passada o técnico tentou impor a “táctica do losango”, mas a chegada de Simão, após lesão, obrigou-o a “arrepiar caminho”. Como a titularidade de Simão na equipa era inquestionável, Fernando Santos, bem tentava colocá-lo no “vértice do losango”, atrás do ponta-de-lança, mas a situação nunca resultou. O jogador sempre “rendeu” mais nas alas, numa opção táctica de 4-3-3. No centro do terreno, o seu desempenho perdia protagonismo e eficácia, levando-o a praticar um futebol inconsequente e desgarrado, acabando “perdido no campo”.
No início desta época tudo apontava para que a situação se repetisse, mas a saída de Simão para Espanha veio “simplificar” um pouco as coisas, ao treinador. No dia em que Simão abandonou o Benfica, Fernando Santos, pôde finalmente respirar de alívio, uma vez que as “portas” para impor o seu “doentio losango” se abriam de par em par. Mas, por ironia do destino ou falta de visão técnica, seria essa mesma táctica que, originaria o seu afastamento, pois os resultados não apareciam e, mais preocupante do que isso, as perspectivas de êxito eram diminutas.

Difícil de prever foi a contratação de Jesualdo Ferreira, como técnico do FC Porto, pois tratava-se de um treinador com um longo passado ao serviço das selecções jovens, mas com um “curriculum” pouco recheado de resultados positivos, ao nível das provas nacionais. Mas, de forma perspicaz, como é seu hábito, Pinto da Costa, inesperadamente, contrata um técnico que, como opção prioritária não utiliza a táctica do “losango” mas, preferencialmente, o 4-3-3 que tão bons resultados lhe proporcionaram, em Braga. Com tão astuta decisão, Pinto da Costa estava à partida, não só, a afastar erros tácticos verificados num passado recente, e que conduziram a equipa ao afastamento das grandes conquistas, mas, principalmente, a criar condições para a prática de um jogo flanqueado, que privilegie as potencialidades de Ricardo Quaresma.

2 comentários:

Unknown disse...

Amigo Luso, congratulo-me pela tua iniciativa de abrires este espaço de debate descomprometido.Os teus artigos revelam grande sensatez , serenidade e conhecimentos.Atributos que escasseiam em grande parte desses paladinos comentadores desportivos...Bem haja pela tua iniciativa.Da minhha parte podes contar com uma presença assídua e procurarei contribuir para a divulgação deste novo "campo desportivo". Saudações desportivas...e leoninas.
O Matreco Aldeano

Unknown disse...

Verifico que até agora não foi comentado o sorteio do Europeu. Indesculpável pela impotância do facto...Ou será que também pensas que são favas contadas (tem-se lido e ouvido por aí que é o grupo mais facil),e que por essa razão não justifica o teu comentário. Atenção á equipa anfitriã e á República Checa...É a minha opinião, mas eu não percebo nada...