quinta-feira, 6 de março de 2008

"Marcação cerrada"


São sempre condenáveis todas as manifestações de protesto que recorram, sistematicamente, à agressão verbal e/ou física e que descambam em lamentáveis actos de violência, transformando atractivos eventos desportivos em autênticos “campos de batalha”.
Respeitando sempre as regras básicas de conduta e civismo, toda a contestação pode e deve ser salutar, tendo em vista alertar e contribuir para o despoletar de situações, até então, não identificadas/equacionadas.
A construção de modernos estádios, para realização do Euro 2004, com elegantes concepções e “designs” vanguardistas, contribuiu em parte, para o afastamento físico do “simples adepto” dos “principais intervenientes” do espectáculo futebolístico. O aparecimento das academias, nos principais clubes, e os treinos “à porta fechada” aumentaram esse distanciamento.
Quem não se recorda da “Porta 10-A”, situada no velho Estádio de Alvalade, ponto de concentração de simpatizantes leoninos onde, ordeiramente, manifestavam inconformismo ou transmitiam a necessária confiança às hostes sportinguistas?
Não poderemos, também, esquecer a forma como a equipa de futebol do Sporting regressou ao título nacional, após 18 anos de afastamento. A forte contestação ao então técnico Guiseppe Materazzi expressa pelos adeptos, quer nos treinos quer no trajecto entre o campo secundário e os balneários, associada à confrontação a que o próprio presidente do clube foi sujeito, após resultados menos conseguidos, conduziram à contratação de Augusto Inácio e ao quebrar de um “jejum” de quase duas décadas.
Em face da arquitectura e traçado dos novos recintos desportivos, presentemente, este tipo de “pressão” dificilmente poderá ser exercida uma vez que, cada vez mais se isola e distancia os adeptos dos “artistas”. De facto, jogadores e “staff” técnico depois de “enclausurados” nas academias, onde o acesso é vedado, são “colocados” no autocarro do clube, “despejados” nas “catacumbas” dos estádios e encaminhados para o terreno de jogo, evitando-se, o mais possível, um contacto estreito com os espectadores. No final do encontro a situação repete-se, inversamente, e exceptuando as conferências de imprensa, os intervenientes refugiam-se, comodamente, no interior dos recintos desportivos, imunes a manifestações de euforia ou desagrado.
Poder-se-á considerar que, em grande parte, a falta de alguma “marcação cerrada” sobre os protagonistas do espectáculo, jogadores, “staff” técnico e dirigentes incluídos, é um dos factores que têm contribuído para o acomodar de todos aqueles que, têm como principal tarefa conduzir os clubes ao “estrelado”.
Gerir clubes profissionais de forma pouco actuante e autista, não implementando, atempadamente, medidas correctivas e não escutando o parecer efectivo dos sócios e simpatizantes, conduzirá, a médio prazo, ao fracasso e ao acumular de insucessos desportivos.

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