sábado, 22 de dezembro de 2007

Guarda-redes da minha infância


Foi através dos “bonecos da bola” que embrulhavam um caramelo e custavam a módica quantia de $10, que comecei a familiarizar-me e a idolatrar os protagonistas do “desporto rei” que, domingo a domingo, pisavam os muitos pelados e os poucos relvados, do País futebolístico de então.
Nomes sonantes, com apelidos curiosos e fora do comum, vêm-me à memória. São guarda-redes que, nos finais da década de cinquenta princípios dos anos sessenta, do passado século, defendiam as balizas dos clubes nacionais mais representativos.
Numa época em que os jogos não eram televisionados, a todos vi jogar. Ora na Tapadinha ora no Restelo, ao sábado à tarde nas reservas ou ao domingo nas primeiras categorias, onde catraio sedento de bola, me encostava, estrategicamente, junto à porta de acesso à bancada ou ao peão, mendigando um lugar com a salvadora frase: «Oh! Vizinho deixe-me entrar consigo». Anos mais tarde seria eu, já em Alvalade, gostosamente, a fazer de "vizinho".
Velhos tempos em que os meus ídolos “viviam” nos bolsos dos calções, em comunhão estreita com as “caricas”, ora a caminho da escola ora nas brincadeiras de fim de rua, que se estendiam até ao por do sol.
Recordo com saudade o Zé Pereira, o “pássaro azul”, famoso guardião de “Os Belenenses” e consagrado “magriço de 1966”, frequentador assíduo da leitaria, situada junto à praceta onde morava.
Vi jogar, vezes sem conta, o Bandola, o forte e eficaz guarda-redes do “meu” Atlético.
Estive no, ainda pelado, D. Manuel de Melo num Barreirense-Benfica onde o Bráulio, “encheu a baliza”.
As redes do Vitória de Guimarães eram ocupadas pelo Roldão, emancipado do F.C. Porto, escapando assim a tornar-se no eterno suplente do Américo, como viria a acontecer com o Rui.
Da “escola matosinhense” saiu o discreto Rosas. Uma vida dedicada ao “seu” Leixões.
Mesmo sem ser em época natalícia, o alto e esguio Filhó defendia com mestria o “time” do Olhanense.
Presença notável na “Briosa de todos nós” era a do Dr. Maló, o mais elegante “keeper” da época.
Aquele que, evidenciava mais coragem ao “sair aos pés” dos avançados chamava-se Vital e jogou no Lusitano de Évora e no V. Setúbal.
Um raro apelido, morava em Aveiro. Era o Violas, discreto guarda-redes do Beira-Mar.
Em terras do Sado e mais tarde no “Os Beleneneses” vi actuar o elástico Mourinho.
Na margem sul e nos “leões da Serra”, pontificavam os “gigantes” José Maria e Rita, respectivamente, na C.U.F. e no Sporting da Covilhã.
Dos outros, que não vi actuar, por pertencerem a gerações anteriores, fui construindo “lembranças” ao longo da vida, de tanto ouvir evocar e elogiar as suas qualidades.
Lamento, sinceramente, nunca ter presenciado actuações do grande João Azevedo, bem como do seu sucessor, no Sporting C.P. e na selecção nacional, Carlos Gomes. Também não cheguei a tempo de ver o Barrigana, "mãos de ferro" defender as balizas do F.C. Porto e do Cesário as do Sp. Braga. Do Ernesto do Atlético e do Sebastião do Estoril e Vitória de Guimarães. Do Capela campeão em 45/46 pelo “Os Belenenses”, e mais tarde "estudante" em Coimbra. Do Acúrcio, dividido entre o futebol e o hóquei em patins. E tantos outros que marcaram e dignificaram o futebol português.
Contudo, tive ainda o privilégio de ver defender a baliza do Atlético, clube do “meu bairro”, guarda-redes de inegável valor, como o Ramin, o Pinho e o Bastos, embora já veteranos, depois de brilhantes carreiras, respectivamente, na Académica, no F.C. Porto e no Benfica.
Por último, gostaria de recordar os dois mais categorizados e "marcantes" guarda-redes da época, Costa Pereira e Carvalho, internacionais portugueses, que permaneceram mais que uma década ao serviço dos rivais lisboetas.
Mais tarde, José Henrique, Damas, Bento e Vítor Baía, marcariam novas gerações de guarda-redes do futebol português.

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