quarta-feira, 9 de abril de 2008

FCP soma e segue


Mais uma época em que, os principais rivais de Lisboa se deixaram ultrapassar, facilmente, pelo F.C. Porto. Insistindo em passar as temporadas, futebolísticas, dando autênticos “tiros nos pés”, Benfica e Sporting permitiram que, mais uma Liga fosse enriquecer o palmarés do clube nortenho.
Contudo, aqueles que se encontram, minimamente, identificados com o fenómeno futebolístico têm de reconhecer mérito na conquista do 23º título nacional, pelo F.C. Porto, fruto não só da qualidade e das capacidades técnicas evidenciadas pelos seus futebolistas, mas também alicerçado na união do plantel, na organização e na estrutura competente existente no clube do dragão.
Um dos grandes obreiros da vitória foi, sem dúvida, Jesualdo Ferreira que, mantendo, praticamente, os titulares da época passada, formou uma equipa extremamente coesa e competitiva demonstrando um rigor e um profissionalismo dignos de registo. O F. C. Porto 2007/2008 foi uma equipa com dinâmica de vencedor, com um duo argentino preponderante e onde apenas faltou dimensão europeia.
Baseando-se, tacticamente, num típico 4-3-3, Jesualdo Ferreira, inteligentemente, limitou-se a fazer a gestão de um plantel onde a estratégia, as “rotinas de jogo” e as “mecanizações” vinham, em parte, da época transacta.
A baliza esteve entregue a Helton. O sucessor de Vitor Baía é um guardião sóbrio, bem constituído, fisicamente, para a posição que ocupa. Ágil, experiente e com “bons pés”, transmite à equipa a segurança e confiança que ela necessita.
Uma das grandes revelações da temporada foi, sem dúvida, Bosingwa. Jogador polivalente adaptou-se na perfeição ao lado direito da defesa e a sua chamada à selecção nacional foi prémio merecido. Possuidor de boa técnica e um “pulmão” que lhe permite fazer todo o corredor direito foi um dos grandes impulsionadores do ataque e uma das principais “armas” portistas, nas assistências para golo.
O uruguaio Fucile desempenhou o papel de defesa-esquerdo. Jogador vocacionado para alinhar no lado direito, parece “contra-natura” a sua presença no lado oposto. Melhor a defender que a atacar, pela força, pela raça e pela entrega permanente ao jogo, foi sempre uma peça importante no xadrez portista.
O esquerdino Marek Cech constituiu sempre uma boa alternativa para o lado esquerdo, quer na defensiva quer no centro do terreno. Pelas qualidades evidenciadas, o eslovaco talvez tivesse merecido mais oportunidades para se mostrar.
A zona central da defesa esteve, quase exclusivamente, entregue a Pedro Emanuel e a Bruno Alves. Pedro Emanuel, regressado de uma grave lesão transmitiu ao longo da prova a segurança e a experiência de um veterano. O título conquistado ficou bastante a dever à tranquilidade, eficácia e ao excelente jogo aéreo patenteados pelo capitão dos dragões, dono e senhor dos seus domínios.
Dotado de forte impulsão e de um elevado sentido de marcação, indispensável na posição que ocupa, Bruno Alves demonstrou sempre grande disponibilidade física e uma eficácia defensiva a “toda a prova”. Por vezes, exagerou na rudeza que colocou na disputa de alguns lances mas, no cômputo geral, foi um “pilar” que mereceu a chamada à selecção nacional.
Um dos “pontos fortes” do actual FC Porto encontra-se, como acontece em quase todas as equipas vencedoras, nos centro-campistas. De facto, para além possuírem qualidades individuais acima da média, os jogadores que formam o meio-campo portista complementam-se, na perfeição, formando um meio-campo sólido, de uma polivalência notável. Paulo Assunção é o “pivot”. Por ele “passa” quase todo o futebol da equipa. Forte, possante, é o principal responsável pela “marcação” e pelo flanquear do jogo. Importantíssimo nos processos defensivo e ofensivo, não é raro vê-lo ora a “encostar-se” aos centrais ora a tentar remates de “meia-distância”, perto da área contrária.
Raul Meireles confirmou, esta época, todo o seu potencial. De aspecto franzino, por vezes nem se nota a importância da sua função, é um futebolista raçudo, com grande poder de antecipação, tacticamente perfeito, eficaz na marcação e no “jogo aéreo”. Senhor de forte remate e autor de alguns golos, é a “formiguinha” tão útil numa equipa que luta para ganhar todas as competições.
Falar de Lucho Gonzalez é falar do grande jogador da época. Foi o cérebro da equipa, o homem que “pauta o jogo”, o municiador do ataque. Oriundo da Argentina, Lucho é um futebolista genial que, pelas prestações realizadas nas épocas que tem vindo a fazer, ao serviço do F.C. Porto, dificilmente se manterá em Portugal.
Futebolista, também, de eleição é Ricardo Quaresma. Como todos os jogadores talentosos evidencia alguns “tiques” de individualismo e uma certa inconstância exibicional. Quando inspirado, o fantasista e malabarista invulgar, é o futebolista que resolve as situações complicadas, sendo a ele que, habitualmente, a equipa recorre quando, colectivamente, as coisas não estão a “sair" de feição”. Normalmente, aparece quando é necessário, ora fazendo assistências de “trivela” ora em remates colocados da entrada da área. Foram decisivos alguns dos golos que marcou, na conquista do tri-campeonato. O jogador “amadureceu” e o mercado estrangeiro espera-o.
O marroquino Tarik Sektioui de proscrito passou a titular, indiscutível. Rápido, tecnicamente evoluído, o seu rendimento atinge patamares exibicionais muito aceitáveis, quando “colado” a uma das alas. Extremo-nato deve muito da sua efectividade ao sistema de jogo adoptado, pelo técnico, que privilegia os flanqueadores.
O goleador natural dos dragões veio, também, do país das pampas. Lisandro Lopez o melhor marcador da Liga Bwin melhorou substancialmente o seu desempenho, relativamente à época transacta. Ao invés do que acontecia na temporada passada, em que jogava mais sobre o flanco esquerdo, o seu posicionado na zona central do ataque, mais perto da baliza contrária, deu-lhe protagonismo e a confiança foi chegando à medida que os golos iam aparecendo, muitos deles entregues de “bandeja” pelo seu compatriota Lucho. Evidenciando um poder de choque e uma potência de remate notáveis, deve muito da sua eficácia à espontaneidade evidenciada na “zona da verdade”. Esta época, para o poderoso argentino, foi “ouro sobre azul” e o recente namoro com a apresentadora televisiva Marta Leite Castro, provavelmente, é a “cereja no topo do bolo”.
O rendimento e o desempenho demonstrados pelos atletas, com uma utilização mais escassa ao longo da época, como é o caso de Ernesto Farias, Stepanov, Bolatti, Kamierczak, e em parte Adriano, Mariano Gonzalez e João Paulo, dificilmente justificarão a conquista de um “lugar cativo”, no “team” campeão.
A hegemonia do Futebol Clube do Porto está para durar.

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