domingo, 3 de fevereiro de 2008

Mercado de Inverno ou Mercado de Inferno?


Distantes vão os tempos em que, com a abertura do mercado de Inverno e a entrada de André Cruz, Mpenza e César Prates, o Sporting de Augusto Inácio, conquistava o título nacional, após 18 anos de jejum.
Presentemente, com o plantel sportinguista traçado à imagem do seu técnico, são evidentes algumas lacunas, quer ao nível de opções tácticas quer em termos técnicos, que impedem o clube de disputar os lugares cimeiros das provas em que está inserido. De facto, por muito que a equipa técnica anuncie a existência de um "Plano B", o certo é que, o quadro de futebolistas encontra-se condicionado à utilização, quase exclusiva, da táctica do losango (Plano A) não se deslumbrando outras alternativas, face às características dos jogadores disponíveis. Uma análise simplista ao quadro de futebolistas, à disposição de Paulo Bento, permite ao adepto mais atento, chegar à mesma conclusão.
De facto, não será a falta de capacidade dos guarda-redes que impedirá o Sporting de chegar ao título nacional. Para além da meritória disponibilidade de Tiago para desempenhar o papel de terceiro guarda-redes, existem, dois “keepers” jovens, de grande qualidade e futuro. Rui Patrício e Stojkovic dão garantias mais que suficientes de que a baliza do Sporting se encontra em boas mãos. Compreensível tem sido, também, a opção de Paulo Bento ao entregar a titularidade à jovem esperança portuguesa, “dando baliza”, ao guardião menos rotinado, em detrimento da maior experiência e maturidade do internacional sérvio.
Nas faixas laterais, da defensiva, denotam-se alguns desequilíbrios técnicos que o mercado de Inverno deveria ter colmatado. No lado direito, Abel é, provavelmente, o futebolista que interpreta com mais eficácia a táctica do “losango”, que o “mister” tenta impor. Rápido sobre a bola, com forte sentido de marcação e grande pendor ofensivo tem justificado a chamada à selecção nacional. O seu suplente, natural, Pedro Silva, só agora “está a chegar”, depois de ter sofrido grave lesão que o impediu de lutar pelo lugar. Atendendo à forma que Abel tem vindo a patentear, dificilmente o brasileiro lhe “roubará” a posição. Pereirinha após exibição “soberba” frente ao FC Porto, numa adaptação forçada ao lado direito da defesa, espreita a oportunidade de se afirmar, na “asa direita” da equipa. Devido à sua juventude não seria descabido equacionar-se a hipótese de, na próxima época, “rodar” num clube da primeira Liga.
Depois da imprevisível saída de Rodrigo Tello, o clube não mais encontrou um “back” esquerdo que, desempenhe a tarefa, em termos ofensivos, de forma idêntica à de Abel, no lado oposto. As escolhas não têm sido as mais acertadas e a aposta, constante, em Ronny não tem trazido os resultados esperados. O brasileiro parece ser um jogador sem futuro na equipa leonina. Sem “chama”, lento na recuperação e sem saber colocar o seu forte pontapé, dificilmente atingirá uma bitola elevada, pois a sua margem de progressão tem sido diminuta. Já Marian Had não tem tido muitas oportunidades para se mostrar, ora devido a lesões ora por opção técnica, o certo é que o internacional eslovaco não se tem conseguido impor, nem justificar futura permanência no clube. Espera-se que, o argentino Grimi, venha proporcionar a necessária concorrência ao flanco esquerdo se, eventualmente, não acusar em demasia a falta de “rodagem” e ausência de jogos, após ter perdido, há cerca de dois meses, a efectividade no Siena.
Na zona central da defesa, Tonel tem-se mostrado um jogador esforçado, com grande carácter e entrega ao jogo, mas denotando, aqui e além, algumas carências técnicas que fazem dele “apenas” um bom jogador. Pela importância da posição que ocupa, no terreno de jogo, talvez se exigisse a presença de um profissional mais categorizado no lugar. Categoria é aquilo que não falta ao seu companheiro do lado. Não é por acaso que Anderson Polga é o único campeão do mundo, a jogar em Portugal. Estamos em presença de um futebolista que “aparece” sempre nos grandes jogos, onde os poros da sua pele parecem expelir, para além do suor, classe pura. Por vezes, torna-se confrangedor ver algumas das suas intervenções perderem eficácia só por se encontrar menos bem acompanhado, no sector.
Como substitutos da zona central da defensiva, o Sporting dispõe de Gladstone, possante internacional brasileiro, raramente utilizado e que, talvez por isso ainda não tenha mostrado todo o potencial que “seduziu” Dunga, quando o convocou para a “selecção canarinho”. O jovem Paulo Renato, encontra-se em fase de aprendizagem.
Não é novidade que, o esquema táctico escolhido por Paulo Bento privilegia o quarteto do meio-campo. De facto é no centro do terreno que se encontra o “coração do losango” e onde se “pauta” e “balança” o jogo da equipa.
O jovem Miguel Veloso, devido à sua polivalência, personifica o “trinco” moderno, o médio “box to box”, tendo conquistado com todo o mérito lugar na equipa e na selecção. Está a sofrer as consequências da fase menos conseguida que o Sporting atravessa, embora a sua condição física não pareça ser a ideal. Dificilmente, o clube de Alvalade o conseguirá manter no plantel, na próxima temporada. Voos mais altos se avizinham.
Jogador com grande margem de progressão a quem se augura, também, grande futuro, é sem dúvida Adrien, natural sucessor de Veloso. Mais um jovem saído da Academia de Alcochete que, nas poucas oportunidades concedidas, já mostrou uma maturidade pouco habitual para a sua idade. Com elevado sentido de marcação, denota um invulgar poder de compensação e de preenchimento dos espaços vazios. Tem jogado pouco para o potencial que encerra.
Portador de uma maturidade precoce, o capitão João Moutinho é um predestinado. Está a ser penalizado, devido ao sistema táctico a que tem de se sujeitar, não só pelo desgaste que provocam as constantes adaptações a diferentes posições mas, principalmente, pela obrigatoriedade de ter de “cair” nos flancos, o que, atendendo às suas características, não potencia o seu rendimento, atrasando a sua total afirmação e a conquista de lugar cativo com a camisola das quinas.
No lado esquerdo do losango, debuta o impetuoso esquerdino Vukcevic. Futebolista de invulgar poder físico. A falta de clarividência, por vezes revelada, é compensada pelo empenho e a determinação que fazem dele a grande revelação leonina da época. Senhor de remate espontâneo, o técnico tem-no utilizado no centro do terreno como complemento de Liedson, de forma a colmatar as ausências, motivadas pelas lesões, dos avançados.
Embora não sendo um flanquedor nato, Izmailov faz assistências primorosas, tendo-se adaptado com relativa facilidade ao estilo de futebol praticado em Portugal e, particularmente, ao esquema preferido do seu treinador. O internacional russo não engana. Sendo um futebolista jovem, ainda em fase de crescimento, revela já alguma experiência e maturidade. Com invulgar poder de arranque e uma apreciável capacidade técnica cria perigosos desequilíbrios nas defensivas contrárias, privilegiando a qualidade de passe e o remate tenso e colocado. Vaticina-se futuro risonho.
Uma das fortes carências do actual plantel sportinguista, é sem dúvida a ausência de um nº 10 capaz de, com mestria, cadenciar o “ritmo de jogo” e visar a baliza contrária, com remates de “meia-distância”. Decididamente, Romagnoli não possui as qualidades necessárias para desempenhar esta função, com o mínimo de exigência. Jogador que, frequentemente, “passa ao lado do jogo”, não mostra futebol que justifique a titularidade numa equipa com as aspirações do Sporting. Estranha-se a falta de perspicácia da SAD sportinguista, quando se decidiu pela aquisição do seu “passe”, depois de uma época deveras inconstante. Celsinho, contratado para “fazer sombra” ao argentino não tem conseguido impor-se. O jovem futebolista, embora pareça frágil fisicamente, sempre que tem sido chamado à equipa principal, tem evidenciado alguns pormenores técnicos interessantes mas não suficientes para justificar a presença na equipa. Provavelmente, o seu futuro não passará por Alvalade.
A vinda de futebolistas a “custo zero” não pode, de forma alguma, justificar a presença de jogadores com as características e carências técnicas evidenciadas quer por Farnerud quer por Purovic. A presença de jogadores cuja capacidade demonstrada se situa muito aquém do desejado, contribui para o enfraquecimento do plantel. Se, por um lado, impedem a afirmação de jovens promessas que acabam por abandonar o clube, por outro ocupam, física e financeiramente, lugares que, objectivamente, deveriam ser preenchidos por elementos que fizessem concorrência “feroz” aos habituais titulares.
Se existe jogador, que não colhe benefícios com a táctica adopta por Paulo Bento, é sem dúvida Liedson. O rematador que, habitou os adeptos leoninos a lutar pela Bola de Prata, encontra-se nitidamente afastado dos golos. Muito condicionado, em termos de ocupação de espaços, não tem encontrado as soluções nem o engenho necessários para aplicar o seu remate “mortal”. De facto, o brasileiro pouco “resolve”, e a culpa não é só dele.
Contratado no início da época para fazer dupla com Liedson, Derlei foi “atirado” para a mesa de operações com uma lesão gravíssima, que o tem impedido de dar o seu contributo à equipa. Em final de carreira e já acusando algum desgaste competitivo, o “ex-ninja” dificilmente poderá vir a ser a “grande muleta” de Liedson. De facto, após ausência prolongada, com falta de ritmo competitivo e de “rotinas de jogo”, não se espera que o jogador possa alterar, substancialmente, o panorama atacante da equipa, tornando-o mais agressivo e concretizador.
Frágil fisicamente, Yannick Djaló faz da velocidade a sua principal “arma”. Muito atreito a lesões, a presente época não lhe vai deixar saudades. Jogador vocacionado para o contra-ataque, dificilmente conseguirá a titularidade na equipa sportinguista, uma vez que o sistema táctico implantado privilegia a presença de dois avançados nas proximidades da área contrária.
Luís Paez é um jovem ponta-de-lança com boa estampa física e transportando, em si, a técnica de execução sul-americana. O paraguaio, em fase futebolisticamente embrionária, só apareceu na ribalta da I Liga devido à onda de lesões que afectou o plantel leonino, nomeadamente, no centro do ataque.
Da apreciação individual se concluirá que, a manter a táctica habitualmente utilizada (losango) o mercado de Inverno deveria proporcionar a aquisição de um ponta-de-lança (Rodrigo Tiuí), de um defesa-esquerdo (Leandro Grimi) e de um médio-atacante-centro (nº 10).
Se, ao invés, fosse escolhido o alternativo “Plano B” e a aposta num sistema táctico baseado num 4-3-3 ou 4-4-2, então, as lacunas a preencher compreenderiam, para além do defesa-esquerdo, dois médios-ala.
Oxalá as contratações não favoreçam o aparecimento dos habituais “barretes” ou “pernas-de-pau” vindos a “custo zero” que, no mínimo, transformariam o mercado de Inverno em mercado de Inferno.

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